O Brasil iniciou o ano de 2022 com uma perigosa combinação de fatores que podem contribuir para um cenário trágico de novo colapso do sistema de saúde e falta de insumos imprescindíveis ao enfrentamento da pandemia Covid no país nas próximas semanas.
O primeiro fator é a inconsistência na totalização de dados nacionais que ficam sobre a tutela do Ministério da Saúde desde 10/12/2021, principalmente em relação à computação de casos suspeitos, testes laboratoriais positivos, tanto da rede pública quanto privada, notificação de internações e óbitos por Covid, devido a problemas técnicos ainda não completamente resolvidos até a presente data na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), “sistema mãe” que recebe todas essas informações essenciais para o planejamento em termos de saúde pública.
O “apagão de dados” do Ministério da Saúde não poderia vir em pior hora, pois coincidentemente a partir da primeira semana de dezembro de 2021, começaram a ser identificados os primeiros casos da variante Ômicron do SARS-COV-2 no Brasil, variante essa com altíssimo poder de transmissibilidade e de promover reinfecção por Covid quando comparado com as cepas anteriores, o que levou em poucas semanas a ser a vírus predominante em termos de circulação no país, lotando unidades básicas e de pronto-atendimento em todos os estados.
Não obstante os fatores acima, ainda se somou simultaneamente ao cenário epidemiológico nacional aumento exponencial de casos de infecção pelo vírus Influenza A H3N2 Darwin, inicialmente circulando nas grandes metrópoles e mais recentemente também em cidades do interior, contribuindo para a já citada superlotação nas diversas unidades responsáveis pelo atendimento de síndrome gripal, tanto no âmbito público quanto privado.
Em particular os profissionais de saúde foram diretamente afetados por essa grave conjunção de circulação dos dois vírus (SARS-COV-2 e Influenza A H3N2 Darwin) por terem maior risco de exposição ocupacional à esses patógenos, situação demonstrada nas últimas semanas pela altíssima taxa de afastamento por síndrome gripal de médicos, enfermeiros e outros profissionais que estão na linha de frente, o que retroalimenta negativamente o caos no atendimento à pacientes com suspeita de Covid ou Influenza, ou mesmo de outras doenças.
Portanto, urge que o Ministério da Saúde restabeleça imediatamente e sem maiores instabilidades a entrada e também o acesso aos dados epidemiológicos tão necessários para as ações de prevenção e enfrentamento à Covid no Brasil. É também fundamental a promoção de estratégias de otimização no atendimento aos pacientes com síndrome gripal, bem como garantir a testagem para Covid e Influenza, que está ameaçada por falta de insumos laboratoriais.
Por fim, mas não menos importante, se pede ao Ministério da Saúde ações práticas e concretas em atenção à sobrecarga e adoecimento dos profissionais de saúde, categoria já tão desgastada nessa Pandemia.
São Paulo, 13 de janeiro de 2022
Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid_Associação Médica Brasileira, CEM Covid_AMB