Além de vacinas e lockdown: debate sobre estratégias de combate à Covid-19 no Brasil

O Boston Consulting Group (BCG) aponta algumas estratégias urgentes de combate à Covid-19 que vão além da vacinação em massa e do lockdown. Entre elas está a criação de um sistema de governança nacional, guiado por um conselho de gestão da pandemia, para combater a crise. Neste Conselho, devem participar os principais atores da sociedade, incluindo as três esferas de governo: federal, estaduais e municipais, bem como as principais áreas: saúde, educação, tecnologia e economia, academia, indústria, negócios, educação e organizações do terceiro setor, por exemplo. Outra recomendação importante é a nomeação de líderes para projetos específicos, tais como – vacinas, UTIs, testagem e Cadeia de Suprimentos, para citar alguns.

Segundo o estudo ‘Governing in the time of Coronavirus‘, a falta de foco estratégico, a orientação insuficiente sobre comportamentos diários, e a comunicação unilateral estão entre os principais erros de governança. “Sem um modelo de governança eficiente, é improvável que o país consiga combater à doença. O conselho de gestão da pandemia funcionaria como fórum para unir a nação em torno das soluções para a pandemia em todo território nacional, unindo esforços de todas as esferas de governo”, comenta Joaquim Cardoso, Senior Advisor para Health Care Strategy & Transformation do BCG no Brasil.

Outra estratégia envolve o Plano de Vacinas, que deve ser uma prioridade com o objetivo imediato de imunizar os profissionais de saúde e a população mais vulnerável. Em ‘A Vaccination Strategy to Save Lives and Livelihoods‘, os pesquisadores chamaram a estratégia de “primeiras doses primeiro” (first doses first). De acordo com o levantamento, países que seguiram essa abordagem, como o Reino Unido, têm obtido um nível de proteção eficaz para mais pessoas. Com a estratégia, os ingleses conseguiram obter de 60% a 75% de eficácia da vacina contra os sintomas de Covid-19 em adultos mais idosos, após uma única dose de qualquer um dos imunizantes disponibilizados: da Pfizer ou da AstraZeneca. A eficácia é ainda maior contra hospitalização e morte. Ao mesmo tempo, os governos precisam enfrentar a realidade crescente de que a Covid-19 será uma doença endêmica. Especialistas do BCG sugerem que os governos já deveriam estar planejando processos permanentes para conduzir testes contínuos e aplicar injeções de reforço regulares, mesmo enquanto trabalham para vacinar rapidamente os vulneráveis.

No estudo ‘Vaccines Aren’t the End of the Fight, but the End of the Beginning‘ mesmo que a vacinação tenha sucesso, a população ainda estará usando máscara, mantendo distanciamento social e evitando multidões por muitos meses após a autorização regulatória. Desta forma, testes, rastreamento e esforços contínuos para reduzir a gravidade da doença também permanecerão cruciais. Países, regiões e estados ainda têm tempo para fazer isso de maneira correta por meio da ciência, trabalho árduo e vigilância. “Quando o número de casos de infecção for menor, devemos considerar o uso de tecnologia para identificar e rastrear as pessoas com quem os indivíduos infectados tiveram contato e envolver os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), para ajudar nesta tarefa. O Brasil possui mais de 286.000 mil ACS, que poderiam ser alavancados, com o auxílio de Sistemas de Telemedicina e Triagem Digital”, descreve Cardoso.

Investimentos em um sistema de coleta de dados também são necessários para capturar informações sobre número de casos e de mortes, bem como as causas de mortes e assim por diante. Outra solução específica necessária é o Registro Eletrônico de Imunizações (EIR) para Covid-19, que deve permanecer como um legado para outras vacinas também. Para Cardoso, “é necessário o registro de qual vacina foi aplicada na 1ª e na 2ª dose, pois ainda não sabemos se é possível misturar diferentes marcas de vacinas”. Estas soluções digitais, de dados e analíticas são essenciais para o planejamento e execução eficazes de programas de pandemia bem-sucedidos”.

A estratégia de conquistar a confiança da população, também deve ser levada em conta pelos governos, sobretudo a sensibilidade com os efeitos psicológicos. Os países precisam de uma mobilização massiva e unificada, análoga a um esforço de guerra para lançar vacinas ao mesmo tempo em que mantêm a luta diária usando máscaras, distanciamento, monitoramento de vírus e outras intervenções. “A pior coisa que pode acontecer a um governo em uma crise é perder a confiança da população”, alerta Cardoso.

Nesse novo contexto, em um mundo interconectado de comércio e turismo globais, a restauração total da saúde econômica, social e pública de um país depende de uma recuperação global que inclua todas as nações. No artigo ‘The Role of Trust in the COVID-19 Economic Recovery: Lessons from Asia‘, os especialistas afirmam que a gravidade desta crise econômica depende da duração e da profundidade da fase de transição. A confiança terá um papel crucial na limitação de ambos, pois é essencial para uma forte recuperação econômica, já que a Covid-19 não está testando apenas a resiliência sistêmica.

Redação

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