Tecnologia pode melhorar cuidados com a saúde, mas pobreza pode ser uma barreira

A pandemia de Covid-19 trouxe diversas mudanças para os sistemas de Saúde em todo mundo. A principal delas foi a adesão às novas tecnologias. Na palestra de abertura do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), que contou com Eduardo Amaro, presidente do Conselho da Anahp e diretor administrativo do Hospital Santa Joana como moderador, Emmanuel Fombu, autoridade reconhecida internacionalmente na convergência de tecnologias digitais e saúde, abordou as mudanças que foram impulsionadas pelo distanciamento social e mostrou como o monitoramento de pacientes, a análise de dados e o investimento em inovação podem auxiliar as pessoas a terem vidas mais longas e saudáveis e os sistemas público e privado a serem mais sustentáveis.

De acordo com Fombu, ainda que cada indivíduo nasça com pré-disposição genética a uma série de doenças, o comportamento, o nível educacional e a situação socioeconômica influenciam na manifestação da enfermidade. Para ajudar os profissionais de saúde e as pessoas a acompanharem essas variáveis e intervirem, quando necessário, estão sendo desenvolvidos diversos dispositivos de monitoramento da saúde. Um exemplo é um relógio inteligente que mede a qualidade do sono e os batimentos cardíacos. “A ideia é criar esses sistemas para compreender como o nosso corpo, a nossa máquina está funcionando e notificar quando tiver algum problema”, explica, comparando ao funcionamento de um carro, que acende uma luz no painel quando uma irregularidade é detectada.

Para que o uso da tecnologia seja uma realidade mais próxima, ainda há alguns desafios a serem superados, como a equidade. “Isso vai além de as pessoas terem um dispositivo. As políticas do futuro vão trabalhar com os dados que chegam. Se você mora em uma área pobre, não haverá dado, você não vai existir para o sistema de saúde”, revela Fombu. Por isso, segundo o especialista, é preciso investir em soluções que contribuam para que essas comunidades tenham acesso à tecnologia, a aparelhos para coleta de dados e entendam os cuidados com a saúde. “É do interesse do estado ajudar as pessoas a terem vidas mais saudáveis para mitigar problemas futuros, uma vez que cerca de 80% dos custos de saúde vêm dos últimos 5 anos da vida da pessoa. Assim, é importante que o setor público tenha atuação para prevenção ou terá que pagar um preço mais alto depois que a população estiver mais doente”, esclarece.

Ainda que Fombu defenda o uso da tecnologia na saúde, o especialista faz um alerta sobre os cuidados com a privacidade. “Ainda estamos entendendo como os dados podem ser utilizados contra as pessoas. A saúde digital não é só a tecnologia, mas a experiência, um ecossistema que está surgindo, um novo modo de entregar os cuidados com a saúde”, finaliza.

Redação

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