Artigo – Dia Mundial do AVC: reconhecimento precoce dos sinais e agilidade no atendimento pode reverter sintomas

O acidente vascular cerebral é uma das mais temerárias condições médicas que podem afetar um ser humano. Popularmente conhecido no Brasil como AVC ou derrame, essa condição é a principal causa de incapacidade física e a segunda principal causa de morte na nossa sociedade. Além disso, o impacto negativo do AVC não se limita apenas ao paciente, mas sim a todos que o cercam, principalmente à família. Nesse sentido, o dia 29 de outubro ficou estabelecido como o Dia Mundial de Conscientização do AVC.

Dados da Organização Mundial da Saúde estimam que o AVC atinge aproximadamente 15 milhões de pessoas no mundo por ano, sendo, portanto, de extrema importância para a saúde pública falar sobre o assunto. Essa condição diz respeito a uma disfunção do sistema nervoso central causada por uma alteração vascular aguda, que pode ser de origem isquêmica, quando há uma obstrução de um vaso sanguíneo cerebral por um trombo ou êmbolo, ou pode ser de origem hemorrágica, quando há ruptura de um vaso sanguíneo cerebral.

Mais comuns, os AVCs isquêmicos são responsáveis por aproximadamente 75% dos casos. Os sintomas mais frequentes são a perda da força, que se traduz como fraqueza e/ou até mesmo paralisia de membros e/ou de um lado do corpo, alterações da fala, da movimentação dos olhos, comprometimento do nível de consciência, inclusive levando a perda de consciência e coma. Sinais que devem ser rapidamente reconhecidos para que não se perca tempo e que não haja demora na procura de assistência médica.

Como fazem parte das doenças que envolvem o sistema cardiocirculatório, o AVC é mais frequente nos indivíduos que possuem alguma condição predisponente para a instalação de eventos vasculares que podem ser doenças congênitas, adquiridas ou até mesmo consequência de hábitos, como o tabagismo.

Os fatores de risco do AVC são divididos em modificáveis e não modificáveis. Os fatores não modificáveis são aqueles que são inatos ao indivíduo, como idade, sexo, raça, localização geográfica e hereditariedade. Dentro desse grupo, podemos salientar que o risco de AVC praticamente dobra a partir dos 55 anos e que negros têm duas vezes mais chances de AVC em comparação aos brancos. Em relação ao gênero, o AVC pode acometer tanto homens quanto mulheres, sendo mais frequentes nos homens dos 50 aos 80 anos e nas mulheres acima dos 80 anos, em função da maior expectativa de vida. Os fatores modificáveis são aqueles que podem ter seu curso modificado por meio de intervenções de prevenção e tratamento, assim como de mudança de hábitos de vida. Nesse grupo incluem-se a hipertensão arterial, o diabetes, a obesidade e os transtornos metabólicos associados, assim como hábitos nefastos, como o tabagismo e o sedentarismo.

Estudos de prevalência mundial demonstram que aproximadamente 30% da população mundial é afetada pela hipertensão arterial, a qual é um dos fatores de risco mais comumente encontrados em pacientes com AVC. O risco, nesse grupo, aumenta linear e progressivamente quando os níveis pressóricos se elevam a partir de 120/80, com a mortalidade associada dobrando a cada 20 mmHg de pressão sistólica e/ou a cada 10 mmHg de pressão diastólica adicionais.

O tratamento da hipertensão deve ser rigoroso, até mesmo porque há outras consequências tão negativas quanto o AVC para esse grupo de pacientes. O diabetes (DM), que é a elevação persistente dos níveis de glicose (açúcares) no sangue, afeta aproximadamente 10% da população do mundo ocidental e vem aumentando nos últimos anos em decorrência de fatores associados, como obesidade e sedentarismo. A prevalência de diabetes pode chegar de 20% a 25% após os 60 anos de idade, e essa condição contribui com aproximadamente 25% dos casos de acidentes vasculares cerebrais, sendo a maioria do tipo isquêmico.

Um dos pontos positivos que podemos notar ao longo do tempo foi a redução do tabagismo, principalmente no Brasil, onde políticas públicas foram muito eficazes em alertar para os perigos do cigarro, os quais incluem câncer, infarto e doenças pulmonares. A associação do tabagismo a qualquer outro fator de risco praticamente dobra a chance de se ter um AVC.

Por outro lado, outros problemas aumentaram, como o sedentarismo e a obesidade, muito em função do estilo de vida e das demandas da vida moderna, que trouxeram, em paralelo, a ansiedade e a depressão. Essas são condições que devem ser evitadas por meio de hábitos saudáveis de vida, como uma alimentação rica em produtos naturais, com ênfase na ingestão de vegetais, legumes e carnes brancas. O etilismo excessivo também deve ser agressivamente repreendido. O que também deve ser reforçado é a necessidade de movimentação e a prática de atividades físicas.

Quando as medidas de prevenção e controle falham, é importante que os sintomas sejam rapidamente reconhecidos e essa pessoa possa ser levada de imediato a um hospital onde possa receber tratamento médico especializado. Hoje em dia, o AVC tem tratamento, sendo possível inclusive a reversão total dos sintomas e o retorno do paciente às suas funções prévias. Entretanto, para que esse benefício seja alcançado pela maior parte das pessoas, é fundamental que tanto os prestadores de serviços médicos quanto a sociedade em geral sejam alertados e treinados para um reconhecimento precoce e agilidade na forma como lidam com essa situação.

Crédito: Matheus Campos

 

 

 

 

Leonardo de Deus Silva é coordenador do departamento de neurologia e neurocirurgia do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP)

Redação

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