Neste ano, o Observatório de Oncologia avaliou dados do Ministério da Saúde e mostrou que em 2020 houve uma redução geral de 26% em procedimentos diagnósticos para os cinco tipos de câncer mais frequentes no Brasil (mama, colorretal, estômago, pulmão e próstata). Em 2021, a queda foi de 9%. Os dados comprovam que a pandemia de Covid-19 teve grande impacto no setor e expõe um cenário preocupante, já que o diagnóstico precoce do câncer é um dos principais fatores para o sucesso do tratamento. Agora, com o melhor estabelecimento e medidas protetivas contra o coronavírus, as instituições de saúde devem redobrar as atenções ao paciente oncológico – e encontrar formas de tornar toda a sua jornada mais ágil.
Os desafios enfrentados por centros oncológicos envolvem tempos elevados de espera, desconhecimento da variabilidade do uso de recurso dos pacientes, jornada complexa e fragmentada, desconhecimento do tempo de autorização do convênio, toxicidade cumulativa ou não adesão à duração de cada protocolo de tratamento. Todos esses problemas são prejudiciais à segurança e à experiência do paciente.
O controle de todas essas etapas, se feito de forma manual, tende a ser ineficiente. O risco de erros humanos em todos esses processos se torna muito grande, dada à necessidade de análise, assistência e ao grande volume de dados que são gerados diariamente nessas organizações. É nesse ponto que o uso correto da tecnologia pode ser útil, tanto para o hospital, quanto para o paciente.
Digo uso correto pois, hoje em dia, praticamente todas as instituições de saúde têm uma gestão ligada a indicadores, mas esses indicadores não necessariamente respondem às dúvidas da gestão. Muitas vezes, atuam como um termômetro: indicam que há ineficiências no processo, mas não permitem que o gestor consiga levantar perguntas certas para então tomar uma decisão precisa em relação ao problema. Por exemplo, por que o paciente passa 8 horas no hospital se esse tempo deveria ser de 4 a 6 horas? Por que os prazos para o diagnóstico e início do tratamento não são cumpridos?
É para tornar o olhar aos processos mais aprofundado que a tecnologia process mining tem servido à saúde, permitindo a compreensão a respeito de toda a jornada do tratamento oncológico de acordo com os fluxos que a instituição deseja mapear. A partir desse mapeamento, é possível entender e monitorar fluxos, percebendo suas variabilidades em tempo real. Os insights obtidos pela solução ajudam a melhorar a eficiência da jornada de ponta a ponta – resultado de exames, diagnóstico e início do tratamento, por exemplo. Ou seja, o process mining garante uma visão holística do cuidado coordenado ao paciente oncológico, entendendo todos os fluxos percorridos e analisando seu desfecho. É possível entender os tempos entre cada etapa, desde a primeira consulta, diagnóstico e tratamento, de acordo com as normas e padrões de excelência no cuidado.
Enfrentar o câncer é um desafio mundial, que envolve uma série de fatores. No caso das instituições de saúde, procurar soluções inovadoras que ajudem a melhorar a experiência e segurança de quem enfrenta o problema é uma das formas de contribuir com a questão. Contar com esse apoio, além de evitar uma sobrecarga da equipe de saúde, ajuda na compreensão de como cada situação está avançando. Afinal, na saúde, não é possível avaliar o desempenho de uma organização pela média dos casos – se há um paciente sequer em inconformidade com o cenário planejado, há um problema que precisa ser resolvido o quanto antes.
Alex Meincheim é CEO da UpFlux, primeira plataforma de process mining no Brasil