Hospital desenvolve medicina de ponta e tratamentos inovadores para câncer de próstata

Foto: Tiago Masiero

No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não-melanona, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Em valores absolutos e considerando ambos os sexos, é o segundo tipo mais comum. No mês do Novembro Azul – movimento que objetiva chamar a atenção para a prevenção e o diagnóstico precoce de doenças que atingem a população masculina —, o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), mais uma vez, se destaca no cenário nacional e internacional com tratamentos inovadores e que buscam atacar a doença com técnicas modernas, menos invasivas e indolores.

De acordo com o coordenador do Núcleo de Medicina Robótica, André Berger, hoje o câncer de próstata é o primeiro de órgão sólido entre os homens e atinge 65 mil brasileiros por ano. “Mas conseguimos chegar a um índice de 90% de cura, se o tumor for detectado precocemente e localizado”, esclarece. Para um diagnóstico mais preciso, são utilizadas técnicas mais antigas, combinadas a mais modernas. “Além do exame de sangue (PSA) e o exame de toque retal, utilizamos a ressonância magnética para orientar o diagnóstico”, explica.

O chefe do Serviço de Urologia, Eduardo Carvalhal, observa que, infelizmente, ainda existe uma resistência muito grande com a realização dos exames de diagnóstico, especialmente o toque retal. “Muitos acham que pode afetar a masculinidade, mas não há risco algum. É apenas um exame médico completo e fundamental”, esclarece, destacando que, para combater a doença, é preciso superar preconceitos.

Lutécio

Tratamentos cada vez mais modernos e minimamente invasivos entram em cena. Dentro do conceito de medicina de precisão está uma terapia com o radiofármaco Lutécio 177-PSMA. Estudos publicados neste ano na revista Lancet e The New England Journal of Medicine apontaram que a alternativa com o radiofármaco é mais eficaz em homens com neoplasia de próstata avançada.

O lutécio é um isótopo radioativo que é carregado pela PSMA (uma proteína localizada na membrana das células cancerosas prostáticas) até o câncer de próstata. Por ser injetável e se espalhar pelo corpo pela corrente sanguínea, ele consegue chegar a qualquer lugar onde exista o tumor e suas metástases. Sua ação consiste em matar células malignas com radiação beta, preservando as sadias ao redor.

De acordo com Carvalhal, a terapia é uma nova ‘arma’ contra a doença, pois pode regredir o câncer e aumentar a sobrevida do paciente. “Em alguns casos, as lesões metastáticas retrocedem de forma significativa”, observa o urologista. A medicação é administrada de forma intravenosa, a cada 6-8 semanas, em um máximo de seis ciclos. Exames laboratoriais e de imagem regulares são necessários para a avaliação da resposta ao tratamento.

Protocolos de recuperação inéditos

Um estudo inédito desenvolvido no Núcleo de Medicina Robótica demonstrou a preservação da qualidade de vida de pacientes e a diminuição de infecções, após reduzir o tempo de uso da sonda pós-operatória. A retirada ocorreu em menos de 24h, sendo possível ir para a casa sem a sonda vesical. A prática tradicional deixa o dispositivo no pênis do paciente pelo período de sete a dez dias, o que provocava dor, desconforto e até mesmo sangramento durante a recuperação. “Em uma série de 21 pacientes, no ano de 2020, conseguimos ter sucesso em 20. Apenas um precisou ter a sonda recolocada, o que ocorreu sem intercorrências, antes da alta hospitalar”, pontua Berger, idealizador do estudo. Ele pondera que o desconforto da sonda está entre as principais queixas dos pacientes.

O procedimento faz parte do protocolo de recuperação rápida pós-cirúrgica, que inclui a eliminação do uso de opióides — medicamentos que atuam no sistema nervoso para aliviar a dor — , além de medicações que relaxam a bexiga e estimulam o retorno da função intestinal. Os resultados desse trabalho foram divulgados no British Journal of Urology, um dos periódicos científicos especializados mais relevantes do mundo.

