“A telemedicina pode resolver mais de 80% dos atendimentos médicos remotamente, tendo abaixo de 20% deles direcionados ao atendimento presencial”

De que forma a telemedicina democratiza o ensino médico e o atendimento à saúde? No final do ano de 2022, a telemedicina foi regulamentada em lei federal consolidando juridicamente uma prática que foi debatida por duas décadas e que atingiu seu destaque durante a pandemia do Covid-19, mas não ainda seu auge. Contudo, olhando para o presente e futuro para essa nova forma de atendimento, é necessário colocar no radar o quanto a telessaúde é democrática, à medida que atinge mais pessoas.

Outro ponto que precisa ser aprofundado, é o quanto os médicos precisam se especializar em telemedicina, pois há um mercado sendo formado para atender às múltiplas demandas desse modelo de atendimento. Pesquisa feita pela EBRAMED – Escola Brasileira de Medicina revelou que, a cada quatro médicos, três não sabem fazer atendimento de pacientes via telemedicina e/ou não se sentem preparados para isso.

O estudo contou com mais de 800 médicos de grandes cidades brasileiras como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Santa Catarina, além de Maranhão e Rio Grande do Sul, escancarando um problema histórico no país: a falta de especialização médica em tecnologia.

“Se olharmos para o volume de queixas da maioria dos pacientes, a telemedicina pode resolver mais de 80% dos casos, chegando a 95% em algumas casuísticas. Assim, menos de 20% das demandas de saúde dos pacientes precisaram ser direcionadas ao atendimento presencial. Vale lembrar que, com a telemedicina, há inúmeros médicos especialistas disponíveis para atender os pacientes via teleconsulta”, explica Dr. Leonardo Jorge Cordeiro de Paula, diretor técnico e acadêmico da Escola Brasileira de Medicina (EBRAMED), especialista em Gestão de Saúde e Educação, e cardiologista clínico do Incor – Instituto do Coração.

Além disso, o mesmo levantamento indica que as solicitações feitas em locais de pronto-atendimento são relativas, e que podem ser solucionadas via telemedicina sem sobrecarregar os hospitais, evitando a superlotação tão comum no dia a dia das empresas públicas e privadas de saúde.

Para entendermos a relevância que a telemedicina tem na vida de milhões de pessoas que não têm acesso à saúde por diversas variáveis, é preciso apontar que boa parte dos brasileiros se desloca numa distância de 50 a 100 quilômetros em busca de atendimento. Essa demanda logística traz custos para prefeituras e governos estaduais com o transporte de pacientes para os principais centros de saúde do país.

Além do problema da distância entre a localidade e o espaço de atendimento presencial, as pessoas mais pobres são as que mais sofrem com a falta de acesso à saúde. Mas como a telemedicina ajuda a democratizar o acesso aos serviços e produtos de saúde na prática? O primeiro ponto é que os sistemas de telessaúde ajudam a baratear os custos de redes privadas e do Poder Público de investir em uma ampla infraestrutura hospitalar, laboratório, entre outros formatos de atendimento.

Diante disso, é preciso ter o ferramental tecnológico essencial para realizar a vídeo-chamada com qualidade, tendo computadores que atendam essa nova realidade, smartphones e uma boa conexão com a internet. Além disso, obviamente, é necessário contar com um médico para fazer o teleatendimento. Assim, na maioria das vezes, não é necessário criar uma infraestrutura do zero, basta uma sala adequada para o atendimento, como os aparatos necessário e um bom profissional de saúde.

Sim, é perfeitamente possível criar uma pequena estrutura de telemedicina em locais remotos. “Primeiro, imagine uma aldeia indígena, ou uma pequena comunidade no interior do País, ou até mesmo um lugar muito distante de um local de saúde, mas dentro de uma grande capital. Agora, pense em criar uma pequena estrutura que tenha dois médicos generalistas: um para fazer o atendimento presencial e outro para realizar a telemedicina. Uma vez conectado, esse segundo médico pode entrar em contato com outros médicos especialistas para ajudar em casos mais complexos de saúde”, diz o médico.

Na prática, a telemedicina democratiza o acesso à saúde e possibilita à população a disponibilidade de um leque de especialidades para tratamento. Nessa lógica da democratização, por meio do barateamento em infraestrutura, tende a ser maior o investimento em tecnologia — computadores, smartphones, plataformas ideais para exercer a telemedicina — e em capital humano — contratação de médicos generalistas e especialistas, com formação qualificada em telessaúde.

Outro ponto que muitas vezes passa despercebido na relação entre médicos e pacientes, é que o profissional de saúde tem o que no jargão militar, por exemplo, se chama de “vivência de Brasil”: com a telemedicina, os médicos conhecem a realidade do país e as mazelas de saúde das cinco regiões por meio do relato dos pacientes; e traz uma riqueza de informação imensurável aos médicos e às redes públicas e privadas.

Há uma dúvida latente para quem nunca utilizou os serviços de telemedicina ou para as pessoas que fizeram somente uma consulta com um médico generalista: a telessaúde é capaz de atender todas as especialidades médicas ou de comportar as demandas que chegam a todo momento nos prontos-socorros? Uma das alternativas mais recomendadas pelos especialistas é: faça primeiro o atendimento via telessaúde e, caso o problema persista ou aparente ser mais grave, procure o atendimento presencial num pronto-socorro.

Novo mercado e formação especializada

A prática da telemedicina no setor da saúde, a procura por esse tipo de atendimento pela população e a regulamentação do modelo implicam na formação gradual de um novo mercado voltado total ou parcialmente à telemedicina. Neste sentido, como já ressaltado, vemos a tendência tanto nos espaços de saúde públicos e privados da telessaúde ser a primeira opção de atendimento médico, posicionando o atendimento presencial de forma complementar à teleconsulta e de modo ocasional.

Para que esse novo mercado saia do nível gradual para o consolidado, depende do quanto e quando os planos de saúde, hospitais, laboratórios, entidades do terceiro setor, prefeituras e governos irão investir no modelo de telessaúde. Além disso, a formação especializada em telemedicina passa a ser praticamente obrigatória aos médicos.

Mas o que se aprende em uma capacitação de telessaúde? Embora a telemedicina seja medicina, existem peculiaridades nas teleconsultas. Por exemplo, como um médico deve ser portar durante o teleatendimento, como instruir o paciente caso este tenha alguma dificuldade com a tecnologia ou a plataforma de uso, como fazer um telediagnóstico, e como iniciar, manter e encerrar a consulta de maneira satisfatória.

Além disso, implica em saber registrar as informações de forma correta e adequada à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Ou seja, a telemedicina traz questões morais, éticas, de informática e digitalização ao médico, além de aprendizado e ensino prático das ferramentas que são utilizadas antes, durante e após o atendimento ao paciente.

“Até mesmo lidar com os dispositivos de tecnologia é um desafio para milhares de médicos, pois muitos não foram ou não estão alfabetizados digitalmente, necessitando assim de uma curva de aprendizado para dominar os aparelhos e plataformas de telemedicina”, finaliza Dr. de Paula.

Redação

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