A Hilab, healthtech especialista em exames laboratoriais remotos, lança um material com uma previsão sobre o aumento de casos de Covid-19 no Brasil para os próximos meses e sobre a variante Delta e o seu impacto no curso da pandemia. O estudo foi realizado por Dr. Bernardo Almeida, diretor médico da Hilab e por Carolina Queiroz Cardoso, epidemiologista da Hilab, além de contar com o apoio de todo o time de especialistas da startup.
A transmissibilidade do novo Coronavírus é heterogênea durante o período de infecção. Assim como as pessoas com Covid-19 não transmitem o vírus da mesma forma, sabemos também que não transmitem na mesma intensidade durante todo o período de infecção. A carga viral transmitida é crescente desde o início da infecção até seu pico no terceiro ou quinto dia, quando normalmente se iniciam os sintomas. Posteriormente, a densidade da carga viral começa a diminuir pelos próximos 8 a 10 dias, assim como a probabilidade de transmissão.
Fonte: He, X., Lau, E.H.Y., Wu, P. et al. Temporal dynamics in viral shedding and transmissibility of COVID-19. Nat Med 26, 672-675 (2020). doi.org/10.1038/s41591-020-0869-5
Utilizando esses conceitos, o time da Hilab calculou a incidência proporcional de casos de Sars-CoV-2 baseada na distribuição da probabilidade de transmissibilidade baseado no histórico de casos estimados no Brasil pelas projeções feitas pelo Instituto para Métricas e Avaliações em Saúde (IHME – sigla do inglês) dos Estados Unidos, por estado brasileiro. Foi utilizado como base o cenário “pessimista” dado pelo instituto, que leva em consideração o aumento na prevalência das novas variantes do vírus, aumento progressivo na mobilidade e queda progressiva no uso de máscara entre os vacinados.
As últimas projeções postadas pelo IHME no dia 6 de agosto apontam para uma piora significativa na incidência para os próximos quatro meses comparado a projeção publicada 20 dias antes, com consequente aumento na prevalência de indivíduos potencialmente transmissores. Em especial os estados do Espírito Santo, Paraná, Roraima, Santa Catarina e o Distrito Federal, que estão entre os primeiros estados identificados com a variante Delta no Brasil.
Previsão em 16/07/2021
Previsão em 06/08/2021
A transmissibilidade viral é o fator chave que influencia diretamente a tendência de número de casos, além de afetar a dinâmica de hospitalizações e óbitos. As variáveis que influenciam na transmissibilidade mudam ao longo do tempo e é de extrema importância sua compreensão para que medidas assertivas sejam tomadas com o intuito de reduzir a transmissibilidade viral.
A proporção de pessoas imunes é um fator que atualmente possui alto peso no controle da pandemia. A imunidade pode ser adquirida pela vacinação ou pela infecção. O IHME estima que 42% da população brasileira já contraiu infecção, ao passo que 52% já recebeu ao menos uma dose de vacina e 23% duas doses. Naturalmente, uma parte dos vacinados já contraíram a infecção e isso dificulta estimar a taxa de suscetíveis, que tende a estar concentrada em crianças, adolescentes e adultos jovens.
Porém, a avaliação de imunidade populacional é complexa, já que a eficácia para prevenir casos, hospitalizações e óbitos provavelmente cai ao longo do tempo. Isso explica em parte o motivo de novas ondas estarem ocorrendo em Israel e Reino Unido.
Outro fator altamente relevante é a introdução da variante Delta, sabidamente mais transmissível, com alguma capacidade de reduzir a eficácia da imunidade e provavelmente mais agressiva.
No Brasil, até a data de 12 de agosto, a variante Delta representa 22% dos sequenciamentos realizados. Suas repercussões começam a ser sentidos com aumento de casos. A expectativa é que em um período entre 1 e 2 meses o Delta passe a representar mais de 80% dos casos, quando suas repercussões serão mais evidentes. Essa foi a dinâmica de todos os países que tiveram a introdução dessa variante, que já é a principal no contexto global. Inclusive no México, que tinha como principal variante o Gama até o final de junho, o Delta passou a predominar. No contexto atual, considerando os dados disponíveis, não é razoável um planejamento que não considere a hipótese de transição para o Delta no Brasil.
Em relação às expectativas dessa nova onda que irá ocorrer no Brasil, é muito provável que os óbitos não acompanhem proporcionalmente a tendência de casos, o que é bom. Por outro lado, não devemos seguir o mesmo padrão enfrentado pelo Reino Unido ou Israel, pois esses possuem uma taxa muito superior de população plenamente vacinada. É por isso que provavelmente seguiremos uma tendência intermediária, nem tão favorável como locais com altíssima cobertura vacinal, nem tão desfavorável quanto os picos anteriores. Mas certamente haverá alta pressão no sistema de saúde e um pico considerável de óbitos em alguns estados, com destaque para o Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Roraima, que poderão atingir picos próximos aos anteriores.
Devido a alta prevalência estimada de vírus, que irá se concentrar em jovens, parte da população idosa e adulta, mesmo que vacinada, irá adoecer. Isso ocorrerá porque a imunidade gerada pelas vacinas e por infecção prévia não previne 100% dos casos, hospitalizações e óbitos. Desta forma, é esperado que casos graves e óbitos ocorram em todas as faixas etárias. Complicações em crianças provavelmente continuarão a ser algo incomum, apesar de maior do que a série histórica para essa faixa etária.
Portanto, qualquer ação que exerça efeito de aumento na transmissibilidade nesse momento irá potencializar as repercussões negativas da variante Delta. É altamente recomendável que sejam colocadas em prática ações que visem reduzir a transmissibilidade, já que é consenso que a atual taxa de imunidade populacional não é suficiente para evitar uma nova onda. Além da aceleração da vacinação, a manutenção do uso de máscaras com estímulo às altamente eficazes como cirúrgicas e PFF2, redução das interações sociais, evitar circulação em ambientes fechados e pouco ventilados, além de ampliação da testagem incluindo estratégias de rastreamento de assintomáticos são exemplos de ações que podem comprovadamente reduzem a transmissibilidade.