O primeiro trimestre de 2021 terá um dos maiores custos assistenciais da história da saúde suplementar devido à sobrecarga do atendimento a pacientes Covid e retomada forte de procedimentos eletivos. A análise foi feita ontem pela Diretora executiva Vera Valente, da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), durante o debate Diálogos Digitais, promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).
“Houve um aumento expressivo de cirurgias e procedimentos eletivos nos últimos meses, sendo que 70% dessa demanda não era de natureza urgente, provocando uma competição por leitos de Covid. Veio a segunda onda, e esses dois movimentos trouxeram um impacto enorme para o sistema no primeiro trimestre”, disse a executiva.
O crescimento se acentuou desde o final do ano passado e se tornou bastante acelerado no início deste ano. Em março foram emitidas 37% mais autorizações para exames e terapias do que um ano antes, no início da crise sanitária.
“Os pedidos para procedimentos eletivos são os mais numerosos desde 2019, quando não se falava em pandemia. É importante a avaliação desse contexto, analisar a situação da saúde suplementar como um filme e não como a foto de um momento apenas”.
O debate contou com a moderação de Leandro Figueira, vice-presidente da Abramed, com participação de Carlos Eduardo Gouvêa, Presidente Executivo da CBDL (Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial) e Alex Galoro, Diretor do Comitê Técnico de Análises Clínicas da Abramed e Gestor Médico do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica.
De acordo com a diretora executiva da FenaSaúde, a ampliação do rol de procedimentos é outra fonte de pressão nos custos do sistema. Durante a pandemia, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) adicionou 69 novos procedimentos às coberturas obrigatórias, incluindo medicamentos para câncer, imunobiológicos, cirurgias, exames e terapias, além de testes para Covid.
“Sabemos da importância de novas tecnologias para a saúde. Mas, em se tratando da saúde, diferentemente de outros setores da economia, elas normalmente vêm acompanhadas de aumento de custos. Esses 69 novos procedimentos que entraram no rol, em uma primeira análise, vão trazer um impacto de R$ 2,4 bilhões em custos para o sistema ao ano. Não é um custo trivial. Precisamos ter em mente que os recursos são finitos em qualquer sistema, seja ele público ou privado”, disse Valente.
Para a diretora executiva da FenaSaúde, “é preciso lembrar que na Saúde Suplementar há o conceito do mutualismo, ou seja, todos pagam para que quem precisa possa usar. Se você aumenta o custo, ele volta para o sistema. Por isso defendemos a atualização do rol e a incorporação de tecnologias, mas de forma muito criteriosa”.
No debate, Valente defendeu a complementaridade do sistema público e privado. A executiva lembrou que a saúde suplementar cuida hoje no Brasil de 48 milhões de pessoas, um país do tamanho da Espanha. Com essa abrangência, o sistema desafoga o SUS. Essa complementaridade precisa ser valorizada. A executiva defendeu ainda a necessidade de se atrair mais beneficiários para a Saúde Suplementar.
“Ao trazer o beneficiário para dentro das operadoras de planos de saúde, você desonera o SUS. E um dos caminhos possíveis nesse sentido é a ampliação dos planos individuais e empresariais. Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) apontam que metade das pessoas com carteira assinada não tem plano de saúde. E uma empresa, ao dar esse benefício, contribui com o funcionário e o país, deixando o Sistema Único de Saúde para quem precisa e depende do sistema público”.