Consultas e exames preventivos do câncer de mama diminuíram na pandemia

O câncer de mama é o tipo que mais acomete mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. Para o Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estimou 66.280 casos novos de câncer de mama em 2021, com um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres. A pandemia afetou o cuidado das mulheres com a saúde. Uma das medidas mais importantes para a detecção precoce da doença, a mamografia para mulheres com idade entre 50 e 69 anos, foi diretamente afetada.

Conforme mostra um levantamento recente, publicado em abril na Revista de Saúde Pública, o número de mamografias realizadas na rede pública nesta faixa etária diminuiu 42% em 2020 na comparação com o ano anterior, caindo de 1.948.471 em 2019 para 1.126.688 no ano em que a pandemia começou. A diferença de 800 mil exames não realizados no ano passado deve significar algo em torno de 4 mil casos de câncer de mama não diagnosticados em 2020, considerando estimativas da taxa de detecção da doença nas mamografias digitais (em média de cinco casos detectados para 1000 exames).

Por tudo isso, a campanha Outubro Rosa deste ano busca reforçar a importância da detecção precoce do câncer de mama e de seguir com as consultas e exames de rotina. “Considerando o contexto da pandemia o recado desse 2021 é ‘Volte a se cuidar’, para que tanto as mulheres como os homens, fiquem atentos aos exames preconizados para detecção de tumores malignos, pois temos ótimos exames de rastreamento já disponíveis e subutilizados”, ressalta a oncologista Eloise Allen Marques de Oliveira.

A médica, que atende no Núcleo de Oncologia Oncore, localizado no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia (GO), percebeu na prática o que as pesquisas acima indicam, a queda de consultas e, consequentemente, realização de exames. Segundo ela, os atendimentos não voltaram ao normal. “Este ano a busca pela consulta com o especialista ainda não retomou o usual, o absenteísmo tem sido bem prevalente por receio, principalmente nas pacientes dos considerados grupos de risco para complicações da Covid-19. O volume tem aumentado aos poucos, às vezes as pacientes até vão ao consultório, mas demoram para realizar os exames”, afirma.

Autoexame

Eloise Allen destaca que o autoexame da mama é importante, mas não dispensa a realização da mamografia. “O autoexame nos remete à importância do autocuidado com o corpo e que precisamos fazer os exames de rastreamento, mas a maioria das mulheres não o realiza ou sequer sabe como fazê-lo, apesar de a maioria já ter ouvido falar. Por isso é importante a mamografia, grande parte dos cânceres de mama precoces não são palpáveis e, portanto, o autoexame não os identificaria”, detalha a especialista.

De acordo com a oncologista, a idade é o principal fator de risco para a doença. “O câncer é, em sua maioria, uma doença do envelhecimento celular e a perda dessa célula da capacidade de reparação e eliminação das células defeituosas. Outros fatores de risco seriam o tempo de exposição ao estrogênio, a menarca (primeira menstruação) precoce ou menopausa tardia, a primeira gestação após os 30 anos, o uso de contraceptivos orais, reposição hormonal na menopausa, tabagismo, etilismo, poluentes, entre outros”, revela.

A médica explica que o mais importante no combate à doença é a detecção prematura. “Não há uma vacina contra o câncer de mama, o que temos hoje seria o diagnóstico precoce. A situação ideal seria a prevenção primária com uma dieta e hábitos de vida saudáveis, sem agrotóxicos, menor exposição a hormônios e derivados do benzeno e a prevenção secundária com a realização da mamografia anualmente a partir dos 40 anos e até os 69 anos”, salienta Eloise Allen.

Redação

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