A área de Ensino, Pesquisa e Inovação da APAE de São Paulo promoveu, entre os dias 19 e 20 de setembro, o I Seminário Internacional sobre o Envelhecimento da Pessoa com Deficiência Intelectual. O evento foi realizado no Memorial da América Latina, em São Paulo, e trouxe diversos palestrantes brasileiros e de países como EUA e Espanha, com o objetivo de discutir as demandas apresentadas pelas pessoas com deficiência intelectual em processo de envelhecimento.
O grande destaque foi a discussão sobre os desafios de se envelhecer com deficiência intelectual no Brasil. De acordo com Leila Castro, especialista em Envelhecimento da área de Ensino e Pesquisa e Inovação da APAE, as pessoas com deficiência intelectual estão vivendo mais e com melhor qualidade de vida, em razão, principalmente, das políticas de inclusão social e do acesso a terapias de estimulação e habilitação empregadas ao longo da vida dessas pessoas. “Com o aumento da longevidade, é preciso que se criem políticas de acesso à saúde e de apoio às pessoas com deficiência intelectual e à sua rede de cuidadores, que inclui família, cuidadores e a comunidade”, diz.
A abertura do seminário contou com palestra da norte-americana Tamar Heller, da Universidade Illinois, de Chicago. Ela apresentou uma discussão sobre o Envelhecimento saudável em adultos com deficiência intelectual. Segundo ela, é necessário que haja um planejamento centrado na vida adulta da pessoa com deficiência, levando em consideração o papel do Estado na criação de políticas públicas que garantam apoio a essas pessoas, principalmente na promoção de programas de saúde que mantenham a funcionalidade, autonomia para melhor qualidade de vida e independência dessas pessoas.
Após a apresentação de Tamar, Leila Castro moderou o Painel – Comunidade, cuidados de longa duração e desafios no envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual. O debate contou com a participação da professora Maria Eliane Catunda, com a palestra Envelhecer com deficiência intelectual, comunidade e família; Naira Lemos, da UNIFESP, com a apresentação Quem vai cuidar de quem?; o professor norte-americano da Temple University, Philip McCallion, com o estudo Projeto de vida na comunidade desenvolvido para pessoas idosas com deficiência intelectual; e novamente Tamar Heller, com a pesquisa As transições e o impacto nos ciclos de vida enfrentados por pessoas com deficiência e suas famílias. “Esse painel nos trouxe um cenário bastante importante. O que os pesquisadores nos mostram é que, muitas vezes, as famílias e a comunidade não estão preparadas para encarar os desafios de cuidar de pessoas com deficiência intelectual em processo de envelhecimento. Além disso, ainda não há garantias de que o Estado irá suprir as demandas dessa população na ausência dos pais ou cuidadores”, explica Leila. “Precisamos criar na sociedade bases mais sólidas de apoio, promoção de saúde e inclusão social das pessoas com deficiência intelectual, para que sejam mais autônomas e tenham melhor qualidade de vida. É preciso, também, que a comunidade esteja mais preparada para lidar com a deficiência”, comenta.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a parcela da população com 60 anos ou mais no país deve duplicar até 2050 e atingir a marca de 74,6 milhões pessoas. O Censo Demográfico de 2010 indica ainda que cerca de 45 milhões de pessoas apresentam algum tipo de deficiência no Brasil. Entre as pessoas com deficiência intelectual, a estimativa é de que haja 2,6 milhões de pessoas, sendo 537 mil acima dos 60 anos.
Dados do estudo multicêntrico Saúde, Bem Estar e Envelhecimento (SABE), realizado no município de São Paulo e divulgado em 2005, na Revista Brasileira de Epidemiologia, indicam que boa parte da população atual com 60 anos já demonstra níveis significativos de fragilidades em suas condições de vida e saúde, o que reforça a necessidade de prestação de cuidados contínuos e prolongados. Atualmente, porém, as famílias não conseguem suprir mais que 50% das demandas associadas a esses cuidados. Além disso, o Estado ainda não tem políticas públicas que garantam esses apoios. Em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Espanha, Portugal, Austrália, Irlanda e Reino Unido, as políticas públicas voltadas para o oferecimento de cuidados de longa duração e apoio social à população idosa são baseadas em um conjunto de responsabilidades compartilhadas entre Estado, família e sociedade.
Outros temas
O painel seguinte, comandado Yeda Duarte, doutora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), foi sobre O futuro das pesquisas em envelhecimento e deficiência intelectual. A mesa contou com a participação de Philip McCallion, com o estudo Saúde, bem-estar e inclusão social: envelhecer com deficiência na Irlanda; e Matthew Janicki, da Universidade de Illinois, com a pesquisa Sustentabilidade em centros de pesquisa em envelhecimento.
O segundo dia do seminário teve início com o painel Pesquisas desenvolvidas e contribuições no envelhecimento, comandado pela doutora e consultora técnico-científica da APAE, Laura Guilhoto. Participaram do debate os palestrantes Michel Naslavsky, com o estudo Biologia molecular e genética do envelhecimento; Orestes Forlenza, com a pesquisa Biomarcadores do envelhecimento celular e da doença de Alzheimer em indivíduos adultos e idosos com síndrome de down; Luciana Mascarenhas Fonseca, com palestra sobre a Validade e confiabilidade do CAMEX-DS para pessoas adultas com síndrome de down e deficiência intelectual no Brasil; e Janari Pedroso, que falou sobre Pesquisas sobre envelhecimento: financiamentos e possíveis articulações institucionais.
Em seguida, Karla Giacomin moderou o painel Panorama e desafios de políticas no envelhecimento. A discussão contou com apresentações de Matthew Janick, que falou sobre Políticas públicas e a sua integralidade na atenção dos cuidados à pessoa com deficiência intelectual que envelhece. Em seguida, Ana Rita de Paula apresentou estudo sobre o Marco social e legal do envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual.
O seminário contou também com a participação de Ana Amélia Camarano. Ela apresentou a pesquisa Economia do Envelhecimento e cuidados de longa duração: uma visão do envelhecimento. A palestra foi seguida do painel Mercado e tendências no envelhecimento, comandado por Willians Fiori. O debate teve palestra de Mari Zulian, sobre Tecnologias que contribuem na qualidade de vida de pessoas idosas que envelhecem com deficiência intelectual; Flavia Ranieri, que falou sobre Maneiras de morar, soluções para uma vida mais autônoma; Sérgio Duque Estrada, com estudo sobre Startups: soluções para longevidade; e Tássia Chiarelli, que apresentou o tema Oportunidades de negócios sobre envelhecimento no Brasil. A última palestra proferida por Karla Giacomin, que discorreu sobre Políticas públicas e desdobramentos para um país que envelhece.
“Com as discussões trazidas nesse seminário, poderemos, ao longo do tempo, ampliar a capacidade de apoio às pessoas com deficiência intelectual em fase de envelhecimento. Nosso objetivo é incidir na criação de políticas públicas e de alternativas que contemplem essas pessoas, as famílias, os cuidadores e a comunidade. O Brasil precisa criar soluções para promover apoio a pessoas com deficiência intelectual em processo de envelhecimento”, conclui Leila.