Na segunda-feira (5), o Dr. Arnaldo Urbano Ruiz, cirurgião oncológico especializado em doenças do peritônio, liderou um procedimento inédito em São Paulo. Trata-se da PIPAC, uma técnica para o tratamento da carcinomatose peritoneal, que envolve não apenas os cirurgiões, anestesistas e equipe cirúrgica, mas todo o hospital, visto que a sala de cirurgia e o centro cirúrgico devem ser totalmente adaptados ao procedimento.
“A PIPAC é uma cirurgia minimamente invasiva, indicada para paliar a ascite carcinomatosa em casos selecionados, por meio da aplicação, por laparoscopia, da quimioterapia aerrosolizada, ou seja, um spray de quimioterápicos que penetra mais profundamente nos tecidos”, explicou o Dr. Arnaldo.
Na PIPAC, o spray aerossolizado potencializa os efeitos da quimioterapia, oferecendo baixa morbidade, recuperação rápida e possibilidade de procedimentos repetidos. A técnica é uma alternativa indicada apenas a alguns pacientes específicos que não têm indicação da cirurgia tradicional para a retirada da carcinomatose,
Esta técnica foi utilizada pela primeira vez no país em 2017, em Porto Alegre, no dia 12 de dezembro. Agora, quase um ano depois, foi realizada pela segunda vez no país, desta vez em São Paulo, no Hospital BP Mirante, em um procedimento que durou cerca de três horas e envolveu 40 profissionais.
O tratamento
A maioria dos pacientes que chega ao centro de carcinomatose tem a doença avançada, muitas vezes impossibilitados de realizar a cirurgia citorredutora. A PIPAC é uma alternativa para esses pacientes, desde que não tenham metástases à distância. O objetivo é paliar a ascite e, em alguns casos, reduzir a doença, podendo tornar o paciente elegível para cirurgia radical no futuro.
Preparo do centro cirúrgico
Antes da realização do procedimento, a sala de cirurgia precisa de algumas adaptações para garantir a segurança do paciente e também de todos os profissionais envolvidos. São necessários pressão negativa, ventilação de fluxo de ar unidirecional e portas de vedação hermética.
É também importante garantir que a monitorização do paciente seja visível de fora da sala de cirurgia, de onde será controlado todo o procedimento.
Durante a preparação do agente quimioterápico e também após a aplicação do aerossol, todos os profissionais participantes do processo devem usar aventais impermeáveis descartáveis, óculos fechados e respiradores com um filtro específico.
Após finalizado, todos os suprimentos localizados no campo cirúrgico são descartados, seguindo o procedimento de descarte rotineiro de materiais contaminados do hospital. Isso inclui cortinas cirúrgicas e aventais, que devem ser, preferencialmente, descartáveis.
Carcinomatose peritoneal
A carcinomatose peritoneal é a disseminação de um câncer pela cavidade abdominal. A doença sai de seu órgão de origem e se espalha pelo peritônio, membrana de revestimento interno do abdome.
A carcinomatose pode se originar em órgãos como ovário, apêndice, intestino grosso (cólon), reto, pâncreas, estômago, mama e também primariamente do peritônio.
De acordo com o Dr. Arnaldo Urbano Ruiz, antigamente não havia qualquer expectativa de cura para o paciente com carcinomatose peritoneal, que levava à morte em decorrência de complicações, como a obstrução intestinal.
“Hoje, com essas técnicas de cirurgia citorredutora, quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC) e com o uso da PIPAC, temos visto uma mudança, com possibilidades de aumento de sobrevida, melhor qualidade de vida e até mesmo cura em alguns casos”, afirma o especialista.