Brasil registra 3 entre 10 casos de câncer de pênis na AL e Caribe

Embora raro, o câncer de pênis é um problema de saúde pública no Brasil entre as pessoas mais pobres e com baixo grau de escolaridade, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Com 6.1 casos diagnosticados para cada 100 mil habitantes, o Maranhão tem a maior prevalência de câncer de pênis no mundo1.

Em todo o país, segundo o levantamento Globocan 2020, foram diagnosticados no ano passado 1,6 mil novos casos de câncer de pênis, mais do que o dobro do México, com 696 registros, a segunda maior incidência entre os países da América Latina e Caribe. Em terceiro está a Colômbia, com 550 casos. A incidência brasileira equivale 33% de todos os tumores de pênis diagnosticados nesta região (4988). Os números observados no Brasil também são proporcionalmente altos quando o assunto é mortalidade por esta doença. O Brasil responde por 539 das 1627 mortes registradas nos países latino-americanos e caribenhos2,3.

Continente mais populoso do mundo, a Ásia teve o maior número de novos casos de câncer de pênis diagnosticados em 2020. Composta, dentre outros, por países como Camboja, Filipinas, Malásia, Singapura, Tailândia, Timor-Leste, Vietnã, a  região do sudeste asiático responde por 17,3 mil destes registros de câncer de pênis2.

NOVEMBRO AZUL – No novembro azul, mês de conscientização mundial sobre os tumores do aparelho reprodutor masculino, dentre eles próstata, pênis e testículo, o objetivo é alertar para a importância da prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e reabilitação do paciente. “Em relação ao câncer de pênis, os principais fatores de risco são a falta de higiene do órgão, fimose, infecções virais e comportamento sexual de risco. É fundamental intensificar a difusão de informação qualificada sobre estes temas para a sociedade”, ressalta o cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, que é diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Adotar medidas de prevenção e estar atento aos sinais para não negligenciar o diagnóstico da doença é fundamental para o sucesso do tratamento, para evitar a amputação do pênis, assim como amenizar o impacto físico, sexual e psicológico associado ao tratamento. Além disso, o perfil socioeconômico e o formato de acesso aos serviços de saúde especializados refletem no percentual de pacientes vivos cinco anos após o tratamento. Quando a doença está localizada (restrita à próstata), o paciente tem 82% de chance de sobrevivência em cinco anos. Considerando todos os casos registrados nos Estados Unidos, independentemente da fase de descoberta da doença, 67% vivem, ao menos, cinco anos ou mais4.

PREVENÇÃO E DIAGNÓSTICO PRECOCE – O câncer de pênis é uma doença evitável. As principais medidas preventivas são lavar o órgão com água e sabão (incluindo a glande). De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SUS), a fimose aumenta em quatro vezes o risco de surgimento de lesões malignas na glande e prepúcio. A entidade recomenda a realização do autoexame do pênis, com repetição mensal, como estratégia simples para a identificação precoce de lesões de aspecto suspeito. Recomenda-se também vacinar os meninos contra o vírus HPV (a vacina está disponível no SUS) e realizar sexo com proteção.

Por sua vez, caso a doença ocorra, é fundamental que o paciente tenha acesso ao diagnóstico precoce. “Descobrir a doença cedo não só aumenta as chances de sucesso no tratamento, como também diminui o risco de amputação do pênis”, explica Gustavo Guimarães. De acordo com  a SBU, são realizadas mil amputações anuais de pênis no Brasil, mutilação física que também impacta a vida sexual e o emocional do paciente5. A maioria dos casos de câncer de pênis é observada em homens de 50 a 70 anos de idade. “Por sua vez, cerca de um terço dos pacientes tem menos de 50 anos”, ressalta Guimarães.

SINTOMAS

– Dor
– Mudança na cor e textura da pele do pênis
– Crescimento ou lesão semelhante a verrugas que podem ou não ser dolorosas
– Coceira
– Ferida que não cicatriza
– Erupção avermelhada
– Inchaço
– Corrimento persistente e fedido
– Linfonodos inchados na virilha.

TRATAMENTO

A abordagem terapêutica é definida caso a caso. A cirurgia é adotada na maioria das vezes. Quando o câncer peniano está restrito ao prepúcio, é indicada a circuncisão. Quando o tumor é pequeno, pode se optar por uma excisão simples ou pela penectomia parcial. Para a doença mais avançada é necessária a penectomia total (que consiste na remoção de todo o pênis com redirecionamento da uretra por trás dos testículos. “Nesses casos, uma uretrostomia (buraco) é feita para que seja possível urinar”, explica Guimãraes.

Também pode-se optar por cirurgia à laser, cirurgia de Mohs, assim como a radioterapia, que pode ser usada para tratar tumores em estágio inicial, combinada com a cirurgia, para remover linfonodos e para controlar a disseminação e ajudar a aliviar os sintomas em estágios avançados. Mais informações sobre epidemiologia, prevenção, diagnóstico, fases da doença e tratamento estão disponíveis em www.iucr.com.br/cancer-penis.

Referências:

1 – Coelho RWP, Pinho JD, Moreno JS, Garbis DVEO, do Nascimento AMT, Larges JS, Calixto JRR, Ramalho LNZ, da Silva AAM, Nogueira LR, de Moura Feitoza L, Silva GEB. Penile cancer in Maranhão, Northeast Brazil: the highest incidence globally? BMC Urol. 2018 May 29;18(1):50.

2 – Sung H, Ferlay J, Siegel RL, Laversanne M, Soerjomataram I, Jemal A, Bray F. Global Cancer Statistics 2020: GLOBOCAN Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries. CA Cancer J Clin. 2021 May;71(3):209-249. 3 – Instituto Nacional de Câncer. <www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-penis>. Acesso em 27 out 2021.

4 – Noone AM, Howlader N, Krapcho M, Miller D, Brest A, Yu M, Ruhl J, Tatalovich Z, Mariotto A, Lewis DR, Chen HS, Feuer EJ, Cronin KA (eds). SEER Cancer Statistics Review, 1975-2015, National Cancer Institute. Bethesda, MD, seer.cancer.gov/csr/1975_2015/

5 – Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. <www.sboc.org.br/sboc-site/revista-sboc/pdfs/40/editorial.pdf>. Acesso em 17 out 2019.

Redação

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