Mais do que um ato de cidadania, a doação de sangue representa uma necessidade social que deve ser constantemente repensada e refletida por todos, globalmente. Simbolizando altruísmo e benevolência, se resume em uma ação que reflete ética e responsabilidade individuais e coletivas.
O círculo virtuoso da doação de sangue gera satisfação pessoal, sensação de utilidade, bem-estar social, dever cumprido, aumento de autoestima, reconhecimento, evolução emocional, entre muitas outras oportunidades de bem-estar psíquico. E torna-se muito frágil diante das mais variadas interferências, tanto externas (como clima, período de férias, pandemias, crises sociais e econômicas), quanto internas (revoltas temporárias, perdas, compromissos inadiáveis ou adiáveis, astenia, entre outras).
Porém, tal necessidade existe sempre, constantemente, imensamente e intensamente, e o contingente de pessoas impelidas a doar, tão necessário, se mostra insuficiente, globalmente e localmente. São recorrentes e verídicas as informações de que os estoques de sangue de qualquer hemocentro estejam abaixo do ideal ou até do mínimo necessário para garantir a sobrevivência de pacientes em situações de necessidade transfusional, tanto agudas (como traumas, acidentes, cirurgias, sangramentos), quanto dos que dependem de transfusões regulares para sobreviver, como anêmicos, talassêmicos, falciformes, aplásicos, displásicos, oncológicos, dentre outros.
Mas vamos deixar de apontar os já saturados argumentos que corroboram a necessidade de um maior contingente de doadores de sangue para refletir sobre o doador ideal, ou “o melhor” doador, para se garantir quantitativamente esse recurso de tratamento, até o momento, indissociável do ser humano, como fonte de matéria-prima e como compromisso consigo mesmo e com a sociedade em que está inserido.
Infelizmente, tanto no Brasil como na maioria dos países, grande parte dos doadores são recrutados como repositores de sangue, utilizados por familiares ou amigos, quando agentes do Serviço de Hemoterapia utilizam o recurso de abordá-los para se recompor o estoque utilizado, logicamente pleiteando um número suficiente para suprir um balanço positivo em virtude da provável ineficiência de resultados em grande parte dessas abordagens. Esse tipo de ferramenta, apesar de necessária, é insuficiente, por não resultar em quantidade adequada e, principalmente, por não contemplar pacientes agudos, acidentados, óbitos em pouco tempo de internação etc. quando as transfusões já foram realizadas, além de que esses doadores não são necessariamente voluntários, mas impelidos por uma necessidade nem sempre concordante com o princípio da benevolência. Em outras palavras, são doadores por obrigação ou até por coação.
Outro tipo de contingente de doadores são os voluntários por imposição. Não só parece uma situação antagônica, como o é! Muito mais utilizada até há pouco tempo, mas ainda preocupante, são representados por patrões, superiores hierárquicos, provedores etc., que impõem tal condição, muitas vezes para ganhos indiretos ou para se evitar perdas diretas. Logicamente, um despropósito que deve ser combatido e denunciado. Essa última situação, igualmente à anterior, pode comprometer a qualidade do sangue doado, pois o doador, na obrigação ou na condição de não poder se esquivar, pode suprimir informações extremamente importantes para a qualificação e segurança do sangue.
Assim, chegamos ao doador ideal. Aquele que detém as características de vontade incondicional de ajudar uma pessoa desconhecida, pelo simples fato de ajudar. Aquele que se sente na obrigação de tornar esse ato constante, periódico, perene! Aquele que sempre está pronto e estimulado a ceder um pouco do seu tempo para se doar, simplesmente! É nesse intuito que surgem, antes temporariamente, agora mais constantemente, as campanhas de doação de sangue nas mídias de largo alcance e nas redes sociais e corporativas. A identificação, a conscientização e a percepção induzidas por essas campanhas para despertar potenciais doadores latentes vêm conquistando resultados surpreendentes, principalmente entre jovens com essa vontade, específica ou não, ainda em ritmo de espera… É o que estamos observando nos nossos contingentes de doadores, por meio do aumento progressivo dos doadores voluntários. Mas, como dito anteriormente, esse trabalho deve ser constante e perene.
Dr. José Francisco Comenalli Marques Júnior é hematologista do Vera Cruz Hospital e atual vice-presidente da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e Terapia Celular)
Campanha realizada pela Abrale e Abrasta, “Doe Sangue. Salve Vidas!” reforça a segurança do procedimento nos Bancos de Sangue e Hemocentros
Junho é o mês de conscientização da importância da doação de sangue. A iniciativa ganha força no contexto de pandemia, em que os estoques dos Bancos de Sangue estão baixos e muitos doadores estão com receio de ir aos hemocentros.
