Artigo – Digitalização da saúde pública: um desafio urgente

O isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19 trouxe a conectividade para o centro da atenção no segmento de saúde suplementar, tornando-se peça-chave na nova forma de realizar atendimentos e pensar em estratégias para o setor. Operadoras, médicos e instituições tiveram que lidar com uma alta demanda de atendimento emergencial e a saída, para suprir esse cenário, foi o investimento em tecnologias. No entanto, passados quase três anos, elas ainda seguem em ascensão.

Não há dúvidas de que a digitalização está revolucionando o atendimento de maneira inovadora, abrindo portas para o surgimento de novos modelos de negócios e uso de tecnologias que estão transformando a jornada do paciente, com novos procedimentos de atendimento e tratamento.

Mas esse fato desperta na sociedade a busca de solução para duas questões urgentes: aumentar a velocidade de incorporação de tecnologias nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e estabelecer parcerias com o setor privado, no sentido de aproveitar o seu esforço criativo e de investimento na digitalização dos serviços públicos de saúde.

No Brasil, o país que mais coleta dados do setor, principalmente por contar com o SUS e sua base de informações DATASUS, o atraso na digitalização, sobretudo em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos, e a falta de interoperabilidade fazem com que não seja possível reunir esses materiais e transformá-los em conhecimento, impactando na promoção de melhorias para o segmento como um todo.

O que ocorria antes da pandemia em saúde era apenas uma microssegmentação das plataformas e o mercado estava caminhando no desenvolvimento de aplicativos para o atendimento ao cliente, na marcação de consultas ou exames, mas muito pouco no atendimento remoto. Agora, em muitos casos, os pacientes não precisam ir presencialmente ao médico, o que gerou a esse público mais comodidade e melhor acesso à rede credenciada.

Além disso, é importante destacar toda a segurança do processo de atendimento virtual e, ainda, a questão de adesão ao tratamento, uma vez que as novas tecnologias incentivam o paciente a dar continuidade ao tratamento. Do lado dos médicos, fica mais fácil acompanhar a jornada do paciente, ou seja, houve uma maior proximidade entre o paciente e o especialista, humanizando o atendimento e o cuidado.

Também vale mencionar o acesso à informação médica de grandes centros às pequenas clínicas, ao diagnóstico remoto e ao encaminhamento somente dos casos que realmente necessitam de urgência, além, é claro, da otimização dos processos, redução de custos e segurança da informação, promovendo, assim, a sustentabilidade do segmento de saúde.

A digitalização também trouxe a possibilidade de conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor em setembro de 2021, já que, trabalhando com plataformas tecnológicas e eliminando o papel, é possível garantir toda a rastreabilidade de documentos. A telemedicina é outra ferramenta que ganhou força na pandemia. Atualmente, por meio de plataformas modernas, o paciente consegue, além de agendar consultas, realizá-las de maneira virtual, abrindo portas à propagação do conceito “saúde na palma da mão”.

É fato que, com tantos benefícios para todas as pontas do ecossistema da saúde, é quase impossível ficar de fora da inovação. Como gestor do CEJAM, uma OSS que mantém parcerias com prefeituras e governos de São Paulo e do Rio de Janeiro e atua na promoção e prevenção à saúde para o fortalecimento do SUS, destaco aqui algumas ferramentas tecnológicas já implementadas nas unidades nas quais atuamos, entre elas o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) e os canais Alô Covid (que está retornando) e Alô Gestante, para acompanhamento remoto dos pacientes. As novidades fazem parte do Programa de Saúde Digital do CEJAM, em fase de teste e aprimoramento para sua extensão a todas as unidades de atenção básica sob nossa gestão.

Afinal, quando se fala em medicina e saúde, a coleta de dados orientados para essa necessidade envolve toda uma cadeia heterogênea, desde governos e hospitais até indústria farmacêutica, postos de saúde e pacientes, já que todos precisam estar relacionados. O que falta é ampliação dos investimentos, priorização desta pauta dentro das organizações e possíveis parcerias também com healthtechs, que são uma alternativa importante para acelerar o processo, por um custo mais acessível. Ainda há muito por vir e muito a se fazer, especialmente em healthcare e outras grandes integrações de informação. Mas a tecnologia veio para ficar, ajudar a salvar vidas e colocar as análises clínicas e de imagem entre os especialistas e as instituições, sejam públicas ou privadas, de forma universal e integral.

Alinhado a esse cenário, dinâmico e em constante evolução, o CEJAM, enquanto referência de gestão de saúde populacional, seguirá com seu compromisso de fomento à pesquisa científica, tecnológica e inovação em saúde, visando a melhoria contínua e corroborando na modernização do sistema de saúde, em busca da excelência no atendimento ao paciente e reforçando sua missão de ser instrumento transformador da vida das pessoas.

Por fim, quero enaltecer os profissionais de saúde que demonstram capacidade e engajamento nesta transformação do mundo real para o mundo digital, que é irreversível.

Ademir Medina é CEO do CEJAM (Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”)

Redação

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