Dados da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) indicam que existem 172 equipes que atuam com cuidados paliativos no país. Para efeito de comparação, nos anos 2000, esse número já era 11 vezes maior nos Estados Unidos, de acordo com a entidade. Apesar dos poucos serviços atuantes, o reconhecimento da importância dessa área de atuação que trabalha com prevenção e alívio do sofrimento se reflete no crescimento do interesse e da capacitação dos profissionais de saúde. Essa abordagem oferece tratamento focado na melhora de qualidade de vida do paciente com uma doença grave, ameaçadora da vida, podendo ser crônica ou um evento grave agudo, e de sua família. Trata-se de um atendimento essencial para dar a segurança de que os valores, crenças e autonomia dos envolvidos serão respeitados.
“Os cuidados paliativos têm por princípio tratar o binômio paciente-família. Nos momentos de doenças graves e ameaçadoras da vida, a família demanda apoio com orientações práticas sobre o processo que está ocorrendo e como lidar melhor com a situação. Além disso, precisa de suporte de assistência social, psicologia e espiritual. Muitas vezes essa necessidade é estendida até o período do luto. A abordagem de cuidados paliativos é exatamente nesse sentido: orientando e apoiando a família em tudo o que precisa para passar por este processo”, afirma a médica paliativista e professora do Instituto Terzius, Dra. Cristina Terzi.
Dentre as dificuldades enfrentadas pelos familiares está a ansiedade pela falta de um plano de cuidados, ou seja, de saber e entender o que virá pela frente. “A equipe de cuidados paliativos apoia o paciente e seus parentes, para juntos, de forma compartilhada, definirem quais são as melhores opções diante de cada momento”, completa a médica. Ela acrescenta que a equipe atua ouvindo e entendendo as dúvidas e necessidades, respeitando e apoiando a cultura e individualidade de cada família e oferecendo apoio tanto de ordem física como psicológica.
Mais capacitação
De um total de 80 países, o Brasil ocupa a 42ª posição no ranking de qualidade de morte realizado pela empresa britânica Economist Intelligence Unit, atrás de Chile, Argentina, Uruguai e Equador. O estudo, divulgado em 2015 pela revista The Economist, classifica os países considerando os cuidados paliativos oferecidos à sua população. Para Cristina Terzi, é necessária a capacitação em cuidados paliativos dos profissionais da equipe multidisciplinar.
“A maioria dos médicos vai se deparar com pacientes com doenças ameaçadoras da vida em seu dia a dia. Desta forma, oncologistas, neurologistas, cardiologistas, clínicos gerais, geriatras e intensivistas são exemplos de especialistas que deveriam ter, ao menos, conhecimento básico de cuidados paliativos. A grande maioria das escolas de medicina, assim como de enfermagem, psicologia, assistência social e fonoaudiologia não têm esse tema como matéria na graduação”, afirma, ao acrescentar que algumas iniciativas já estão ocorrendo. Segundo a ANCP, o número de pessoas trabalhando com qualidade em cuidados paliativos está em crescimento – uma alta de quase 50% em dois anos.
O Instituto Terzius – centro de treinamento voltado para médicos e para profissionais da saúde fundado pelo professor emérito da Unicamp, Dr. Renato G.G. Terzi – oferece um curso de cuidados paliativos. São 24 horas de aulas que abordam desde conceitos, princípios e indicações, passando por prognósticos, planos de cuidados, comunicação, informações legais e éticas, além de questões práticas como cuidados nas últimas 48 horas, controle de sintomas, entre outras.