Um dos grandes desafios da medicina atual, o tratamento da obesidade e suas agravantes, vem recebendo de um grupo de médicos brasileiros contribuição relevante na sua terapêutica. O estudo, coordenado pelo cirurgião Carlos Schiavon, foi elaborado com o objetivo de demonstrar a eficácia da cirurgia bariátrica para tratar a hipertensão associada à obesidade.
Dados consistentes da pesquisa já revelaram que 80% dos pacientes hipertensos submetidos a esse tipo de intervenção conseguiram reduzir o número de medicações diárias. A pesquisa, em andamento no Instituto de Pesquisa do Hospital do Coração em São Paulo, tem denominação oficial de Estudo GATEWAY.
Novos dados sobre o estudo serão publicados na Edição de Março da revista Hypertension. Neste mesmo fascículo, um editorial sobre o artigo, a conhecida cirurgia bariátrica, recebeu o nome de Cirurgia cardiometabólica, demonstrando a importância deste tratamento nas doenças metabólicas e cardiológicas.
Nos próximos meses, o estudo e os novos dados serão apresentados no 4th World Congress on Interventional Therapies for Type 2 Diabetes (wcitd.com), em Nova Iorque, em abril. Também em abril será apresentado no VIII Congreso LatinoAmericano IFSOLAC19 (www.ifsolac2019argentina.com), em Buenos Aires, e em maio será debatido no Brasil, durante o Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica da SBCBM (www.congressobariatrica.com.br), em Curitiba (PR). Recentemente, alguns pontos importantes desse trabalho foram mostrados num evento exclusivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica para uma platéia formada exclusivamente por médicos especializados no tema.
“Em torno de 25% da população mundial, incluindo a brasileira, tem hipertensão. Se pensarmos que metade da população está acima do peso no Brasil, teremos 25 milhões de pessoas hipertensas e acima do seu peso ideal. Dentre estes 25 milhões, temos os pacientes com obesidade nos seus vários graus. Estes pacientes representam um grande desafio para os cardiologistas, que se deparam com um paciente que frequentemente necessita de várias medicações para o controle da sua pressão arterial. Foi para estes pacientes que elaboramos o estudo, pioneiro nesta área”, detalhou Schiavon.
O estudo avaliou 100 pacientes divididos em dois grupos: um que fez a cirurgia bariátrica e outro submetido apenas ao tratamento clínico. A proposta é acompanhar todos os pacientes por cinco anos. Os resultados do primeiro ano, publicados na Revista Circulation, mostraram dados interessantes e um dos mais importantes foi que metade dos pacientes operados conseguiram manter a pressão controlada (abaixo de 140 X 90 mm Hg) sem medicações, sendo que todos entraram no estudo tomando no mínimo dois anti-hipertensivos em doses máximas.
As informações que serão publicadas em março envolvem o detalhamento de dados de Monitorização Ambulatorial de Pressão Arterial (MAPA), exame que mede a pressão do paciente por 24 horas ininterruptas e a análise da incidência de hipertensão resistente. Esta última é aquela que exige administração de múltiplas drogas para seu controle. Todos os pacientes que foram operados e tinham hipertensão resistente conseguiram reduzir o número de medicações e deixaram de ter o diagnóstico de resistente com impacto direto na diminuição do seu risco cardio-vascular.