Depois do open banking e open insurance, chegou a vez do setor da saúde aderir ao modelo aberto de compartilhamento de dados, trazendo mais agilidade e benefícios para empresas e pacientes. Em fevereiro, o Ministério da Saúde anunciou interesse no open health, uma medida que permite que operadoras de saúde, clínicas médicas, hospitais e consultórios possam compartilhar de maneira responsável e legal as informações dos pacientes – desde que, sempre, autorizadas pelo proprietário dos dados.
Essa prática propõe, entre outras coisas, que as instituições de saúde criem produtos e ofereçam soluções mais adequadas, personalizadas e padronizadas aos perfis dos pacientes. Além disso, é um movimento importante para automatização e ganho de produtividade, tanto para o compartilhamento e atualização de informações entre diferentes entidades e planos, quanto para o armazenamento e recuperação destes mesmos dados.
O dia a dia dos profissionais da saúde também será positivamente impactado. Não estamos falando apenas do histórico do paciente, mas também do compartilhamento de informações multimídia, como resultados de exames e imagens médicas. Com esses dados em mãos, o processo de diagnóstico e orientação pode ser otimizado em grande escala.
O Open Health também pode e deve ser aplicado no âmbito da gestão pública. A capacidade de se agregar dados de pacientes para a gestão de saúde da população e desenvolver ou aprimorar programas de qualidade de atendimento tem um potencial enorme de transformar a maneira como a saúde é tratada hoje em dia no Brasil.
No entanto, alguns detalhes ganham muita importância com essa potencial mudança. Instituída e em vigor desde 2020, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) traz uma série de regulamentações e parâmetros para garantir a segurança de dados sensíveis e informações pessoais. Com o open health, as instituições de saúde teriam de investir ainda mais em sistemas e soluções que garantam compliance corporativo e assegurem que apenas os dados autorizados pelos pacientes sejam acessíveis, assim como estes sejam devidamente notificados a quem as informações estão sendo compartilhadas. Além de manter a transparência entre as duas partes, também é preciso qualificar os sistemas de proteção contra invasões, vazamentos ou softwares malignos.
Outro ponto que merece atenção é a padronização dos dados para o compartilhamento dessas informações. A princípio parece algo fácil, porém a saúde é um setor complexo e sabemos que as instituições possuem formas distintas de nomear e classificar os dados, conforme seus padrões e interesses. Essa prática também precisa ser uniformizada ou minimamente orientada para que haja uma linguagem unificada e, assim, interoperabilidade no segmento.
Com tantos detalhes voltados para dados e informações, é preciso entender como a tecnologia apoia esse movimento, quais ferramentas serão utilizadas e quais investimentos serão realizados. Importante destacar que as instituições de saúde públicas e privadas possuem uma alta discrepância financeira para investimentos tecnológicos e esse é outro fator a ser observado pelos órgãos regulatórios. Nesse sentido, também é importante destacar que, na área da saúde, a taxa de profissionais habituados a utilizar ferramentas tecnológicas mais modernas de gestão ainda deixa a desejar – o que torna o cenário um tanto quanto delicado.
Uma vez que bases de dados são consolidadas e analisadas, é possível fazer o mapeamento e segmentação de pacientes e, aliado a outras informações, pensar em soluções voltadas para atender cada perfil de pessoa ou até mesmo novas maneiras de lidar com doenças específicas.
De forma geral, os órgãos regulatórios de saúde também conseguem ampliar a visibilidade sobre as instituições e, assim, ter acesso conjunto às informações dos pacientes. Com isso, é possível unificar uma base nacional e a partir das notificações fazer análises e elaborar projeções sobre eventuais epidemias, antecipando campanhas vacinais ou de conscientização de doenças.
Em resumo, o setor da saúde avançou bastante nos últimos anos em diversos aspectos, sejam esses teóricos ou funcionais. Tecnologicamente, as instituições também se apresentam mais qualificadas e com maior aderência digital, a partir de investimentos realizados recentemente – muitos deles impulsionados pela pandemia. Diante do cenário atual, mesmo com desafios, o público pode aguardar uma movimentação e mudanças no segmento, que serão estruturadas para gerar benefícios efetivos e uma melhor experiência do paciente. Esse deve ser um objetivo comum, de instituições (públicas ou privadas) e do governo, em prol da sociedade.
Rogério Pires é diretor de produtos de Saúde da TOTVS