O professor e pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Daniel Soranz considera que falhas no processo de comunicação e na interpretação dos dados da epidemia prejudicam o combate à Covid-19 no Brasil. “Nesta pandemia, vemos uma bagunça generalizada na informação. Os dados são passados com interpretação muito desordenada”, afirmou Soranz, nesta quinta-feira (23), durante webinar promovido pela In Press Oficina.
O pesquisador lembrou que as tomadas de decisão durante a pandemia, como a reabertura e reorganização dos serviços, são baseadas nas informações e que o fato de alguns estados e municípios segurarem dados de notificação fez com que as informações não refletissem a realidade da proliferação da doença no país.
“No Rio de Janeiro, o pico da pandemia aconteceu em maio, com mais de mil óbitos simultâneos. Entretanto, só foi possível enxergar essa realidade retroativamente. A ausência de coordenação do Ministério da Saúde e o sistema de notificação permitiram que essa informação não chegasse a tempo da tomada de decisão”, analisa. O professor defendeu que a pasta retome o protagonismo na organização dos dados sobre a doença no país.
O webinar que debateu o tema “Saúde na era da informação: ciência de dados para a inovação na indústria e no setor público” contou também com a participação da diretora de Relações Institucionais da Sanofi, Isabela Vargas, a gerente sênior de Public Affairs da Edwards Lifesciences, Márcia Alves e a sócia-diretora da In Press Oficina e especialista em gestão de crise, imagem e reputação, Patrícia Marins .
De acordo com Patrícia Marins, conceitos fundamentais foram deixados de lado na gestão comunicacional da pandemia. “O dado é a matéria-prima da comunicação e tem papel fundamental, inclusive, para prevenir novas ondas de contaminação, acelerar tratamentos e para a identificação, de fato, dos picos e focos da doença. Entretanto, é necessária a organização da gestão de comunicação dessas informações”, defende.
Segundo ela, é fundamental que essa gestão dos dados seja feita com transparência e unidade de discurso. “A transparência com que o dado é utilizado também é fundamental. Além disso, não se faz comunicação sem unidade e, desde o começo da crise, não temos uma única narrativa. Na realidade, temos guerras de narrativas e crises geradas por essas guerras. Sem a união desses fatores no processo comunicacional, continuaremos batendo cabeça na pandemia”, garante.
ÉTICA E UNIÃO DE SETORES
Para Márcia Alves, da Edwards Lifesciences, um melhor uso da base de dados na saúde pela indústria passa pela ética e transparência. “É preciso que a indústria trabalhe dentro dos princípios da ética e compliance. Hoje, com a existência de fake news e autoridades desalinhadas na gestão da informação, o aprimoramento da comunicação é fundamental. É preciso muito trabalho para construir bases mais sólidas”, pondera.
A diretora da Sanofi, Isabela Vargas acredita que um dos pontos chave é a união entre os setores público, privado e a sociedade e destaca a transparência como o papel mais importante da indústria nesse momento.
“Os dados de saúde são extremamente sensíveis. A sociedade espera uma solução rápida e definitiva, mas enquanto ela não vem, é preciso ser o mais transparente possível para não gerar expectativas que não são reais. É preciso união em uma única na direção – a prevenção. Assim, podemos reduzir o número de casos”, conclui.