Primeiro paciente a realizar cirurgia de Jatene no Tocantins recebe alta

Waldirene, Ravi e a médica intensivista Dra. Moabe Coutinho

Ravi Caleb Ferreira da Silva aprendeu cedo a dar um novo significado para a vida. Ao chegar ao mundo, já se viu diante do desafio de correr contra o tempo e sobreviver. Ele escolheu viver e, ao lado da família e dos médicos, lutou.

O menino, com 12 dias de nascido, foi diagnosticado com transposição das grandes artérias. De nome difícil e de entendimento mais complicado ainda, esse laudo significa que a criança nasceu com a artéria aorta e a artéria pulmonar invertidas.

Após uma criteriosa avaliação de especialistas, ficou decidido que o bebê necessitaria da chamada cirurgia de Jatene. No dia 23 de maio de 2022, Ravi entrou na sala de cirurgia, tornando-se o primeiro paciente a receber este tipo de intervenção no Estado do Tocantins.

Depois de mais de três meses internado, em observação, o pequeno recebeu a tão sonhada alta, e agosto foi o mês de voltar para o convívio da família.

“Eu agradeço muito à equipe do hospital. Em primeiro lugar, a Deus; em segundo lugar, eles, que foram muito excelentes comigo, gostei demais. Agradeço muito também ao doutor Márcio, pelo desempenho que ele teve com meu filho, o carinho, e as meninas da UTI foram todas muito boas. Quando lá no Gurupi descobriram, eles falaram que, se ele não tomasse o medicamento até fazer a cirurgia, ele não sobrevivia, e ele está aqui firme e forte. Então, eu sou muito grata pelo que eles fizeram”, emociona-se Waldirene Ferreira Brois, a mãe de Ravi.

Diagnóstico

O diagnóstico veio após a família realizar os exames necessários pós-nascimento. “Ele nasceu no dia 05 de maio. Recebemos alta, mas antes pediram para ver o exame que a gente faz quando o bebê nasce. Com os resultados, tiveram essa desconfiança. Aí pediram para ele fazer outro exame e deu que ele tinha o problema no coração”, relembra Waldirene.

Ravi nasceu em Gurupi, mas a família é de Formoso do Araguaia, ambas cidades localizadas no Tocantins. Com o resultado em mãos e a necessidade da cirurgia, a família foi encaminhada primeiramente ao Hospital Dom Orione e, em seguida, para o Hospital Municipal de Araguaína, referência em atendimento pediátrico. Tudo no mesmo estado.

Realizado em bebês, o procedimento consiste na inversão da posição da artéria aorta e da artéria pulmonar, colocando-as na posição correta, para que o sangue que passa pelo pulmão e é oxigenado seja distribuído pelo corpo da criança, permitindo que o cérebro e todos os órgãos vitais recebam oxigênio. Essa cardiopatia é considerada, mesmo nos dias atuais, um caso complexo, de alto risco para os bebês, e, se não tratada, leva à morte de mais de 90% das crianças no primeiro ano de vida.

A equipe médica foi comandada pelo cirurgião Dr. Artur Henrique de Souza, que veio de Goiânia-GO, junto com o instrumentador, Marcos Alves. O perfusionista, Edson Xavier, veio de Palmas, e as duas médicas anestesistas são de Araguaína. O procedimento foi acompanhado de perto pelo cardiopediatra Dr. Márcio Miranda, que também é coordenador da UTI Pediátrica do Hospital Municipal de Araguaína – HMA, e pela médica diarista e intensivista pediátrica, Drª Moabe Coutinho.

“Essa cirurgia tem o intuito de corrigir esse problema. Então, é uma cirurgia muito complexa, delicada. No caso, quando nós operamos o bebê, ele tinha dois quilos e meio, era um caso bem delicado, e foi o primeiro caso operado pela transposição das grandes artérias no Tocantins. Graças a Deus, ele, apesar de ter dado bastante trabalho no pós-operatório, foi conduzido brilhantemente pelo doutor Márcio. E aí, a gente teve a graça, a família teve a graça de receber novamente essa criança e poder retornar para casa”, explica e comemora o médico Artur de Souza.

