Asco 2022: Brasileiro apresenta dados inéditos que expõe lacunas na personalização do tratamento do câncer durante maior evento global de oncologia

O avanço dos estudos envolvendo o genoma humano fez com que nos últimos anos a genética se tornasse parte indispensável em diferentes áreas da medicina. Dentro delas, a oncologia vem se beneficiando tanto na precisão diagnóstica quanto na eficácia do tratamento – ambas proporcionadas por análises da genética do tumor e dos indivíduos com câncer.

Ainda assim, um dos grandes desafios para a evolução da análise do DNA no combate ao câncer está na falta de dados coletados que representem melhor a pluralidade de diferentes populações e países. Não à toa o tema foi destaque da programação do Fórum Educacional do Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), o maior evento especializado em câncer do mundo, que acontece de 3 a 7 de junho, em Chicago (EUA).

Liderado pelo brasileiro Rodrigo Dienstmann, Diretor médico do OC Precision Medicine – laboratório de medicina de precisão do Grupo Oncoclínicas -, o painel Dados genômicos: o que estamos perdendo? lançou uma visão analítica sobre os desafios relacionados à coleta de dados genéticos no avanço do tratamento equitativo do câncer por meio da inovação e da personalização do tratamento oncológico.

“O câncer se desenvolve a partir de alterações genéticas, podendo elas ser hereditárias ou, como acontece em cerca de 90% dos casos, somáticas – aquelas adquiridas e que ocorrem ao acaso ou como consequência do impacto de fatores externos ao longo da vida, sem relação com herança genética familiar. E foi graças a essas descobertas sobre os mecanismos que levam à origem dos tumores malignos que a ciência avançou nas últimas décadas no desenvolvimento de medicamentos capazes de atacar com cada vez mais precisão as células doentes”, explica o oncologista e pesquisador.

Contudo, há desafios no tocante à coleta dos dados que contribuem para tais descobertas. Primeiro, as alterações genéticas mais relevantes para tratamento personalizado do câncer costumam ser raras, o que demanda o estudo de um grande número de pacientes para sua caracterização. Além disso, boa parte dos estudos que identificaram mutações que levam ao surgimento de células cancerígenas e o desenvolvimento de novas drogas no combate à doença ainda estão restritos a amostras populacionais majoritariamente provenientes de regiões economicamente desenvolvidas, de raça branca e etnia europeia.

“Os tumores identificados no Brasil não são necessariamente idênticos aos norte-americanos e europeus, por exemplo. É preciso investir na epidemiologia e no diagnóstico de alta qualidade por meio da coleta ativa de dados populacionais com recortes plurais, uma plataforma de informações que permitirá não apenas ampliação do arsenal de marcadores genômicos como também o aprimoramento dos já existentes, já que eles estão constantemente em construção”, ressalta o diretor médico do OC Precision Medicine.

Ao gerar recortes específicos de acordo com as características populacionais de cada país, Rodrigo Dienstmann aponta que é possível abrir novas frentes para tratamentos mais precisos e personalizados, promovendo amplamente a evolução global no combate ao câncer. “A descoberta de novas mutações que levam ao surgimento do câncer faz com que torne-se possível também criar melhores alternativas terapêuticas. Com isso, podemos oferecer o que existe de mais avançado aos pacientes de forma global, respeitando suas raízes e origens, de forma cada vez mais personalizada e individualizadas”, finaliza.

Redação

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