Apesar de ainda não existir uma cura para o câncer, os avanços tecnológicos estão transformando a forma como combatemos esta doença. A tecnologia não só desenvolve mais rapidamente novas soluções como também reduz os seus custos.
A escalabilidade e a relativa acessibilidade da tecnologia na nuvem ajuda profissionais de saúde e pacientes a enfrentar o câncer de forma mais eficiente nas suas várias fases, do diagnóstico à remissão. A Inteligência Artificial e o Machine Learning (IA/ML) geram insights mais profundos a partir de dados genéticos, clínicos e de imagem, o que acelera o ritmo da análise de dados. A nuvem permite a partilha segura de dados, e investigadores de todo o mundo podem trabalhar em conjunto e comunicar entre si descobertas importantes em tempo real. E a tecnologia por trás da monitorização remota e da telemedicina permitem que os pacientes assumam maior controle da sua luta.
A tecnologia não é uma solução mágica para acabar com o câncer, mas é uma facilitadora dos verdadeiros heróis. Vi em primeira mão como a tecnologia pode tornar a investigação mais eficiente e eficaz, o diagnóstico mais rápido e preciso, acelerar a descoberta e desenvolvimento de medicamentos, e aumentar a acessibilidade através de prestação de cuidados de forma remota e ensaios clínicos mais inclusivos.
O Cancer Genome Atlas recolheu dados de quase 20 mil tumores e amostras de tecido normal comparativo de 11.328 pacientes em 33 tipos de câncer. As visualizações produzidas a partir desses dados ilustram como os diferentes tipos de câncer se desenvolvem e se espalham, incluindo padrões nas células onde se originam, o papel de diferentes variantes de vírus no aparecimento de mutações, e as vias de sinalização no corpo que podem ser aproveitadas para tratamentos eficazes. O Atlas faz parte do AWS Registry of Open Data, que permite que investigadores de todo o mundo expandam a sua base de conhecimento.
Mapear esta diversidade genética exige gerar e analisar uma quantidade imensa de informação de apoio a médicos e investigadores – para o tratamento dos pacientes, e para o desenvolvimento de novos medicamentos. Mas, é essencial garantir a segurança destes dados, o seu armazenamento, uso e tratamento, assim como a visualização e análise.
A maioria dos pacientes tem o seu diagnóstico de câncer quando vai ao médico para uma consulta de rotina ou para tratar um problema aparentemente não relacionado. A IA consegue identificar indicadores visuais sutis da doença, mesmo quando não é o foco da consulta médica. Esta capacidade de diagnóstico precoce é fundamental, pois aumenta significativamente as taxas de sobrevivência.
Apesar da importância da investigação e do diagnóstico, o sucesso do tratamento depende do acesso aos medicamentos adequados. Desenvolver um novo medicamento é um processo longo e dispendioso: demora entre 10 a 15 anos (dados da PhRMA), custa cerca de 2,6 mil milhões de dólares e nos EUA, por exemplo, apenas 12% das novas moléculas conseguem aprovação da Food and Drug Administration (FDA).
A campanha contra o câncer não envolve apenas tratar a doença de forma mais rápida e eficaz. À medida que o câncer se espalha, será igualmente importante melhorar o acesso ao tratamento para todos, assim como garantir que os tratamentos futuros sejam desenvolvidos tendo em mente todos os que sofrem da doença.
Mas o desafio não está só em encontrar tratamentos mais eficazes, mas também em garantir que os mesmos estão acessíveis a todos, independentemente da sua condição socioeconômica. É crucial ampliar o acesso aos tratamentos oncológicos, tanto geograficamente como via cuidados em domicílio – que permitem que os pacientes enfrentem a doença no seu ambiente familiar, preservando o seu conforto, dignidade e autonomia.
Em regiões remotas da China, a disponibilidade limitada de especialistas em ultrassons é uma das barreiras ao diagnóstico. Para combater este problema, a empresa Shangyiyun desenvolveu o Dr. J., um assistente de IA que faz triagem de câncer da mama. O Dr. J detecta e identifica automaticamente lesões e carrega os vídeos e imagens dos exames realizados para a nuvem, para que sejam analisados por especialistas onde estiverem. Esta ferramenta garante a identificação de casos suspeitos mais rapidamente.
O grande desafio do câncer é que cada caso é único, tal como os genes em cada tumor. A tecnologia na nuvem permite procedimentos médicos mais personalizados, direcionados e eficazes, o que também traz importantes benefícios psicológicos. Ajudar cada paciente a ficar no seu ambiente, a sentir-se compreendido e apoiado, não só possibilita um tratamento mais direcionado como contribui significativamente para experiências e resultados positivos.
Rowland Illing, diretor médico e diretor de International Government Health na AWS