Artigo – Varíola dos Macacos, o chamado “Monkeypox”

Novamente nos vemos diante de notícias de um novo vírus em circulação, dessa vez causador de lesões de pele, gerando preocupação na população por uma possível nova pandemia. Nesse caso, falamos da Monkeypox, assim denominado, pelos primeiros relatos serem relacionados com macacos na Ásia. É uma doença zoonótica em que o ser humano pode ser infectado em contato com os animais. Os mais idosos certamente recordam-se da temida Varíola (Smallpox) que foi erradicada como infecção humana em 1980 e que se apresentava com lesões semelhantes à agora chamada varíola do macaco.

Os Orthopoxvirus são grandes DNA vírus (200-400nm) envelopados, que se replicam no citoplasma celular do hospedeiro e três são as principais espécies que podem infectar o homem. O Cowpox (vaccínia vírus), comum no gado, infectando o homem quando em contato com as feridas dos animais infectados, causando lesões mais comumente nas mãos. Dessa espécie foi feita a vacina contra a Varíola Humana e a primeira vacina a ser descoberta e utilizada, por esse motivo ganhando o nome de Vacina. A Smallpox (Varíola Humana), já erradicada como mencionada acima; e a atual preocupação Monkeypox (Varíola do Macaco) que, apesar do nome, pode ter outros hospedeiros, como roedores, outros primatas não humanos e cães de pradaria. É uma doença endêmica nas regiões Oeste e Central da África e que nos últimos meses vem apresentando aumento do número de casos e infecções relatadas fora da área endêmica, o que gera o alerta.

A partir de maio deste ano, mais de 350 casos foram confirmados em 23 países, principalmente na Europa: Inglaterra (106), Portugal (96), Espanha (51), Alemanha (5), França (7), Itália (5), Bélgica (4), Áustria e Dinamarca (1), além de países como Austrália (2), EUA (14), Canadá (26), Argentina (2), entre outros. No Brasil, temos três casos suspeitos aguardando confirmação.

A transmissão acontece por contato próximo, por meio de gotículas inaladas ou por contato com mucosas após o contato direto com as lesões dos doentes ou mesmo com objetos contaminados, como exemplo lençóis, toalhas ou roupas dos pacientes.

Após ocorrer o contágio, ocorre a disseminação do vírus pelo organismo (viremia) e replicação no sistema retículo-endotelial. Ocorre nova viremia e os vírus chegam à pele, dando início ao exantema cutâneo. O período de incubação pode variar de 5 a 21 dias, com média de 6 a 12 dias. Os sintomas podem ser divididos em duas fases: A primeira, chamada de período febril, inicia-se entre os cinco primeiros dias de sintomas com febre, dores pelo corpo, dor de cabeça, fraqueza, perda de apetite e linfadenopatia (ínguas) principalmente no pescoço, submandibular e sublingual. A segunda fase, também chamada fase de erupção, que acontece geralmente após 1 a 3 dias do inicio da febre, aparecem lesões de pele na cabeça, evoluindo para tronco e membros, não poupando órgãos genitais e mucosas, nem mesmo região palmar e plantar, apresentando-se inicialmente como máculas (lesões planas) que tornam-se pápulas (lesões nodulares), seguido de vesículas (lesões com conteúdo liquido), tornando-se pústulas (lesões com secreção purulenta), que se rompem e formam crostas que secam e caem, completando o ciclo da doença. Essa fase pode levar de 2 a 3 semanas. Somente após a queda de todas as crostas é que o doente deixa de transmitir a doença.

Em casos mais graves e em pacientes imunossuprimidos, gestantes e crianças, a doença pode se apresentar com complicações por infecções secundárias de pele, broncopneumonias, lesões oculares, encefalite e gastrintestinais.

O diagnóstico é feito pela coleta de material das lesões com exame RT-PCR. Existem outros testes menos utilizados. As drogas antivirais para tratamento são muito eficazes, porém ainda pouco disponíveis.

A população mais atingida é a de crianças e adultos jovens. Corrobora para isso a vacina para Varíola Humana, que pode proteger em até 85% dos casos. Como a vacinação foi suspensa no final de década de 1970, as principais faixas etárias suscetíveis são os menores de 50 anos. Contudo, a transmissão homem-homem é baixa e é necessário o contato próximo prolongado menor que 1 metro do doente ou contato com as lesões de pele ou objetos e roupas contaminadas, dificultando assim a chance de uma nova pandemia. Além disso, os indivíduos doentes devem ser mantidos em isolamento durante todo período da doença até a queda da última crosta. Já os contactantes dos doentes devem ser vacinados até quatro dias após a exposição, fazendo o bloqueio da transmissão e desenvolvimento da doença. A vacina não está disponível e por isso não está recomendado a vacinação universal. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já solicitou a produção em escala para suprir a necessidade para realização do bloqueio vacinal.

A prevenção é eficaz com uso de máscaras e lavagem das mãos. Os profissionais devem utilizar vestuário adequado, semelhante ao utilizado na pandemia de Covid-19 ao entrar em contato com pacientes.

Marcelo Eichholzer de Oliveira é professor de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR)

Redação

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