Este mês é marcado pela conscientização sobre o câncer de mama, por meio da campanha Outubro Rosa. De um lado tem a necessidade de fazer o rastreamento e o diagnóstico desse tipo de câncer; do outro, o medo de buscar um serviço de saúde por causa de uma possível contaminação pelo novo Coronavírus. O fato é que a pandemia afetou o rastreio e o diagnóstico do câncer de mama para milhares de mulheres no país. Estimativas do Programa de Rastreamento Mamográfico do Hospital de Amor, em Barretos (SP) – que interrompeu suas atividades no dia 23 de março –, apontam que cerca de 80 mil pessoas deixaram de fazer exames em quatro meses de paralisação. O hospital já retomou as atividades com restrições, mas, segundo a dra. Silvia Sabino, responsável pelo programa, o atendimento pode levar até dois anos para ser normalizado.
“Para acomodar a fila de pacientes que se formou com a paralisação – um número estimado, até o momento, em 80 mil pessoas –, se as unidades voltassem agora em uma condição ideal de atendimento pleno, o volume de exames represados levaria de um ano e meio a dois anos para ser organizado, o que, certamente, iria interferir nos resultados do projeto de rastreamento”, afirma Silvia.
Para as dras. Ana Lúcia Kefalás e Linei Urban, radiologistas e coordenadoras da Comissão de Mama do Colégio Brasileiro de Radiologia por Imagem, é preciso tentar equilibrar o dilema entre o benefício do diagnóstico de uma doença potencialmente fatal quando não identificada e tratada adequadamente com o risco de contrair e disseminar a Covid-19.
“A decisão final de fazer um exame eletivo deve ocorrer sempre que o médico e a paciente concluírem que a equação risco versus benefício esteja apropriada, porém, tentando não extrapolar o prazo máximo de intervalo entre os exames de 18 meses”, afirmam as radiologistas.
Elas sugerem que as mulheres que apresentam sintomas de câncer de mama – como nódulo palpável, com achados suspeitos em exames prévios – ou que já estejam em estadiamento ou tratamento da doença devam prosseguir com a investigação. Biópsias de casos suspeitos e marcações pré-cirúrgicas também devem continuar.
Porém, o grande impasse está em manter os exames para as pacientes que não são consideradas urgentes. “As mulheres que estão realizando o controle de achados provavelmente benignos, sobretudo as assintomáticas, mas com risco habitual ou alto risco para o câncer de mama, devem ir às clínicas? Essa resposta é bastante complexa. E até quando podemos adiar os exames com segurança? Talvez essa resposta não exista, pois não há segurança quando adiamos a detecção de um câncer que pode ser curável em fase inicial”, argumentam as radiologistas Ana e Linei.
Por isso, elas defendem que o planejamento do retorno às atividades para a realização de exames eletivos deve levar em consideração o estado epidemiológico de cada região, além de eleger as prioridades de atendimento e estabelecer protocolos bem definidos, como aconteceu no Hospital de Amor e em suas 42 unidades espalhadas em oito estados brasileiros.