O Centro de Saúde Erasto Gaertner trouxe para Joinville (SC), de forma pioneira, uma técnica cirúrgica minimamente invasiva para remover tecidos cancerosos do esôfago de um paciente. Bem-sucedido, o método eliminou as células de procedência maligna e possibilitou alta hospitalar no mesmo dia da operação, em virtude de menores riscos cirúrgicos e complicações nas fases seguintes.
O câncer atingia a primeira camada de células. A biópsia feita após a intervenção mostrou que houve reparação completa do tecido do esôfago, informa o médico gastroenterologista Eduardo Bonin, profissional do HEG no Paraná que aplicou a técnica na cidade catarinense.
O método consiste na ablação (cauterização) do tecido atingido, considerado anômalo. Tal processo, que facilita a retirada do material, tem por objetivo “queimar” a região onde há incidência da displasia (alteração das células) de alto grau e remover o tecido em condição delicada, para que na cicatrização desenvolva-se um tecido normal, o que de fato ocorreu.
O paciente atendido tem por volta de 40 anos e apresenta histórico de ingestão de soda cáustica na infância, aos 2 anos de idade aproximadamente. Esse episódio lhe deixou importantes sequelas, provocando uma grande lesão na região e um quadro de esofagite cáustica. Com o passar dos anos, várias cicatrizes formaram-se, sendo estas compostas por tecidos produzidos pelo próprio organismo para reparar o dano. No entanto, esses tecidos mostraram-se atípicos, por não possuírem as mesmas características do tecido normal do esôfago.
Bonin atesta as vantagens da nova técnica, disponível desde 2019. “Há cerca de oito anos, atendi um caso semelhante. O procedimento adotado na época foi a mucosectomia, que extrai a lesão por meio de corte. Houve uma perfuração do esôfago, com necessidade de uso de sonda de alimentação. O paciente ficou internado por 14 dias. No caso deste paciente operado recentemente, o procedimento durou cerca de 30 minutos. A alta hospitalar ocorreu em poucas horas”, disse o médico, que tem formação clínica em cirurgia digestiva e endoscopia digestiva.
Ele explica que a nova alternativa deve ser adotada em casos específicos, após minuciosa análise do quadro. “A lesão tem de ser superficial e não pode estar ulcerada nem manifestar sinais de invasão. Esse paciente tem de ser muito bem avaliado endoscopicamente. A cauterização controlada se restringe apenas à superfície e promove um descamamento da área afetada. É bem simples e rápida. A indicação da ablação na área originalmente se restringe ao esôfago de Barrett, situação bem mais comum. Adaptamos então essa técnica para a condi&c cedil;ão do paciente que tinha câncer inicial. Há relatos bem-sucedidos e nos baseamos neles para termos um respaldo para executar os procedimentos”, observou Bonin.
Sintomas
Especialista em endoscopia digestiva, o médico gastroenterologista Paulo Marcelo Nascimento da Silva Mafra, que acompanha o paciente, informou que o câncer havia sido descoberto em uma consulta recente.
“O paciente queixou-se da dificuldade de engolir. Uma das abordagens iniciais seria a ressecção endoscópica, mas essa técnica não se mostrou viável. Por causa dessa lesão anterior com a soda cáustica, as cicatrizes que se formaram tornaram difícil a mobilização da área. O tecido era muito aderente à parede do esôfago. Além disso, a ressecção representaria um risco muito grande por causa desse tecido fibroso de perfuração do esôfago”, destacou.
Mafra ressaltou que o pós-operatório demanda dieta leve e líquida e ministração de medicamentos que auxiliam no processo de cicatrização.