A Abrale – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia e a Abrasta – Associação Brasileira de Talassemia, para dar mais visibilidade ao tema, realizou um grafite em um muro cedido pela ViaQuatro, localizado entre as pistas expressa e local da Marginal Pinheiros, com visão para a plataforma da Estação Pinheiros, linha Esmeralda da CPTM.
A arte foi feita por Tito Ferrara, em uma área total de 73,83 m². O objetivo é chamar a atenção de quem passa de automóvel pelo local, além dos usuários da linha de trem e os que utilizam o corredor de acesso à linha 4 amarela do Metrô.
Além do grafite, as estações Sumaré, Sacomã e Trianon Masp, da linha verde do Metrô, ficarão iluminadas durante todo o mês de junho, para alertar os usuários sobre a importância da doação de sangue.
Desde maio, as entidades promovem a campanha “A pandemia parou o mundo. Mas a esperança não pode parar. Doe Sangue. Salve Vidas!”, para incentivar a doação neste momento grave que vivemos, por conta da Covid-19. Em 2020, por causa do novo Coronavírus, houve queda de aproximadamente 20% no número de doações.
Famosos como Fábio Porchat, Gloria Maria, Hortência Marcari, Rafinha Bastos e Rodrigo Faro também vão disseminar as informações em suas redes sociais, vestindo uma camiseta vermelha com o slogan da campanha. A iniciativa faz um chamado para que os doadores de sangue vistam uma peça de roupa vermelha, tirem uma foto e postem a imagem marcando a @abraleoficial e a @abrastaoficial, além das #VistaVermelho e #DoeSangue, convidando os amigos a fazer parte da ação.
“A reposição frequente dos estoques de sangue é necessária para tratar anemias crônicas, nos procedimentos de urgência, acidentes que causam hemorragias, complicações da dengue, febre amarela, tratamento de câncer e outras doenças graves. Queremos mostrar a segurança do procedimento e que há milhares de pacientes que necessitam deste ato de amor”, afirma a presidente da Abrale, Merula Steagall.
A campanha já conta com 10 Estados parceiros; com 70 postos de coleta mapeados; apoio da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular); Grupo GSH; das empresas ligadas à Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM) – EMTU, CPTM, Metrô, ViaQuatro, ViaMobilidade e Estrada de Ferro Campos do Jordão (EFCJ). A iniciativa pretende engajar a sociedade em ações e medidas que impulsionem um esforço coletivo para o abastecimento dos Bancos de Sangue.
Os locais de doação estão preparados e higienizados para receber o público. Com as restrições da pandemia, há esquemas especiais para evitar aglomerações e manter distâncias seguras entre os doadores.
E, para facilitar ainda mais, a 99, empresa de tecnologia, agora é parceira da Abrale e Abrasta na ação para doação de sangue. O app disponibilizará vouchers de ida-e-volta a doadores de sangue das principais capitais do país para que cheguem em segurança até os hemocentros. As informações completas de acesso ao cupom estão na página da campanha www.abrasta.org.br/campanha-doacao-de-sangue.
A promoção acontecerá até o dia 14 de julho ou até acabarem os vouchers.
Nos Bancos de Sangue do Grupo GSH, também parceiro na iniciativa, ao longo do mês, acontecem ações de conscientização sobre a campanha Junho Vermelho, com o tema: “O Caminho para a Solidariedade é mais simples do que você pensa”, cujo conceito é a trilha que o doador deve percorrer para praticar esse gesto solidário que pode salvar até 4 vidas. Até o dia 30 de junho (ou enquanto durarem os estoques), os doadores estão sendo contemplados com corações antiestresse, como uma forma de reconhecimento ao seu dia especial e à prática solidária desse gesto de amor pelo próximo.
Para a doação, é necessário ter entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos. Para menores de 18 anos, é necessário o consentimento dos responsáveis. O modelo estará disponível no hemocentro. A pessoa também precisa pesar mais de 50kg e levar um documento de identidade original, com foto recente. É recomendado ligar no hemocentro ou ponto de coleta mais próximo e agendar um melhor horário, para evitar aglomerações.
O presidente da Abrasta, Eduardo Fróes, reforça que a doação é segura e qualquer pessoa, um dia, pode precisar de uma transfusão. “Segundo a OMS, o Brasil está abaixo do número de doadores ideal para um sistema de doação saudável”, destaca.
As informações completas da ação, e sobre a doação de sangue, podem ser vistas em www.abrasta.org.br/campanha-doacao-de-sangue.