Segundo os dados da Conta-Satélite de Saúde Brasil 2010-2015, divulgados pelo IBGE no fim de 2017, o consumo final de bens e serviços de saúde no país cresceu e atingiu R$ 546 bilhões, o equivalente a 9,1% do PIB. Deste total, R$ 231 bi (3,9% do PIB) corresponderam a despesas de consumo do governo e R$ 315 bi (5,2% do PIB) a despesas de famílias e instituições sem fins de lucro a serviço das famílias.
O Brasil possui um Sistema Único de Saúde (SUS) que atende cerca de 190 milhões de pessoas. Lidar com uma grande demanda e garantir um bom atendimento à população é um desafio. Além disso, com a limitação do orçamento, problemas na administração dos recursos e gestão das unidades, o sistema, muitas vezes, deixa de cumprir seu papel. De acordo com a KPMG, porém, os planos privados de saúde estão vendo suas receitas caírem – porque muitos associados não conseguem arcar com os custos do serviço – e seus custos aumentarem, revelando que o setor privado também é afetado.
Na contramão desses dados, muitos empreendedores aproveitam as oportunidades para criar startups e alavancar o mercado. O campo de saúde digital ainda é recente no mundo. A primeira aceleradora focada em startups de saúde surgiu nos Estados Unidos, em 2010, e, no Brasil, em 2015. Diante desse cenário nasceram as HealthTechs, empresas que oferecem soluções de tecnologia à área da saúde. Entre alguns recursos disponibilizados estão telemedicina, testes genéticos e diagnósticos por videoconferência. O setor, portanto, vive uma transição – e a tecnologia ganha ainda mais espaço.
Devido à grande demanda e à carência na área de atenção básica de saúde, além das limitações de recursos para atender à população, o setor das HealthTechs é um dos mercados potenciais mais promissores no Brasil. Por esse motivo, inúmeras tecnologias têm sido desenvolvidas com aplicações para este campo, desde soluções de atendimento automatizado – como os chatbots –, até sistemas de auxílio a diagnóstico por inteligência artificial. Além disso, tecnologias como Big Data permitem a análise preditiva da evolução do tratamento de pacientes individuais, e até de possíveis epidemias – permitindo ações preventivas em ambos os casos que minimizem os efeitos e reduzam os custos de atendimento, aumentando a eficiência do sistema.
Assim como o setor brasileiro de saúde, entretanto, as HealthTechs também enfrentam alguns desafios. Há barreiras relevantes, desde questões operacionais – por ser um setor ainda controlado pelo sistema público –, até limitações e burocracia para a rápida adoção de tecnologias. A resistência cultural à inovação é outro fator que, em muitos casos, restringe a utilização de sistemas automatizados, como o prontuário eletrônico, ferramenta essencial para o ganho de produtividade e a obtenção de dados para análise.
Portanto, são necessários mais recursos para investimentos nessas startups – não apenas capital financeiro, pois a inteligência agregada também é essencial às empresas. As aceleradoras devem agregar todo seu conhecimento e experiência a fim de estimular o desenvolvimento das startups no mercado em questão. O setor brasileiro de saúde é, sem dúvida, o segmento com uma das maiores demandas do país. Para enfrentar seus desafios, entretanto, é preciso romper as barreiras burocráticas e culturais.
Roberto Colletta é diretor da Health Angels, aceleradora de startups atuantes no setor de saúde