Artigo – A reinvenção da pediatria

No dia 27 de julho celebramos o Dia do Pediatra. A escolha dessa data faz uma alusão ao dia em que a Sociedade Brasileira de Pediatria foi fundada. E hoje, proponho uma reflexão sobre a nossa especialidade e sobre o exercício de nosso ofício nos últimos anos.

Escolher a pediatria é escolher cuidar do futuro de crianças e adolescentes, é aprender a valorizar a angústia dos pais ao procurarem um serviço de urgência na madruga em razão de uma febre que acabou de começar. Ao escolher essa especialidade, sabemos que não vamos assistir apenas aquele pequeno paciente, mas muitas vezes toda sua família.

E, nos últimos anos, ser pediatra se tornou ainda mais desafiador. Há 36 meses estamos vivendo a pandemia de Covid (que ainda não acabou) e, ao longo de seus períodos mais graves, experimentamos a restrição da mobilidade urbana, o uso intenso de máscaras e o fechamento das escolas. Com isso, ao contrário das emergências de adulto, vivenciamos uma diminuição importante da demanda de pacientes pediátricos nos serviços hospitalares.

As escalas de plantão foram reduzidas e os pediatras tiveram que se reinventar para enfrentar esses meses de baixa demanda pela especialidade. Durante meses, ficamos sem lidar com o famigerado vírus sincicial respiratório, com as amigdalites e pneumonias.

E, após 15 meses de um longo período de calmaria, passaríamos a viver uma fase de alta demanda. A sazonalidade é bastante conhecida e esperada por todos nós. Mas, dessa vez, foi antecipada em razão do afrouxamento das medidas de restrição ao convívio social e do retorno das escolas. Com isso, o período de alta demanda acabou durando longos 12 meses.

Durante esse período, a escala de plantão já não poderia ser mais tão enxuta e a demanda por pediatras passou a ser cada vez mais crescente. Os diagnósticos de Covid em crianças se multiplicaram, e as pneumonias graves e bronquiolites voltaram a ser uma realidade dos nossos prontos-socorros e internações.

Esse pós “pico de pandemia”, além de trazer sobrecarga de atendimentos e aumento de internações, trouxe novos desafios, como ter que lidar de forma mais rotineira com a saúde mental de crianças e adolescentes. Verificamos uma demanda crescente nos serviços de urgências e consultas ambulatoriais no âmbito psiquiátrico, fato absolutamente atípico na dinâmica da pediatria em tempos anteriores.

Foi durante a pandemia que também assistimos à introdução da Telemedicina no nosso dia a dia. Falar com os nossos pequenos do outro lado de uma tela pareceu assustador no início, mas a necessidade de oferecer cuidado em tempos tão críticos nos fez transpor quaisquer obstáculos que estivessem em nossa frente, inclusive as instabilidades de Wi-fi, dificuldades de uso de aplicativos ou delays típicos desse novo ambiente tecnológico.

Enfrentamos também a escassez dos antibióticos no momento que mais precisávamos deles e mais uma vez o pediatra teve que se reinventar para encontrar alternativas para tratamento de seus pacientes.

Por todos esses desafios que passamos e necessidade de nos adaptarmos a todas essas mudanças, temos que valorizar e muito a escolha da nossa especialidade. Além disso, cuidar do futuro daquelas pessoas que estão em desenvolvimento nunca foi tão importante e necessário. Feliz dia do PEDIATRA!

Dr. Thales A. de Oliveira é pediatra e Gerente do Centro de Excelência e PS do Sabará Hospital Infantil

Redação

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