Assim como já aconteceu em outros setores, a tecnologia vem transformando a saúde. Esse processo que vinha caminhando lentamente nos últimos anos, tomou impulso com a pandemia da Covid-19, que impôs uma série de restrições e cuidados extras para população e também para os profissionais da área. Para Vinícius Côgo Destefani, Médico na Sanar|MED e Cardiologista Intervencionista de Cardiopatias Congênitas da Sanar, a aceleração da transformação digital da saúde trará uma série de reflexões importantes para médicos e para todo o setor.
Veja abaixo as tendências para a saúde do futuro:
1- Digitalização de parte do atendimento: A jornada do usuário do serviço de saúde pode ser melhor otimizada. Muito tem se falado em ter portas de entrada digitais para o sistema de saúde via aplicativos, por exemplo. Dando mais clareza estatística e direcionamento para unidades dentro do sistema. Para ter um diagnóstico o paciente precisa ir ao médico, fazer exames em lugares diferentes, retornar, comprar medicações. É um processo penoso, custoso e pouco eficiente com vários pontos que podem falhar onerando todo o sistema. Retornos ao médico em grande parte poderiam ser online, por exemplo. É preciso enxergar o paciente como um cliente que deseja uma experiência de cuidado que deve ser satisfatória em toda a jornada, do agendamento da consulta até o pós-tratamento e acompanhamento.
2- Educação e Atualização Médica Online: Grande parte do aprendizado médico e das equipes pode ser feita no ambiente online. Os ambientes de troca de informações virtuais cresceram e provaram que a experiência de aprender pode ser muito boa no ambiente digital, superando inclusive o ambiente presencial para alguns casos. É possível mensurar a aceitação de estudantes com base no aumento na procura das plataformas da Sanar. “Em alguns casos, os estudantes relatam gostar mais das aulas online do que presenciais. O formato que combina ensino digital com experiências práticas será cada vez mais comum”, questiona Felipe Marques da Costa, Médico pneumologista, líder da equipe de pneumologia COPAN no Hospital Beneficência Portuguesa e coordenador da pós-graduação em Medicina da Sanar.
3- Inteligência Artificial no atendimento: O uso machine-learning, uma vertente da inteligência artificial, que oferece a possibilidade de identificar padrões em dados e automatizar a construção de modelos analíticos, será cada vez mais comum na medicina. As pessoas se tornaram mais receptivas pela força da necessidade do isolamento. Com a Covid-19, novos formatos de triagem de pacientes baseado em dados se tornaram cada vez mais comuns, o que ajuda a otimizar os recursos da saúde.
4- Uso do pensamento ágil para criar soluções na área de saúde: O pensamento ágil aplicado ao lean software na indústria têm sido adotado para testar soluções novas na saúde. Testar rápido, aprender, adaptar, com mínimo de custos, evitando-se o desperdício são pilares que estão sendo incorporados na saúde. Pesquisadores estão se unindo para criar coisas incríveis como ventiladores mecânicos que custam dez vezes menos. “Existia uma convicção de que tudo relacionado a saúde deveria ser extremamente complexo e caro, mas com a pandemia profissionais da saúde perceberam que existem outros caminhos”, conta Ricardo Zantieff, cirurgião geral, Professor da Universidade Federal da Bahia e Coordenador pedagógico Sanar.
5- Empoderamento do paciente: O médico deixa de ser a única autoridade em termos de conhecimento. Cada vez mais as pessoas buscam ativamente informações qualificadas sobre doenças, tratamentos, alternativas e possibilidades, há um desejo latente em compartilhar decisões com o médico(a). O paciente e seus entes queridos querem ter protagonismo no acompanhamento da doença. É ilusório achar que duas ou três consultas por ano resolvem todas as dúvidas e necessidades de alguém com uma doença crônica, por exemplo. Existe uma onda de autocuidado acontecendo. Por isso, soluções nesse caminho ganham espaço. O médico deve sempre orientar e explicar os cuidados que o paciente precisará ter ao tomar qualquer decisão com base no que vê na internet. Isso é especialmente importante nessa pandemia de fake news que vivemos.
6- Conexão emocional: O setor está entendendo de uma forma mais estruturada que entregar uma boa medicina está cada vez mais distante de somente fazer o diagnóstico e dar uma conduta, uma vez que tecnologias como a inteligência artificial, por exemplo, podem vir a fazer cada vez mais no futuro. Grande parte do valor para o paciente está na capacidade do médico(a) de se conectar com a sua realidade social, manejar suas expectativa, emoções e dar uma excelente experiência de cuidado para o indivíduo. “Entregar a parte técnica com qualidade é apenas um pré-requisito para um bom atendimento, mas não é mais uma garantia de sucesso ou adesão terapêutica”, explica Tamiris Machado, Médica e Coordenadora pedagógica Sanar.
7- Estruturas descentralizadas e compartilhadas: O cuidado com a saúde deixa de ser centralizado em grandes hospitais e instituições e se torna mais compartilhado. Existem exemplos de unidades de terapia intensivas percorrendo domicílios na Austrália com monitoramento à distância. Estruturas mais adaptáveis como os hospitais de campanha nos mostraram que é possível pensar nestes novos formatos de atendimento. Há cada vez mais uma perda de protagonismo do hospital como única unidade de cuidado e atenção à saúde. O compartilhamento de dados entre instituições e governos é outra tendência que ajuda bastante o mundo a pensar de forma integrada sobre problemas que tendem a ser globais. Criou-se uma possibilidade de reflexão colaborativa e o cenário de pandemia foi essencial para isso.
8- Uso de dados: A tendência é de que cada vez mais a medicina leva em conta a análise de dados no tratamento de pacientes e estudo de doenças. A experiência com Covid-19 mostra a importância, por exemplo, de usar dados globais para rastrear os sintomas da doença e as diferenças que apresentadas em cada país.
9- Médicos Influenciadores: Antes, o eixo da autoridade técnica estava em grande parte na mão das instituições como hospitais e faculdades. Porém, hoje está mais democratizado. Um médico(a) pode lotar seu consultório por ser uma autoridade digital e mostrar que tem expertise e conteúdo necessário. Essa autoridade compartilhada permite que os médicos (as) ganhem protagonismo pessoal e tornem-se menos dependentes das estruturas estabelecidas. Plataformas de teleconsulta tem permitido que eles voltem a ser profissionais autônomos, inclusive. Nesse contexto é importante ressaltar o peso das evidências científicas nas tomadas de decisão e a importância das lideranças ao conduzir processos decisórios do setor.
10- Conhecimento Colaborativo: Profissionais de saúde e pessoas de um modo geral vão sair da pandemia com uma perspectiva mais colaborativa no que tange ao compartilhamento de conhecimento. Isso também acelera plataformas comunitárias de trocas de informação e casos clínicos. Além de colaboração técnica que tende a ser mais acentuada, como no comportamento intensificado por pesquisadores pelo mundo para encontrar a cura da Covid-19.
“Os profissionais que enxergarem esse processo como oportunidades e menos como ameaças ao seu papel tendem a ter sucesso nesse novo mundo que vem se desenhando, garantindo excelência no atendimento das expectativas da população”, conclui Caio Nunes, Médico Radiologista e Co-founder da Sanar.