Atuar na prevenção, com equipe multidisciplinar, é fundamental para reduzir mortalidade materna

O Brasil teve pouco a comemorar neste 28 de maio, Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. Mesmo antes da Covid-19, o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, de maio de 2020, registrava o óbito de 39 mil mulheres por complicações na gestação ou parto, entre 1996 e 2018. Neste último ano do levantamento, o índice foi de 59,1 óbitos por 100 mil habitantes, bem acima da meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em torno de 30 mortes por 100 mil habitantes.

Do total de mortes, de acordo com o mesmo Boletim, 67% foram de causas obstétricas – falta de assistência, erro ou omissão ao longo da gestação – e o restante provocado por doenças pré-existentes, desenvolvidas ou agravadas pelos efeitos fisiológicos da gestação. Os especialistas afirmam, ainda, que 92% dos casos de mortalidade materna são decorrentes de causas evitáveis.

Para o médico Raphael Leão, coordenador de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital e Maternidade Christóvão da Gama (HMCG), que integra o Grupo Leforte, em Santo André (SP), “esses percentuais mostram que atuar preventivamente, com equipe multidisciplinar, durante o pré-natal e no pós-parto, é essencial para que o Brasil melhore seus indicadores, salve milhares de vidas e ofereça condições dignas para todas as gestantes.”

O quadro de mortalidade materna passou a preocupar ainda mais os especialistas, diante do agravamento da pandemia da Covid-19 e a ameaça que a doença oferece para as mulheres em fase gestacional.

O Dr. Raphael Leão destaca que, desde o início da pandemia, o HMCG realizou aproximadamente mil partos, sendo 23 em mulheres infectadas pelo Coronavírus. Dessas, cinco foram intubadas em UTI, em situação mais grave, mas se recuperaram.

“Nossos protocolos de assistência e de segurança do paciente já estabeleciam regras muito rígidas para identificação e atendimento separado para todos os pacientes infectados pelo Coronavírus. No caso das gestantes, a incorporação de um atendimento multidisciplinar, envolvendo cirurgiões, pediatras, fisioterapeutas, intensivistas, pneumologistas, enfermeiros e outros profissionais, foi fundamental para o sucesso que tivemos até aqui”, afirma.

O desfecho do caso de Rosana Franzo Batista ajuda a comprovar o sucesso da estratégia adotada pelo HMCG. Quando ela e o marido, Thiago Fagundes Batista, receberam a notícia sobre a gravidez de Pedro, não imaginavam que a história teria tantas emoções e percalços por causa da pandemia de Covid-19.

Durante a gestação, a família se infectou com o Coronavírus e o quadro de Rosana, grávida, se agravou rapidamente. Ela foi internada no Hospital e Maternidade Christóvão da Gama e imediatamente precisou ser internada. Diante da piora do quadro, foi intubada na UTI.

Para não colocar em risco a vida do futuro bebê, o parto foi antecipado para o dia 12 de março, com Rosana ainda sedada na UTI. Pedro também seguiu para a terapia intensiva, para ganhar peso, em razão do parto prematuro.

Rosana teve alta do hospital no dia 5 de abril. Hoje o casal está em casa, ao lado do primeiro filho de seis anos e o pequeno Pedro, que teve alta no dia 14 de maio.

“Esse é um caso emblemático, que mostra a importância da assistência multidisciplinar. Muitas vezes, a situação vai além da atuação do obstetra, que precisa contar com o apoio de outros profissionais para garantir a segurança da mãe e de recém-nascido”, conclui o Dr. Raphael Leão.

Luto no Dia Internacional da Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna

O Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19) acaba de divulgar atualização do número de óbitos maternos pelo SARS-CoV-2 neste início de ano. Em 28 de maio, Dia Internacional da Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, o país esteve de luto pela perda de 1.204 futuras ou mamães de primeiros dias.

Os dados foram fechados em 26 de maio, portanto nem completados os cinco primeiros meses. Até aqui, contabilizamos de 751 óbitos maternos, ou seja, 66% mais do que 2020 inteiro – 453.

Comparando os mesmos períodos, a chance de morte das gestantes e puérperas internadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 em 2021 é 2,6 vezes a registrada em 2020.

Outro fato gravíssimo: desde o início da pandemia, uma a cada cinco gestantes e puérperas que faleceram por SARS-CoV-2 não teve acesso a unidades de terapia intensiva (UTI) e 33% não foram intubadas – o derradeiro recurso terapêutico que poderia salvá-las.

Assim, entre março de 2020 e 26 de maio de 2021, quando da mais recente atualização da base de dados SIVEP-Gripe do Ministério da Saúde, são 12.533 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave por Covid e, repetimos 1.204 óbitos (9,6%). Registrando que a base de dados SIVEP-Gripe tem atualização todas as quartas-feiras.

Isso sem contar outros 11.163 de registros de SRAG sem causa especificada com 279 mortes entre gestantes e puérperas, que, na avaliação dos pesquisadores, podem ser também episódios de SARS-Cov-2.

O Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19) visa a dar visibilidade aos dados desse público específico e oferecer ferramentas para análise e fundamentação de políticas para atenção à saúde de gestantes e puérperas em relação ao novo Coronavírus.

O OOBr Covid-19 foi criado e é mantido por Rossana Pulcineli Vieira Francisco (docente do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e presidente da SOGESP), Agatha Rodrigues (docente do Departamento de Estatística da UFES) e Lucas Lacerda (estudante de graduação em Estatística na UFES).

Redação

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