Recentemente, um artigo com mais de 330 mil compartilhamentos no Facebook ganhou destaque na mídia. O conteúdo, que chamou atenção e preocupou oncologistas, anunciava a cura do câncer. Mais uma Fake news. A proliferação de falsos tratamentos ganha espaço cada vez maior na internet e coloca em risco a saúde pública. Só neste ano já foram listadas 14 notícias infundadas sobre o câncer que circularam via Whatsapp. O levantamento foi publicado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA).
“As fake news sobre tratamentos alternativos, sem comprovação científica, com promessas de cura para o câncer e muitas outras doenças, invadem nossas telas em anúncios tentadores e extremamente perigosos. Elas iludem pessoas já fragilizadas que, muitas vezes, abandonam o tratamento convencional colocando em risco a própria vida”, alerta o psiquiatra Edoardo Vattimo, conselheiro e coordenador de Comunicação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
No caso do diabetes, por exemplo, existem promessas de cura atreladas ao consumo de abacate e até o chá de moringa. Porém, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, não é recomendada a substituição de medicamentos prescritos por médicos especialistas por fitoterápicos, compostos ou alimentos como estratégia de controle glicêmico. Para o controle do diabetes, é importante que o paciente mantenha a orientação médica e adequada a seu estilo de vida, além de uma dieta saudável.
Os alimentos podem auxiliar no controle da glicemia. Comer carboidratos de menor índice glicêmico, por exemplo, faz parte da recomendação médica. O perigo está nos ‘tratamentos’ baseados exclusivamente em sucos e outros compostos, que não consideram o metabolismo dos carboidratos, justamente o problema central do diabetes. “Estes pseudotratamentos podem ser baseados numa premissa falsa e não no que importa, que é o mecanismo da doença em questão. Esse mecanismo, que chamamos de fisiopatologia, deveria guiar tratamentos específicos”, esclarece Edoardo.
Existe também uma oferta gigantesca de tratamentos e compostos para emagrecimento. Este tipo de propaganda pode soar menos perigosa, mas não é. Se tomarmos como exemplo a ingestão (automedicação) de chás fitoterápicos desmedidamente – parte da população ignora que ‘plantas que curam’ são remédios também –, estes podem causar diversas reações, como a hepatite medicamentosa.
“Compostos naturais podem originar tratamentos, mas somente após pesquisas com metodologia rigorosa. O maior exemplo disso é a descoberta da farmacologista e educadora chinesa, Tu Youyou, Prêmio Nobel de Medicina, que desenvolveu combate mais eficaz contra a malária resistente à cloroquina, a artemisina. Ela conhecia a medicina chinesa, as ervas, mas as levou ao laboratório, isolou o composto, o modificou e o testou nos pacientes. Esse é o processo correto”, explica Edoardo.
Para o psiquiatra, ao mesmo tempo em que o mundo virtual nos oferece acesso amplo a uma infinidade de informações, ele também abre portas para a conduta criminosa de falsos especialistas que se valem do desespero das pessoas. Muitas acreditam em curas para doenças complexas por meio de chás, frutas, compostos, modulação hormonal, e uma incontável quantidade de ‘soluções’, sem qualquer orientação médica e/ou respaldo científico.
Para Edoardo, os falsos tratamentos que envolvem hormônios estão entre os mais perigosos, uma vez que podem agravar quadros de câncer, como próstata e mama. “É gravíssimo. Pior que tomar um suco. É ofertar algo que pode matar um paciente, pois alimenta justamente o mecanismo envolvido nessas doenças. Alguns hormônios estão envolvidos justamente nos fenômenos que levam ao surgimento de tumores, como de mama e de próstata. Se o indivíduo faz uso de hormônios prescritos, ele, na verdade, está “alimentando” o tumor e piorando a doença, que pode matá-lo”, alerta.
Checagem
Para confirmar os dados de um profissional, o conselheiro orienta ainda a população a se informar, previamente, antes de uma consulta ou qualquer outro procedimento médico, por meio do site www.cremesp.org.br ou pelo telefone (11) 4349-9900. “É importante estar atento, sempre. Em uma consulta vale uma conversa franca com o médico para tirar dúvidas sobre as informações de saúde e tratamentos que circulam nas redes sociais”, conclui.
Caso a pessoa receba uma notícia sobre tratamento ou cura sem comprovação científica e com potencial enganoso em suas redes sociais, também pode contatar o Ministério da Saúde para a checagem das informações pelo número: (61) 99289-4640.