Referência nas obras sobre Medicina no século XIX, a pintura Clínica Gross (1875), do americano Thomas Eakins (1844-1916), tem como destaque um dos mais destacados cirurgiões de sua época, o Dr. Samuel D. Gross, com cerca de 70 anos, vestido de preto, com um bisturi ensaguentado lecionando no Jefferson Medical College.
Como era seu hábito, Eakins se retrata na obra. Está do lado esquerdo da pintura, escrevendo ou desenhando. O trabalho valoriza a cirurgia como associada a atividades de cura e não apenas à amputação, como era o costume anterior. O rosto do paciente está coberto pela toalha encharcada de clorofórmio, indicando o uso de anestesia geral.
Eakins presenciou de fato a cirurgia. Gross operou um adolescente com osteomielite, inflamação causada por uma infecção. Destaca-se a presença de uma mulher, a mãe do paciente, que, como era prática na época, que assiste ao procedimento para testemunhar a ação dos médicos. Seu desespero é colocado em oposição à frieza da equipe médica.
Esse contraste despertou polêmica. Eakins, chegou até a frequentar aulas de anatomia naquela escola, o que lhe facilitava mostrar a coxa esquerda exposta sendo submetida à remoção de um segmento do fêmur. Merece ser lembrado ainda que a pintura mostra como as aulas de cirurgia funcionavam como uma espécie de teatro no século XIX.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo