A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) reuniu na última quinta-feira (8) especialistas para debater ‘os avanços em sistemas de cuidados integrados’ em seu evento Anahp AO VIVO. Levando em consideração o contexto da pandemia, os doentes crônicos e o envelhecimento populacional acelerado, os participantes defenderam a necessidade de olhar para os sistemas de saúde de forma estratégica e integrada para garantir um serviço eficaz.
Segundo o moderador Fernando Torelly, conselheiro da Anahp e CEO do Hospital do Coração – HCor, a pandemia evidenciou que o Brasil tem dificuldade em estabilizar os doentes crônicos. “80% dos pacientes intubados na UTI vieram a óbito, isso porque já não apresentavam uma condição de saúde favorável antes. Pacientes com duas ou mais comorbidades possuem uma taxa de mortalidade consideravelmente superior aos pacientes sem doenças pré-existentes”, explicou, fazendo alusão a uma possível redução no número de vítimas, caso o cenário fosse diferente.
Segundo Martha Oliveira, diretora-executiva da Laços Saúde, a falta de coordenação de saúde afeta principalmente a população idosa, que em 2017 já representava 14,6% da população no Brasil, cerca de 30,3 milhões de pessoas. Além de serem mais propensos a doenças crônicas, estão, por vezes, desassistidos, fator que piorou durante a pandemia. “A gente não só tem muita sequela de Covid, principalmente nessa população, como represamento de tratamento e agravamento de doenças […], assim como os casos de idosos que ficaram isolados e, por conta disso, diminuíram cognição e funcionalidade”, comentou. Na opinião de Oliveira, o sistema não está pronto para lidar com esse cenário, uma vez que já não estava preparado antes da pandemia.
Diante de desafios como esses, os participantes desta edição do Anahp AO VIVO defenderam a integração do sistema de saúde como solução. Eugênio Vilaça, consultor do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, avaliou que é necessário “fazer a transição de um sistema fragmentado, em que as instituições se organizam separadamente orientadas a solucionar eventos agudos, para um sistema integrado, em que há conversa entre os três níveis de atenção de saúde, criando uma rede orientada equilibradamente para eventos agudos e crônicos”.
A normativa deste sistema integrado voltado para as redes de atenção à saúde, possui três componentes fundamentais: equipe de atenção primária; modelos de atenção voltados aos eventos agudos e às condições crônicas; e estrutura operacional. “Nós podemos iniciar pelas coisas simples como a gestão de medicamentos, orientação sobre uma alimentação saudável e gestão do ambiente em que o indivíduo vive para compreender como ele se articula dentro da própria casa ou com os seus vizinhos, além de entender a estrutura que ele está inserido e se existe uma rede de apoio ou não.
Nesse momento a telemedicina é muito importante e precisa ser articulada”, declarou Oliveira.
A telemedicina é apontada como parte fundamental para eficiência de um sistema integrado. Miguel Cendoroglo, superintendente e diretor médico do Hospital Israelita Albert Einstein, disse que a pandemia transformou esse braço do cuidado ao fazê-lo crescer exponencialmente. “Durante a pandemia, cresceu o conceito de um novo processo de digitalização da jornada do paciente, que ajuda no tratamento e, futuramente, na retomada das atividades. Além disso, tornou-se essencial o atendimento primário ao paciente via telemedicina e atendimento digital, em que a troca de informações com a equipe médica foi possibilitada e facilitada”.
Por fim, Vilaça ressaltou que o Sistema Único de Saúde construiu uma boa proposta de integração das redes de atenção à saúde e a rede privada tem um papel essencial nesse sistema, já que é um importante pilar de auxílio. Para os participantes, se unidos e focados no atendimento primário e multidisciplinar, os sistemas têm força para prevenir fatalidades futuras.