Cirurgia robótica

Diferente da cirurgia convencional, a robótica proporciona menos agressão ao paciente. Com cortes menores, o volume de sangramento é mínimo e a recuperação é mais rápida. O uso de robôs na cirurgia de retirada de tumor de próstata facilita a visualização da área a ser operada pelos médicos, que utilizam instrumentos pequenos e com grande flexibilidade. “Desta forma, tanto o controle oncológico do câncer de próstata como a preservação funcional das ereções e do controle urinário ficam muito melhores nos pacientes que são submetidos à cirurgia robótica”, comenta Berger. A técnica faz com que a equipe tenha uma das mais altas taxas do mundo de sucesso e preservação da função urinária e sexual do paciente. A retirada completa do tumor é possível em cerca de 90% dos casos.

Tratamento e prevenção

Existe um consenso que, a partir dos 50 anos, homens devem procurar o seu médico para uma conversa sobre rastreamento através de exame do PSA e toque retal. Para homens com história familiar de câncer de próstata, mama, pâncreas ou intestino, o ideal é a partir dos 40 anos. Afrodescendentes também devem procurar um especialista aos 40 anos. “O melhor caminho é a informação. A chance de cura é alta e temos várias alternativas de tratamento. O segredo está no diagnóstico precoce e em uma estratégia personalizada de tratamento”, constata Carvalhal.

Além da área assistencial, o hospital também foca na educação e na pesquisa. O Centro de Pesquisa do hospital tem cerca de 15 protocolos de pesquisa ativos ou a serem ativados, específicos  para o câncer de próstata. Na área educacional, destaque para o Curso de Certificação em Cirurgia Robótica Urológica , além de projetos para estudantes e residentes, com o propósito de difundir as melhores técnicas. “Estamos sempre em busca de novas alternativas para nossos pacientes. Nosso mantra é a inovação”, conclui Berger.

Novembro Azul

O movimento Novembro Azul teve origem em 2003, na Austrália, com o objetivo de chamar a atenção para a prevenção e o diagnóstico precoce de doenças que atingem a população masculina. No Hospital Moinhos de Vento, a data será marcada por atividades. Confira a programação:

  • 5/11: Cirurgias ao vivo (robótica para câncer de próstata e Urolift para hiperplasia) intercaladas por aulas de equipe multidisciplinar.
  • 8/11: Masterclass Atualização em Câncer de Próstata Resistente à Castração Não Metastático. A palestra ficará a cargo da médica oncologista Manuela Zereu com moderação do urologista Gustavo Carvalhal.
  • 21/11: POA DAY RUN – Corrida de rua comemorativa do Novembro Azul.
  • 22/11: Atualização do Câncer de Próstata Resistente à Castração Metastático – com o médico oncologista e Head de Pesquisa Clínica, Pedro Isaacsson Velho, e moderação do chefe do Serviço de Medicina Nuclear, Gabriel Grossman.
  • 23/11: Saúde do Homem – Mitos e verdades – Atividade coordenada pelo chefe do Serviço de Urologia, Eduardo Carvalhal, e pelo coordenador do Núcleo de Medicina Robótica, André Berger.

Outras informações, programação dos eventos e inscrições estão disponíveis no site do hospital.

Câncer de próstata

Segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, pode ser assintomático ou apresentar sintomas urinários (aumento da frequência urinária, sangramento, urgência e incontinência), ou, em estado avançado, ocasionar dores ósseas. Entre as formas de diagnóstico estão a biópsia com fusão de imagens da ressonância magnética e o PET-CT com PSMA.

A idade é um fator de risco importante, uma vez que tanto a incidência quanto a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos. Destaque também para fatores genéticos (hereditários) quanto hábitos alimentares ou estilo de vida. Além disso, o excesso de gordura corporal aumenta o risco de câncer de próstata avançado.

Redação

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