Agora está claro que os efeitos persistentes da Covid-19 podem afetar sua saúde de várias maneiras – incluindo como seu corpo reage à cirurgia. Nesse caso, as mudanças são significativas. Um número crescente de estudos tem mostrado um risco substancial aumentado de morte pós-operatória e complicações pulmonares por pelo menos seis semanas após a infecção sintomática e assintomática pela doença.
Nenhuma cirurgia é isenta de riscos, e os cirurgiões sempre avaliam os riscos e benefícios de realizar um procedimento específico em um determinado paciente. Essas descobertas sobre a conexão entre a infecção por Covid-19 e complicações cirúrgicas e mortalidade adicionam novas variáveis à equação, e hospitais e sistemas de saúde em todo o país estão adotando novas políticas para manter os pacientes os mais seguros possível.
Uma nova política da Yale New Haven Health agora estipula que cirurgias eletivas para pacientes adultos que requerem anestesia geral ou neuroaxial (anestesia aplicada ao redor dos nervos, como peridural) devem ser adiadas sete semanas a partir do momento de um diagnóstico Covid-19 conhecido.
Além disso, cirurgias eletivas para adultos imunocomprometidos, diabéticos ou com história de hospitalização devem ser adiadas de oito a 10 semanas após o diagnóstico. Aqueles com histórico de hospitalização em terapia intensiva devem ser adiados por 12 semanas.
Os cirurgiões são aconselhados a discutir os riscos de prosseguir com a cirurgia com um paciente antes do tempo, diz Nita Ahuja, MD, MBA, presidente de cirurgia da Yale Medicine e chefe de cirurgia do Yale New Haven Hospital. Essas diretrizes não se aplicam a cirurgias de urgência e emergência, acrescenta ela.
Vários pequenos estudos, incluindo um publicado no The Lancet, sugeriram que pacientes com resultados positivos do teste de Covid-19 podem ter resultados piores e maior chance de morrer após a cirurgia. Um grande estudo internacional, publicado na revista Anesthesia, mostrou que manter a cirurgia em espera por pelo menos sete semanas após um teste de Coronavírus positivo estava associado a um menor risco de mortalidade em comparação com nenhum atraso.
O estudo mais recente sobre este tópico foi publicado no JAMA Network Open em abril e comparou 5.470 pacientes cirúrgicos com resultados positivos do Coronavírus (em seis semanas) com 5.470 pacientes com resultados negativos. Houve mais do que o dobro do número de mortes relatadas no grupo Covid-19 positivo versus o grupo com resultados negativos.
A conexão entre a infecção pela doença e complicações cirúrgicas parece lógica, dado como a pesquisa sugere uma ligação entre a infecção e a inflamação. “Além disso, uma infecção cria um estado inflamatório no corpo, que pode se perpetuar por pelo menos seis semanas”, explica o Dr. Ahuja. “É por isso que recomendamos adiar a cirurgia pelo menos seis semanas, para que seu corpo não esteja ainda lidando com os efeitos do vírus”.
Não é apenas o procedimento cirúrgico, mas também a anestesia que pode agravar a inflamação no corpo, observa o Dr. Hines.
“A Covid-19 é uma doença emergente e ainda estamos aprendendo sobre suas repercussões agudas e crônicas. Inicialmente pensamos que era uma doença respiratória, mas agora aprendemos sobre coágulos sanguíneos e um processo inflamatório complexo”, acrescenta o Dr. Hines. “Daqui a seis meses, podemos ter diretrizes diferentes à medida que os dados estão evoluindo.”
Rubens de Fraga Júnior é professor de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná. Médico especialista em geriatria e gerontologia pela SBGG
Referências:
Max R. Haffner et al, Postoperative In-Hospital Morbidity and Mortality of Patients With COVID-19 Infection Compared With Patients Without COVID-19 Infection, JAMA Network Open (2021). DOI: 10.1001/jamanetworkopen.2021.5697
Timing of surgery following SARS‐CoV‐2 infection: an international prospective cohort study, Anaesthesia (2021). DOI: 10.1111/anae.15458
Por que os médicos morrem de doença se o corpo doente já está com o médico e o médico tem acesso facilitado aos hospitais?