Embora o modelo de atendimento presencial seja sempre considerado como prioritário em uma consulta médica, há situações em que a equipe médica ou o paciente não conseguem se deslocar até o local em que deveria acontecer o atendimento. Isso permitiu o avanço tecnológico e a utilização da telemedicina como forma de prestação de cuidados de saúde à distância, utilizando-se de tecnologias digitais de informação e comunicação para permitir que médicos e pacientes se comuniquem e interajam sem a necessidade de um encontro presencial.
Essa forma de cuidado de saúde tem o potencial de fornecer acesso mais amplo e equitativo aos cuidados de saúde em todo o mundo, especialmente em comunidades com atendimento precário, que estejam subatendidas ou em localidades remotas, nas quais haja a deficiência no número de profissionais para a realização dos atendimentos presenciais ou se torne difícil o acesso à saúde. No entanto, há algumas situações legais e regulatórias que precisam ser superadas para que a expansão da telemedicina seja feita de forma equitativa e possa ampliar o cuidado ainda que em locais mais afastados.
Contudo, além dos desafios de não ter uma equipe assistencial atuando mais próximo destas comunidades, existe ainda a dificuldade causada por uma infraestrutura tecnológica limitada. Muitas vezes, essas comunidades não têm acesso a computadores, conexão com internet em velocidade razoável ou sistemas de tecnologia de informação e comunicação que sejam confiáveis. Isso pode limitar a capacidade dos pacientes de se comunicarem com médicos e outros profissionais de saúde à distância e de acessar informações de saúde on-line. Além disso, a falta de acesso à tecnologia pode impedir que os profissionais de saúde prestem cuidados de saúde de forma eficaz e eficiente.
A pesquisa TIC Saúde, realizada desde 2013, pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), investiga a infraestrutura e a disponibilidade de aplicações baseadas em tecnologia da informação e comunicação nos estabelecimentos de saúde no país, tanto no setor público, quanto no privado. Em 2015, cerca de 88.239 estabelecimentos de saúde possuíam acesso a computadores, o que representava 91,7% do total, naquele ano; em 2022, esse número saltou para 117.477 unidades, ou 97,8% de todas as unidades. Já o número de estabelecimentos com acesso a internet foi de 81.921 (ou 85,1%) em 2015, para 116.520 (ou 99,2%), em 2022. A base atual aponta para um total de 120.069 estabelecimentos de saúde cadastrados[1].
Além da dificuldade tecnológica, outra barreira enfrentada pelas comunidades que estão mais afastadas é encontrar profissionais de saúde interessados em atender nessas áreas. Muitas vezes, essas comunidades têm dificuldade em atrair e reter profissionais de saúde, o que pode limitar ainda mais o acesso aos cuidados de saúde. A telemedicina pode ajudar a mitigar esse problema, permitindo que os pacientes recebam cuidados de saúde de profissionais que estão em outros locais. No entanto, para expandir o acesso destas pessoas à telemedicina é necessário que haja uma ampla colaboração entre o governo, os conselhos de classe, órgãos regulatórios e as empresas que operam com a telemedicina.
Essas entidades precisam trabalhar juntas para encontrar soluções que permitam que mais pacientes tenham acesso aos cuidados de saúde. A telemedicina tem o potencial de fornecer acesso mais amplo e equitativo aos cuidados de saúde em todo o mundo. Como visto acima, ainda há um desafio muito grande a ser superado, já que há muitas unidades de saúde que não possuem acesso à internet, o que impede que haja um atendimento remoto. É necessário discutir caminhos não só para melhorar a infraestrutura tecnológica em comunidades afastadas, mas também a falta de profissionais de saúde interessados em trabalhar presencialmente nessas áreas.
Com a colaboração e o investimento necessários, a telemedicina pode se tornar uma ferramenta fundamental para a prestação de cuidados de saúde eficientes e eficazes, permitindo que mais pacientes tenham acesso aos cuidados de saúde de que precisam. As soluções para esses desafios incluem a implementação de políticas governamentais que incentivem a expansão da telemedicina, como subsídios para provedores de saúde que prestam serviços nessas áreas. Além disso, a implementação de programas de treinamento e educação para profissionais de saúde pode ajudar a garantir que a telemedicina seja utilizada de maneira eficiente. As empresas que operam com a telemedicina também podem desempenhar um papel fundamental na expansão do acesso à telemedicina, oferecendo soluções tecnológicas que sejam acessíveis e fáceis de usar para pacientes e profissionais de saúde.
Adalberto Fraga Veríssimo Júnior
Referências:
[1] A pesquisa TIC Saúde busca analisar o estágio de adoção de TIC em estabelecimentos de saúde brasileiros, desenvolvendo indicadores relacionados a estabelecimentos e profissionais de saúde e encontra-se disponível para acesso em <www.cetic.br/pt/pesquisa/saude>. Acesso em 30 mar. 2023.