A campanha Setembro Vermelho é destinada à conscientização, prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares, já que no dia 29 é comemorado o Dia Mundial do Coração. Em 2021, a importância dos cuidados com o coração para pessoas diagnosticadas com Covid-19 segue em alta e os efeitos da doença nesses pacientes ainda geram muitas dúvidas. Pensando nisso, o coordenador da Unidade Coronariana da Casa de Saúde São José, do Rio de Janeiro (RJ), Gustavo Gouvêa esclarece, a seguir, as principais questões relacionadas ao assunto:
Covid-19 pode afetar, além do pulmão, o coração?
Segundo o cardiologista, essa é uma dúvida frequente no consultório. Ele explica que sim, a Covid-19 pode afetar diretamente o coração, causando uma inflamação chamada miocardite. Isso pode gerar uma arritmia e até manifestações parecidas com um infarto.
Estudos de um grupo de cardiologistas do Hospital San Raffaele, em Milão/ Itália, referência para complicações cardiovasculares da Covid-19, avaliaram 138 pacientes internados pela doença. Nesse grupo, 16,7% desenvolveram arritmia e 7,2% apresentaram lesão cardíaca aguda.
Nesses casos, a orientação é que os pacientes com Covid-19 que tenham sintomas de doenças cardiovasculares, como dor no peito, palpitações e desmaios, procurem uma emergência ou um cardiologista para fazer exames específicos, como eletrocardiograma, ecocardiograma e dosagem de enzimas.
“Depois da fase aguda da doença, é preciso seguir com o acompanhamento médico para verificar se a inflamação foi revertida e se houve alguma sequela”, alerta.
Covid-19 pode causar trombose?
De acordo com Gouvêa, se o paciente apresentar sintomas como cansaço, dor no peito e falta de ar, é preciso procurar um médico para investigar se há algo além disso, já que existe sim a possibilidade de trombose.
“O paciente pode desenvolver trombose em qualquer veia do corpo, sendo mais comum nas pernas. Esse coágulo pode se deslocar, ir para o pulmão e, como consequência, desenvolver um quadro de embolia pulmonar. Também pode ocorrer trombose nas artérias, como nas coronárias ou nas artérias do cérebro, causando infarto ou AVC. Esse é um medo dos pacientes e é algo que devemos observar com cuidado. Pessoas mais sintomáticas devem procurar um hospital para fazer essa pesquisa”, aponta.
Quem já teve trombose pode se vacinar?
Sim, pode e deve. Gouvêa afirma que trombose é uma complicação relativamente frequente para pacientes com Covid-19, portanto a vacina é um fator importante para reduzir as chances de contaminação.
“De acordo com o Ministério da Saúde, a incidência de trombose relacionada à vacina nos países europeus, onde os casos foram descritos, é de 1 a 8 casos por milhão de indivíduos vacinados (menos de 0,008%). Agora, se esse mesmo milhão pegasse Covid-19 no Brasil, teríamos 2 278 mortes a mais”, reforça.
Além da vacina para Covid-19, estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia aponta a importância da atualização das demais vacinas, incluindo a pneumocócica, devido ao risco aumentado de infecção bacteriana secundária pela Covid-19, e a vacina contra influenza.
Como fica o coração pós-Covid?
O médico explica que 85% dos casos dos pacientes com Covid-19 são leves, de pessoas tratadas em casa e sem gravidade. Para esse grupo, após o período de 10 a 14 dias, é possível retomar a rotina, inclusive as atividades físicas. Para os 15% que tiveram um quadro clínico mais grave, com hospitalização, é preciso fazer uma avaliação clínica ou cardiológica para ter certeza que não há nenhuma sequela, especialmente para voltar a fazer exercício.
Entre as sequelas mais comuns para os pacientes sintomáticos estão fraqueza muscular e cansaço prolongado após a alta, por isso a importância de uma avaliação detalhada das funções pulmonar e cardíaca para verificar se a pessoa ficou com algum problema de saúde, como inflamação, trombose, anemia ou alteração hematológica.
“Uma parcela desses pacientes vai precisar passar por uma reabilitação cardíaca para voltar a praticar exercícios, com supervisão. Muitos perderam massa muscular, pois ficaram dias acamados. Para retomar as atividades, devem passar por um programa específico para recuperar, lentamente, sua saúde e vigor físico”, completa.