O mundo vive um momento crítico e, para seu enfrentamento e superação, as nações têm mobilizado todos os recursos de que dispõem e buscado ampliá-los, sobretudo os científicos e tecnológicos, para dar respostas emergenciais aos problemas do presente.
Já foram muitas as pandemias que assolaram a humanidade. Se olharmos apenas a partir do século XX, logo no seu início as nações se viram diante da Gripe Espanhola (1918-9) que se estima ter provocado 50 milhões de mortes. Entre a Gripe Espanhola e a atual SARS-CoV-2 ocorreram ao menos sete outras pandemias, sendo as mais recentes a Gripe Suína (2009-10), a SARS (2002-3), a Ebola (2014-6) e a MERS (2015 – atual).
Embora haja um aprendizado acumulado do enfrentamento das epidemias e pandemias, a atual tem revelado aspectos novos, desafiando a comunidade científica.
Desta crise uma lição que parece já se afirmar como inescapável é a de que a máxima econômica das vantagens comparativas não pode ser a única fonte de orientação para a administração de áreas como a da saúde pública, que requer concepção estratégica.
Ter 90% da produção mundial de insumos médico-hospitalares concentrados numa única nação, que controla essa cadeia global de suprimento, revelou-se trágico numa crise sanitária global que faz lembrar os alertas do pensador francês Paul Virilio sobre os riscos de um “acidente integral” ou “lockdown global” e da falta de concepção estratégica preventiva. Ainda são desconhecidos os números envolvidos nessas transações, mas certamente atestarão a disfuncionalidade dessa concentração.
Nesse momento, o principal alento é saber que há milhares de profissionais da medicina engajados na criação de uma vacina e de medicamentos para o tratamento da doença. Merece destaque a iniciativa global coordenada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciada no último 24 de abril, que conta com o engajamento de governos, centros de pesquisa e grandes empresas, com o objetivo de vencer o novo coronavírus. A expectativa é de arrecadar 7,5 bilhões de euros nesse início da empreitada.
Além de iniciativas nessa escala, têm sido importantes as respostas locais que vêm se multiplicando em diversos países, como é o caso do Brasil.
O mapeamento da sequência completa do genoma viral SARS-CoV-2 por pesquisadores brasileiros do Instituto Adolfo Lutz, da USP e com a parceria da Universidade Oxford (Reino Unido), logo no início da pandemia na América Latina, foi um exemplo do que podemos fazer mesmo em contexto tão adverso para a pesquisa no Brasil.
Outros exemplos podem ser destacados, como o de pesquisadores da Escola Politécnica da USP que prontamente se mobilizaram para o desenvolvimento de um respirador de baixo custo que já foi aprovado em testes com humanos e batizado de Inspire.
Entre as universidades privadas, merece destaque as ações da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no momento em que a instituição completa 150 anos de sua fundação. Coerente com a reponsabilidade que compreende ter com a sociedade, além da sua tradicional missão de ensinar e qualificar profissionais para o mundo do trabalho, vem engajando pesquisadores de várias áreas do conhecimento e de suas diferentes unidades numa força-tarefa, com atuação em rede, coordenada por sua Coordenadoria de Fomento à Pesquisa (CFP).
Desses projetos, destacam-se o MackShield e o MackBreathe, que como informa o portal da universidade “a Escola de Engenharia (EE) da UPM vem desenvolvendo esses projetos para a produção de máscaras que são escudos faciais para profissionais da saúde e protótipos de respiradores mecânicos de baixo custo, respectivamente”.
Além das aulas on-line em função do isolamento social, os docentes da UPM têm envidado esforços para o oferecimento de atividades que envolvam seus estudantes com a realidade vivida pelo país e os desafios que se colocam para os diferentes atores sociais.
Uma dessas atividades foi uma pesquisa que estudantes do 4º semestre do curso de Administração, no campus Alphaville, desenvolveram no âmbito da disciplina Princípios de Empreendedorismo, por mim conduzida. Com o objetivo de aplicar conceituação sobre empreendedorismo e tipo de empreendedor, os estudantes identificaram ações empreendidas por diferentes agentes, inseridas no contexto da pandemia e isolamento social dando, assim, maior significado ao conhecimento.
Renovar a confiança nessa capacidade de avanço e, ao mesmo tempo, de correção de rumos e valores, bem como na força que advém da cooperação, de diferentes atores sociais, fará a diferença no caminho e resultados obtidos pelas sociedades diante de mais essa pandemia que enfrentamos e da qual poderemos sair fortalecidos.
Arnaldo Francisco Cardoso é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Alphaville