Pioneiro no Brasil, a Divisão de Medicina Nuclear do Instituto de Radiologia (InRad-HCFMUSP) passa a fazer PET-CT para o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer – que destrói de forma progressiva a memória e outras funções mentais importantes. Com o resultado das imagens é possível avaliar a deposição de proteína beta-amiloide cerebral, sem a necessidade de uma biópsia. Até então, o diagnóstico da doença era por meio de exames clínicos ou exames invasivos.
Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 1,2 milhão de brasileiros – ou seja: mais de 30% da população acima dos 85 anos – sofrem ou poderão sofrer de Alzheimer. A Associação Americana de Alzheimer e a Associação de Medicina Nuclear recomendam o exame PET-CT a pessoas com perdas cognitivas antes dos 60 anos para confirmar se existe ou não a patologia, e a idosos para os quais o método clínico tradicional não leva a uma avaliação conclusiva.
O exame PET-CT (Tomografia por Emissão de Pósitrons, na sigla em inglês) detecta a atividade metabólica das células do corpo. O paciente recebe uma aplicação por via intravenosa do composto B de Pittsburgh (um fármaco utilizado nesse tipo de procedimento), marcado com carbono-11 (um material radioativo), e com isso é possível verificar a presença no cérebro da proteína amiloide, o que permite confirmar a presença da doença quando o paciente apresenta sintomas e diagnóstico clínico já estabelecido – mas mais importante: se não for detectada a proteína, a possibilidade da doença de Alzheimer é excluída.
“Esse exame é um grande avanço da ciência, visto que o diagnóstico é feito normalmente apenas pelo quadro clínico, o que pode levar a erros em mais de 30% dos casos. Uma das opções seria pesquisar peptídeos no líquido cefalorraquidiano, o que porém é mais invasivo e pode oferecer mais efeitos colaterais, pois há necessidade de se fazer uma punção na medula. Agora podemos por meio de imagens ter um diagnóstico mais conclusivo”, diz Dr. Artur M. Coutinho, médico assistente e pesquisador do grupo de Neuroimagem Funcional da Divisão de Medicina Nuclear do InRad-HCFMUSP.
Estudo
O exame PET-CT já é feito em boa parte dos países desenvolvidos, como Estados Unidos, Europa, Japão e China. Por conta disso, pesquisadores do Hospital das Clínicas começaram a estudar em 2014 (ano) pacientes com idade acima de 60 anos, com suspeita clínica de doença de Alzheimer, comprometimento cognitivo leve e com cognição normal dos ambulatórios de neurologia e psiquiatria do HC. Os resultados mostraram particularidades que deram origem a artigos publicados em 2020 em vários periódicos de alto impacto científico.
Entre os pacientes brasileiros com baixa escolaridade, por exemplo, a deposição de proteína é maior do que em paciente com alta escolaridade, diz um dos estudos: “Isto significa que as pessoas com mais baixa escolaridade que tem a doença, tem menos proteína no cérebro. Eles precisam de menos lesão para ter Alzheimer, pois na prática possuem menor reserva cognitiva”, afirma Coutinho.
O Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas atualmente é atualmente é um dos dois únicos serviços do Brasil a disponibilizar o exame de PET-CT com este marcador amilóide.”Devido ao procedimento ser ainda muito novo, infelizmente só é possível realizar através de tabela particular, mas acreditamos que com a crescente importância e propagação do exame, no futuro o mesmo poderá ser realizado em outros centros de saúde, reduzindo seu custo e estimulando sua incorporação pelos convênios e pelo SUS”, diz Heitor Sado, supervisor de equipe técnica InRad.
Dr. Carlos Alberto Buchpiguel, Prof. Titular do Departamento de Radiologia e Oncologia e Diretor da Divisão de Medicina Nuclear e Imagem Molecular do InRad diz que este exame vai ajudar principalmente em afastar completamente a presença de doença, principalmente quando o diagnóstico clínico é duvidoso ou questionável, evitando assim que uma proporção não desprezível de pacientes seja submetida a tratamentos desnecessários. “Porém, cada vez mais observamos que este exame é importante também para selecionar quais pacientes poderão ser incluídos em ensaios clínicos que testam novos medicamentos para combater a doença, e que têm como alvo principal evitar ou reduzir o depósito desta proteína anômala no cérebro”.
Participaram do estudo o Professor Geraldo Busatto Filho, Prof. Titular do Departamento de Psiquiatria da FMUSP e Coordenador Geral do Projeto de Pesquisa conduzido na Instituição, além do Professor Ricardo Nitrini, Prof. Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP, com colaboração de vários pesquisadores e professores dos respectivos departamentos.