Em países com sistemas públicos considerados extremamente eficazes pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como Inglaterra e Canadá, o número de médicos de família e comunidade chega a 51% do total de profissionais da área. No Brasil, de acordo com a Demografia Médica, eles representam apenas 1,5%. São cerca de 5,5 mil especialistas na Atenção Primária à Saúde (APS) para mais de 44 mil unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF), ou seja, mesmo que todos estivessem atuando na rede, apenas 3,4% das equipes estariam contempladas.
Dois projetos desenvolvidos pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), em parceria com o Ministério da Saúde, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), têm como foco estabelecer esse equilíbrio. O objetivo é contribuir para a qualificação na atenção primária. Os cursos visam realizar um diagnóstico, propor soluções de apoio institucional aos Programas de Residência de Medicina e Comunidade do Brasil e formar preceptores para atuar em cursos de graduação e residência médica.
“O médico de família e comunidade pode atender mais de 80% das necessidades de saúde de um indivíduo ao longo da vida. A maior parte dos problemas pode ser resolvida na atenção primária à saúde, sem a necessidade de encaminhamento a outros especialistas”, afirma Maria Eugênia Bresolin Pinto, coordenadora de educação institucional do Hospital Moinhos de Vento.
O médico de família e comunidade
O profissional é responsável por oferecer desde a promoção da saúde (orientações para uma melhor alimentação) e prevenção (vacinação e planejamento familiar) até o tratamento de doenças agudas e infecciosas, controle de doenças crônicas, cuidados paliativos e reabilitação. São médicos especialistas em cuidar dos seus pacientes, considerando as condições de moradia e de trabalho em que eles vivem.
Por que sobram vagas nos programas de residência?
O projeto Apoio a Residência de Medicina de Família e Comunidade iniciou em 2018 e está ligado à Secretaria de Atenção Primária da Saúde (SAPS), do Ministério da Saúde. Participam do estudo residentes, ex-residentes e preceptores supervisores de 302 programas de residência, localizados em 187 municípios brasileiros, além de gestores municipais.
A pesquisa caracteriza o cenário brasileiro dos programas de residência na área para identificar os motivos pelos quais sobram vagas, enquanto em outras especialidades o número de candidatos por vaga passa de 100. “Com o diagnóstico, serão traçadas estratégias. Entregaremos ao governo federal um plano de ação a ser implementado para reverter o quadro”, explica Maria Eugênia.
Mais médicos de família
Também desenvolvido pelo Moinhos de Vento junto à SAPS, o projeto Especialização em Preceptoria busca aumentar o número médicos especialistas em Medicina de Família e Comunidade. O curso, que iniciou em 2018, formará 700 preceptores no ano que vem. “São esses médicos que acompanham a formação dos residentes. O objetivo é que os preceptores qualifiquem as residências e atraiam mais médicos para a especialização”, ressalta a pesquisadora Carmen Vera Giacobbo Daudt, líder do projeto.
O curso tem duração de dois anos e caga horária de 550 horas, na modalidade a distância.