Epidemiologistas renomados e cientistas da complexidade têm afirmado que é certo que novas pandemias surgirão inexoravelmente em breve. Só não sabem ainda quando. Apesar de as leis da medicina serem incertas, imprecisas, incompletas e cheias de vieses, temos a obrigação de tentar aprender com os inúmeros erros que cometemos na condução da pandemia pela Covid-19 em nosso país para não os repetir.
Não temos dúvidas da necessidade da criação de uma nova ordem mundial sanitária, com a Organização Mundial de Saúde (OMS) se reinventando e passando a desempenhar um novo e fundamental papel supranacional na coordenação mundial das prováveis novas epidemias previstas pelos especialistas. Um Plano Mundial de Imunização liderado pela OMS terá de ser criado.
Enquanto não se concretiza essa nova ordem mundial sanitária, baseada na economia colaborativa e na criação pelos países ricos de uma espécie de Fundo Monetário Sanitário Mundial, que financie pesquisa e desenvolvimento global em busca de soluções vacinais com o apoio da “nova” OMS, garantindo o acesso a países pobres e ricos equanimemente, temos no Brasil um importante “dever de casa” a ser feito: iniciar imediatamente a construção, com base na tecnologia e na inteligência artificial e seus algoritmos, de um sistema de vigilância em saúde em tempo real, com o desenvolvimento de aplicativos que permitam a todos os profissionais de saúde, de forma integrada e conectada por tecnologias mobile, informarem o surgimento de casos atípicos que possam indicar o surgimento de uma nova doença em nosso país.
A construção desse novo modelo de gestão epidemiológica, fundamentado na tecnologia, na ciência da complexidade e nos conhecimentos tradicionais da vigilância em saúde, poderia ser um primeiro e grande passo na integração dos segmentos públicos e privados da saúde brasileira.
Com base nessas informações, recebidas, analisadas através de inteligência artificial e armazenadas em um big data gerenciado pelo DATASUS do Ministério da Saúde, seria montado um plano coordenado de resposta rápida aos riscos sanitários.
Não podemos, em hipótese alguma, pois não é moralmente aceitável e economicamente sustentável, repetir os grosseiros erros cometidos durante esta pandemia de Covid-19, quando, por falta de informação, planejamento e execução, nos transformamos no epicentro da pandemia mundial e [no cenário de tragédias como as ocorridas em Manaus].
Quem sabe o Brasil, após tanto sofrimento e frustração, não poderia ser um exemplo para o mundo de como construir melhores controles através do aprendizado com a tragédia que nos assola, a muitos envergonha e a todos entristece?
Josier Vilar é médico e Presidente do Fórum Inovação Saúde
Hans Fernando é médico, pesquisador e gestor da Saúde