Ao valorizar as dimensões emocional, social e espiritual, além da dimensão biológica, a medicina paliativa viabiliza assistência humana individualizada. Troca o tratar pelo cuidar. E, através de equipe multiprofissional, dá o suporte de que o paciente e seus familiares necessitam.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), essa abordagem melhora a qualidade de vida dos pacientes (adultos e crianças) e suas famílias, que enfrentam problemas associados a doenças que ameaçam a vida, e previne a alivia o sofrimento através da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais. (OMS, 2017)
Os cuidados paliativos se baseiam em princípios e não em protocolos:
1. Promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis
2. Afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal da vida
3. Não acelerar nem adiar a morte
4. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado do paciente
5. Oferecer um sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente quanto possível até o momento da morte
6. Oferecer um sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente a enfrentar o luto
7. Garantir abordagem multiprofissional para focar nas necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto
8. Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença
9. Implementá-lo o mais precocemente possível, juntamente com outras medidas terapêuticas
Os princípios da medicina paliativa orientam que o idoso receba uma assistência que respeite sua autonomia e sua dignidade. Respeitando os limites da vida humana, a adoção ou não dos procedimentos, tanto diagnósticos quanto terapêuticos, é decidida de forma compartilhada, levando em conta o prognóstico, a expectativa de vida, a funcionalidade e as preferências do idoso. Esses cuidados buscam o conforto físico, emocional e espiritual. São centrados na unidade paciente/família, respeitando suas preferências, através de tomada de decisões compartilhadas. Isso exige aguçadas habilidades de comunicação. Devem ser executados por equipe multiprofissional com abordagem transdisciplinar, já que cada membro da equipe contribui com seu parecer e, respeitando os costumes e valores das pessoas envolvidas, busca-se adotar procedimentos diagnósticos e terapêuticos que respondam às necessidades pontuais, tendo a dignidade humana como referencial maior.
O cuidado com o cuidador, principalmente familiar, é uma das prioridades nos cuidados paliativos. O ambiente onde o idoso passa seus últimos momentos de vida deve:
1. Oferecer paz / harmonia
2. Possibilitar a presença dos seus entes queridos
4. Contar com a atenção de uma equipe de profissionais capacitada para essa modalidade de assistência
5. Disponibilizar recursos que garantam o mínimo de sofrimento e o máximo de dignidade
6. Oferecer suporte aos familiares
Ao se identificar o processo de morte, os profissionais da saúde devem intensificar os cuidados, buscando propiciar o mínimo de sofrimento e o máximo de dignidade, tanto ao paciente, quanto aos seus familiares. Assumir a postura de ouvinte e valorizar o silêncio são atitudes fundamentais.
A Diretiva Antecipada da Vontade é um valioso instrumento, pois garante que a vontade do paciente seja atendida. Nele, a pessoa descreve, o mais detalhadamente possível, suas preferências e desejos e, principalmente, sobre como gostaria que fosse conduzida sua assistência quando na situação de incurabilidade/terminalidade. Esse documento deve ser redigido com tranquilidade e sob orientação de profissionais de confiança preparados para tal. A família deve estar ciente e os profissionais que assistem essa fase de vida devem respeitar as decisões declaradas pelo paciente.
Celebrar a morte faz-se necessário. Entre tantas necessidades, o morrer exige presença, diálogo, generosidade, compaixão, sinceridade e transparência. A velhice é a mais longa e a última fase da vida humana. A morte faz parte da vida e não pode ser um segredo — as pessoas morrem, não evaporam. O cuidado com esse momento é fundamental.
Morte tranquila é aquela em que a dor e os demais sofrimentos são minimizados por paliação adequada, na qual os pacientes não são abandonados ou negligenciados, na qual os cuidados com aqueles que não vão sobreviver são avaliados tão importantes como aqueles que são dispensados a quem irá sobreviver. (Hastings Ctr Report, 26:6,1996)
O Conselho Federal de Medicina (CFM), através da resolução 1.805 de 2006, orienta a postura do médico diante do paciente incurável.
Ministério da Saúde, através da Resolução Número 41 de 31/10/2018
“Os corpos são perecíveis, mas os habitantes desses corpos são eternos, indestrutíveis e impenetráveis.” Bhagavad Gita (texto religioso hindu do século IV antes de Cristo)
“Quanto mais jovem e primitiva é uma pessoa, mais ela acredita que a vida seja material e exista tão somente no corpo. Quanto mais velha e sábia uma pessoa se torna, mais ela compreende que toda a vida se origina do espírito.” Liev Tolstói — escritor russo, 1828-1010
“É preciso o equilíbrio entre o conhecimento científico e o humanismo para resgatar a dignidade da vida e a possibilidade de morrer em paz.”
Dalva Yukie Matsumoto
José Mário Tupiná Machado é um dos mais conceituados nomes do país na área da gerontologia, tendo realizado cursos e palestras por todo o Brasil. Graduado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Dr. Tupiná é especialista em Geriatria e Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e pela Associação Médica Brasileira e Doutor em Gerontologia Biomédica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Atualmente é professor adjunto de Geriatria da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e, ainda, chefe do Serviço de Geriatria e da residência da especialidade na Santa Casa de Curitiba