No Dia Internacional dos Povos Indígenas, o Hospital Bom Pastor é referência para o atendimento de 54 aldeias na região de Guajará-Mirim, em Rondônia, levando assistência médica humanizada para uma população de 6,2 mil indígenas no país.
Em todo o território nacional, geralmente vivendo em locais de difícil acesso, estima-se que existam 890 mil índios, divididos em mais de 200 etnias, de acordo com censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010.
Vencer o desafio da distância para levar serviços de saúde à população indígena, respeitando sua cultura, pode ser uma conduta mais forte do que simplesmente cumprir um direito, mas uma missão social relevante.
A cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia, no Norte do país, é uma das áreas no Brasil onde os índios estão presentes. Neste cenário está inserido o Hospital Bom Pastor (HBP), unidade de referência para 54 aldeias da região, das quais cerca de 90% só é acessível por meio fluvial.
Falando a mesma língua dos índios
Essas aldeias, juntas, concentra uma população com cerca de 6,2 mil indígenas, que possuem características culturais próprias.
Mas quando precisam de atendimento médico, o Bom Pastor é a referência para esta população. O hospital é uma unidade pertencente à Pró-Saúde, uma das maiores e mais antigas instituições filantrópicas do País.
Na sexta-feira (9), quando aconteceu o Dia Internacional dos Povos Indígenas, o Bom Pastor é um exemplo de como oferecer atendimento em saúde, respeitando as diferenças culturais e mantendo o interesse de médicos em atuar em uma região distante de centros comerciais. Qual, afinal, é o segredo do hospital?
“O Bom Pastor oferece recursos específicos, com profissional técnico em Enfermagem indígena, com fluência no dialeto para facilitar a comunicação, servindo também como intérprete e proporcionando respeito à cultura”, conta Geraldo Elvio Fonseca, diretor do hospital. Um esforço contínuo que faz a unidade vencer inúmeros desafios para manter sua missão.
Um hospital adaptado a cultura indígena
O serviço de nutrição passou por aperfeiçoamentos para oferecer uma dieta voltada aos hábitos alimentares indígenas, além da implantação de uma horta medicinal, para atender a cultura das aldeias com tratamento fitoterápico.
A unidade também conta com outras adaptações especialmente para acolhimento dos índios, como instalação de redes nas enfermarias, horário livre para visita e a permissão para mais de um acompanhante, quando liberado pelo médico e enfermeiros.
“Podemos destacar ainda o ambiente com uma oca indígena, construída para humanizar o atendimento dos pacientes e visitantes, buscando trazer para dentro do hospital um local próximo do vivido nas aldeias”, complementa o diretor.
Mais partos naturais do que a média nacional
De acordo com dados do Hospital Bom Pastor, cerca de 40% do atendimento prestado na unidade é voltado população indígena. O índice obtido permite traçar características mais relevantes das necessidades deste público. Na pediatria, a maioria dos pacientes busca assistência para problemas gastrointestinais, respiratórios, desnutrição e também para tratar picada de cobra e de animais peçonhentos.
Em relação à clínica-geral para adultos, a maioria busca auxílio em decorrência de problemas respiratórios, diarreicos e desnutrição. “São problemas diretamente relacionados com os hábitos de vida nas aldeias e dentro da floresta”, destaca Geraldo.
Outra característica da unidade: cerca de 70% dos partos realizados são normais. Esses números revelam uma situação melhor do que a média nacional, uma vez que dados do Ministério da Saúde apontam que dos 2,7 milhões de partos realizados no país, em 2017, no serviço público de saúde, 41,9% foram cesarianas. Mais um detalhe: a unidade é a única maternidade do município, por isso, todas as gestantes são diretamente encaminhadas ao Bom Pastor.
Uma história com mais de 60 anos
O Hospital Bom Pastor foi fundado pela Diocese de Guajará-Mirim, na década de 1960, para atender as famílias carentes do município e região, sobretudo trabalhadores seringueiros e povos indígenas.
Devido às dificuldades financeiras que inviabilizavam a continuidade do funcionamento do hospital e preocupado com as mulheres grávidas e com os indígenas, o presidente da entidade mantenedora do Bom Pastor à época, o bispo Emérito de Guajará-Mirim, Dom Geraldo João Paulo Roger Verdier, decidiu transferir a gestão do Hospital para a Pró-Saúde, em outubro de 2011, assegurando a continuidade do atendimento para as gestantes e população indígena.
Com a experiência vivida no local, desde a sua inauguração, os principais desafios estão relacionados à cultura e hábitos de vida. Os mais relevantes são a diferença na língua, já que há uma variedade de dialetos que dificulta a comunicação, e a compreensão por parte dos pacientes indígenas em relação ao tratamento proposto.
A unidade está localizada na Avenida Pimenta Bueno, 663, no Centro de Guajará-Mirim, fronteira com a Bolívia. A unidade presta atendimento gratuito via Sistema Único de Saúde (SUS), mediante contrato com o município.
Para visualizar essa história e sua importância, assista ao vídeo: