O cuidado com o coração está entrando em uma nova era no Brasil. Médicos do Hospital Israelita Albert Einstein começaram a realizar os primeiros procedimentos para desobstrução de artérias coronárias executados por um robô e não diretamente pelas mãos humanas. É a primeira vez em todo o hemisfério Sul que a angioplastia robótica – o nome técnico do método – é aplicada. Até agora, nove pacientes foram tratados. Todos passam bem.
O uso de um robô para desobstruir as coronárias representa uma evolução da angioplastia convencional, um procedimento realizado manualmente há décadas com extrema eficácia para tratar a doença coronariana. Por meio de cateteres, os médicos conseguem tirar as obstruções por placas de gordura que podem levar a infartos do miocárdio. A diferença, agora, é que a condução dos cateteres por dentro dos vasos é feita pelos braços do robô e não mais diretamente pelas mãos do médico intervencionista. O profissional coordena o trabalho do robô do lado de fora da sala do procedimento por meio do manejo de comandos instalados em um painel. O sistema também permite a visualização perfeita do caminho a ser percorrido até que os cateteres cheguem ao ponto desejado.
A intervenção traz vantagens em relação ao controle manual dos cateteres. O médico pode realizar todo o procedimento de forma mais confortável, sentado, sem a necessidade de usar o avental de chumbo para protegê-lo da radiação. O conforto do profissional, além de beneficiá-lo diretamente, resulta também em procedimentos com maior chance de sucesso para o paciente. “O médico está mais descansado para realizar as intervenções. Por vezes, passamos até três horas em pé, com os aventais de chumbo, fazendo a angioplastia”, explica Pedro Lemos, coordenador da Cardiologia Intervencionista do Hospital Israelita Albert Einstein.
A precisão permitida pelo robô também pode resultar na necessidade de colocação de menor quantidade de stents (artefatos colocados nos pontos de obstrução para abrir e manter as artérias abertas para a passagem do fluxo sanguíneo). Isso porque o sistema possibilita a medição exata da extensão das lesões, o que não é possível pelo meio tradicional. A informação é usada para calcular quantos stents de fato serão necessários, sem que haja desperdícios. “Os estudos feitos até agora mostram uma redução de cerca de 10% no número de stents colocados”, afirma Marcelo Franken, gerente médico da Cardiologia do Hospital Israelita Albert Einstein. Para o paciente, além de ser submetido a um procedimento mais seguro, ele também recebe menor quantidade de contraste.
A utilização do robô está sendo feita de forma experimental, através de um projeto de pesquisa feita com o apoio do Ministério da Saúde no contexto do Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde). A meta é testar a segurança do sistema e, posteriormente, examinar o custo-benefício para eventual implantação na rede pública de saúde. Nessa primeira fase, passarão pelo procedimento entre 80 e 90 pacientes. Em alguns países europeus e nos Estados Unidos, o equipamento já é usado cotidianamente.
O método pode ser utilizado em qualquer paciente com doença coronariana que exija a desobstrução via angioplastia. Porém, ele é particularmente uma boa opção para casos mais complexos, como os caracterizados pela existência de vários pontos de obstrução ou locais de difícil acesso e artérias mais tortuosas. No futuro, há a possibilidade de uso para o tratamento de outros problemas, como obstruções localizadas nas pernas, vasos entupidos responsáveis por acidente vascular isquêmico ou até mesmo em alguns casos de câncer.