Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 50% do total de vacinas produzidas em todo mundo são perdidas anualmente. Uma das probabilidades apontada pela entidade para tanto desperdício está na deficiência do monitoramento das temperaturas e nas condições na qual esses insumos são armazenados. Mas esse não é o único aspecto que preocupa quando o assunto é má gestão na área da saúde. A soma de erros médicos, falhas processuais e infecções causaram mais de 54 mil mortes no país no ano passado, segundo dados da 2ª edição do Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, produzido pelo Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), em parceria com o Instituto de Pesquisa Feluma, da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais.
Esses números, por si só, já seriam suficientes para revelar que temos problemas graves de ineficiência no setor. Mas se ainda desconfia, há outro estudo que é categórico nessa questão e não deixa dúvida. Em um levantamento realizado pela Bloomberg, que mediu a eficiência dos serviços prestados na área da saúde de 48 países, o Brasil ficou em último lugar. Ficamos atrás dos vizinhos da América do Sul, como Colômbia, Peru, Chile e Venezuela. Mas ainda bem que há uma demanda crescente por novas tecnologias no mercado de assistência médica e, de certa forma, essa onda pode pressionar os players de HealthCare no país a oferecer melhores serviços de atendimento médico.
Segundo o Gartner, o conceito de “Digital Twin” será uma das tendências tecnológicas de 2019 e tem potencial para impactar os negócios nos próximos anos. O objetivo do Digital Twin é criar uma representação digital de um elemento físico qualquer e considera a forma ou a dinâmica com a qual esse elemento interage e se relaciona com outros. Para simplificar, podemos fazer uma analogia com um simulador que replica, virtualmente, a imagem de uma pessoa ou lugar e de itens mais complexos como linha de produção, processos, sistemas, dispositivo, carro e outros.
Como parte integrante do conceito de “Digitial Twin” estão as tecnologias de IoT e, à medida que os dispositivos enviam seus dados e os algoritmos de inteligência artificial e machine learning reconhecem essas informações, os elementos e suas interações presentes na simulação são atualizados constantemente, refletindo um comportamento semelhante do mundo real. A aplicação desse conceito na Indústria permite que uma determinada ferramenta seja testada em várias condições de adversidades. O principal ganho aqui é a possibilidade de fazer um acompanhamento em tempo real de todo o processo e ainda fazer diagnósticos de problemas e insights para aperfeiçoamento. E aí que entra a Saúde.
Da mesma forma que o Digital Twin permite fazer uma simulação de um dispositivo ou sistema, é perfeitamente plausível fazer de um paciente, uma clínica médica, equipamento ou até de um vírus. Assim como acontece na indústria 4.0, modelos virtuais serão criados e aplicados com propósito de melhorar a eficiência e a qualidade do atendimento médico, além de evitar desperdícios e reduzir custos das organizações.
Vamos para um exemplo prático. Um hospital pode simular e medir seu desempenho baseado na experiência de um paciente, desde a recepção do mesmo, o tempo de espera, condições de internação, até a sua alta. Na verdade, as aplicações são inúmeras: com um modelo virtual é possível simular um modelo de disposição logística das salas em uma clínica médica, trabalhar com questões de higiene e limpeza, organizar a farmácia e a medicação de pacientes, aprimorar os procedimentos cirúrgicos, monitorar atuação de médicos e farmacêuticos, acompanhar tratamentos e diagnósticos de doenças, minimizar o tempo de parada de equipamentos hospitalares por meio de manutenção preventiva e aperfeiçoar as condições e a qualidade de pesquisas.
Todos esses benefícios vão ajudar os CIOs de hospitais a criar estratégias mais assertivas para o seu negócio e enterrar de vez os discursos simplistas de aumentar o número de leitos ou mais unidades, que na prática, não resolvem o problema do setor. É necessário implementar soluções inovadoras para otimizar os serviços das instalações já existentes.
O digital twin é um exemplo claro de como a tecnologia tem caminhado para melhorar a vida das pessoas e a eficiência operacional das empresas, que poderão oferecer produtos e serviços totalmente alinhados com as expectativas dos clientes, cada vez mais exigentes.
Marcelo Abreu é Executivo de Inovação do Venturus e Rafael Gava de Oliveira é Analista de Desenvolvimento do Venturus