Como nas tantas pestes que precederam esta, elas nunca vieram sós; com frequência se fizeram acompanhar da ignorância e da intolerância.
Vivemos, também no Brasil, tristes momentos de tensão e agressividade.
É deplorável ver cidadãos e colegas serem alvo de agressões, ameaças, calúnias, apenas por externarem suas convicções. A liberdade de pensamento e expressão, bem como o respeito às ideias discordantes, são essenciais às sociedades civilizadas.
A sociedade brasileira está enlutada pela perda de cerca de meio milhão de pessoas: nossos familiares, amigos, colegas e pacientes. A morte nos ronda, levando-nos todos os dias aos milhares. Este é o foco da tragédia.
Quando a solidariedade e a convergência se fazem mais necessárias, vemos a discórdia prevalecer.
Profundamente lamentável!
No Congresso Nacional, uma CPI foi criada para que, da análise dos erros encontre-se o melhor caminho. Entre os protagonistas da gestão desta crise, vários têm sido chamados a depor: médicos, ministros, militares, advogados, economistas, empresários… Outros virão. Independentemente de seus cargos, formação, independentemente de suas convicções e matizes político-ideológicas, serão tirados de suas respostas os elementos que caracterizarão erros e acertos na condução da pandemia, de sorte a, com eles definir, o melhor caminho a seguir. Entretanto, não será jamais possível lograr o esperado êxito sem ouvi-los, em ambiente de civilidade e equilíbrio. Se não lhes é dado falar livremente, se não lhes dão ouvidos, de que serve obrigá-los a depor? Para expô-los a deploráveis cenas de humilhação? Inaceitável!
Assistimos o constrangimento dos depoentes, episódios que, a repetirem-se, afastar-nos-ão da desejada solução.
Acrescentar-se-á à peste a destruição dos nossos melhores valores e da nossa própria estrutura social.
Devemos resposta aos tantos que ficaram neste caminho.
José Luiz Gomes do Amaral é presidente da Associação Paulista de Medicina (APM)