Como a pandemia mudou o dia a dia de que se doa ao voluntariado

Voluntários levam acolhimento e alegria ao hospital

Doar seu tempo, seu trabalho para quem necessita e para causas que toquem seus corações. Esse é trabalho de pessoas que são voluntárias e que têm seu dia comemorado nesta sexta-feira, dia 28 de agosto. No Centro Infantil Boldrini, referência no tratamento de câncer pediátrico e doenças hematológicas em Campinas (SP), o setor está presente desde o início de sua história. Pela primeira vez em 42 anos de trabalho, devido à pandemia do coronavírus, os corredores e salas do hospital estão mais vazios sem a presença dos homens e mulheres de jaleco azul, que caracterizam os voluntários na entidade.

Próximo de 500 voluntários se doam para o hospital no dia a dia, em várias frentes, como acolhimento da chegada das famílias, internação, acompanhamento escolar, artesanato e costura, eventos, capelania, oficinas de capacitação, recreação, na loja (Vila Boldrini) e campanhas.

Dona Amália Monteiro, conhecida carinhosamente como Dona Nena, aos 89 anos, é a voluntária mais antiga do hospital, começou logo depois de sua fundação há 42 anos. Participante do Grupo de Artesanato e Costura, ela conta que nunca ficou tanto tempo sem ir ao hospital e que, apesar dos quase cinco meses de distanciamento social, as cerca de 20 voluntárias de seu grupo deram um jeito de se adaptar à pandemia. “Somos responsáveis por toda a hotelaria do hospital, cuidando das roupas, fazemos o Chá das Xícaras, mas com o Covid não pudemos mais ir ao ateliê fazer as peças de hotelaria. Então, estamos fazendo rifas em prol do Boldrini com peças que já tínhamos produzido. Temos que ser muito gratas aos voluntários que não pararam de ajudar, se adaptando e às empresas, que seguem doando. Quando voltarmos, teremos muito trabalho”, explica.

Há 23 anos como voluntária no Boldrini, Liliane Maria Sangion Forti, hoje presidente da diretoria do voluntariado, conta que sua ligação é muito forte como hospital e lamenta o distanciamento do trabalho voluntário. “Fui fazer uma doação de brinquedos educativos dos meus filhos e quando cheguei lá, na antiga casa de apoio, fiquei tocada e entrei para a recreação da casa de apoio e nunca mais sai. São cinco meses sem ir ao hospital, a gente sente falta, mas tem que pensar em manter o local o mais protegido possível.”

Liliane explica que o trabalho dos voluntários é muito próximo dos pacientes e muito mais das famílias. “As famílias precisam ajuda, carinho e atenção e o trabalho dos voluntários é essencial durante o tratamento das crianças. Estamos trabalhando à distância. Por conta da pandemia, não tem como irmos até o hospital, mesmo porque o acolhimento é um trabalho de corpo a corpo com pacientes e familiares”, explica.

A importância do voluntariado do Centro Infantil Boldrini é tão grande, que ex-voluntários e voluntários participam na diretoria executiva. Marta Balotin é uma delas e conta que mesmo deixando de ser voluntária em uma das frentes de atuação direta com famílias e pacientes, não se desligou do hospital. “Fui voluntária por 22 anos, desde 1976. Passei 10 anos na internação e capelania como coordenadora e depois fiquei 12 anos na presidência. Deixei a presidência para entrar como voluntária na diretoria administrativa. Cheguei até o Boldrini por um desejo próprio de ajudar, me candidatei, fiz o curso e continuei. Nunca mais saí. Devido a essa experiência, consigo aliar na diretoria executiva a parte administrativa com as demandas que sei que o voluntariado tem.  É um olhar que vai além do técnico”, define.

O trabalho do voluntariado na instituição não faz falta apenas para quem o pratica. Médicos, pacientes e familiares vêm sentindo, e muito, a ausência dessas centenas de pessoas, que animam, acolhem e levam aconchego. Segundo a médica hematologista, Dra. Mônica Veríssimo, os voluntários fazem parte da alma do hospital.  “Eles nos trazem alegria, esperança. Eles fazem a ponte entre os pacientes e os profissionais da saúde. Estão sempre à disposição, no dia a dia, e nos ajudam muito no cuidado com os nossos pacientes”, avalia.

A visão da hematologista é compartilhada pela mãe Milene Pereira, que há cinco anos acompanha a filha em tratamento no Centro Infantil Boldrini. “Nós sentimos muita falta do abraço, do sorriso, do carinho. É como se a gente não encontrasse a família. O voluntário é a nossa segunda família, ele transforma o dia a dia aqui no hospital em um dia mais feliz, mais prazeroso, mais acolhedor. É muito carinho, muito amor, não só com a minha filha, mas com todos, com as famílias. Eles nos chamam pelo nome. Fico muito triste de não os ter aqui. Eu quero deixar minha gratidão e quando tudo isso acabar, vamos nos abraçar muito”, define.

Sempre comemorado com muita festa, o Dia do Voluntariado neste ano vai ser diferente no Boldrini. As homenagens, que já começaram, serão virtuais. Mas, em tempo de distanciamento social, a certeza da importância e o reconhecimento da necessidade desse trabalho tão altruísta é cada vez mais real.

Redação

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