O cardiopediatra ressalta que a cirurgia de Jatene deve ser realizada no período neonatal, preferencialmente logo nos primeiros dias de vida do bebê, pois é de alta complexidade. Geralmente, é realizada em grandes centros. Poucos lugares no Brasil conseguem fazer o procedimento e dar alta para o paciente. “Para a gente, é muito gratificante poder oferecer no Tocantins um tratamento adequado, de qualidade e muito humano para pacientes com essa patologia”, destaca Dr. Márcio.

“Na maioria das vezes, cirurgias complexas como essa são realizadas nos grandes centros, então poucos lugares no Brasil são preparados para isso. É um orgulho para nós podermos ofertar esse tratamento em Araguaína e sermos referência não só para a região, mas para todo o país. Esse é o resultado dos muitos investimentos que são feitos na saúde pública da nossa cidade”, destaca a secretária da Saúde de Araguaína, Ana Paula Abadia.

As cirurgias cardíacas pediátricas no Tocantins

O médico Márcio Miranda lembra que as cirurgias cardíacas pediátricas foram crescendo, bem como a complexidade delas, ao longo do tempo. No começo, apenas cirurgias de médio porte tinham suporte para serem realizadas. Hoje, com os investimentos feitos, é possível fazer cirurgias de grande porte, virando, inclusive, referência regional.

“Chegamos há quase 150 cirurgias cardíacas no Tocantins e com uma certeza: nós saímos de um nível onde nós encaminhávamos todas as crianças para fora do estado para operar nas regiões Sul e Sudeste. Hoje, a gente consegue realizar aqui cerca de 90% dos casos de cardiopatias congênitas, seja através do serviço de cirurgia cardíaca ou do serviço de hemodinâmica pediátrica. Temos um Heart time, que é um time em cardiologia que envolve UTI, centro cirúrgico, cirurgião, hemodinâmica, ecocardiografias, intensivistas pediátricos e a equipe multidisciplinar”, comemora o cardiopediatra.

HMA – Hospital Municipal de Araguaína Dr. Eduardo Medrado

Referência no atendimento pediátrico de alta complexidade no Tocantins, o HMA – Hospital Municipal de Araguaína Dr. Eduardo Medrado oferta os serviços de UTI pediátrica, internação pediátrica, cirurgias pediátricas eletivas e de urgência e emergência.

Dispõe de 67 leitos, distribuídos entre enfermaria, estabilização e UTI – Unidade de Terapia Intensiva. Também oferece exames de análises clínicas, radiografia, ultrassonografia, eletroencefalograma, eletrocardiograma, ecocardiograma e são realizados externamente ressonância nuclear magnética e tomografia computadorizada.

O HMA pertence à rede municipal da Saúde de Araguaína, no Tocantins, sendo gerenciado pelo ISAC – Instituto Saúde e Cidadania.

A cirurgia de Jatene

A operação de Jatene foi realizada pela primeira vez com sucesso pelo professor Adib Jatene, em maio de 1975. A indicação, naquele momento, era para tratar uma cardiopatia congênita conhecida como transposição das grandes artérias (TGA).

Quando a criança nasce com as grandes artérias trocadas – saindo a aorta do ventrículo direito (deveria sair a artéria pulmonar) e a artéria pulmonar do ventrículo esquerdo (deveria ser a aorta) –, o sangue não consegue ser adequadamente oxigenado e o bebê apresenta a cianose. O sintoma principal é a criança ficar cianótica, ou seja, “roxa”.

Na operação de Jatene, os vasos são trocados, juntamente com as artérias coronárias, para que haja a correção, oferecendo à criança a possibilidade de uma vida 100% normal. O ideal é que a cirurgia seja realizada nas primeiras duas semanas de vida, preferencialmente nos 2 ou 3 primeiros dias da primeira semana de vida.  Essa cirurgia dura, em média, entre cinco e seis horas.

Após a cirurgia, há necessidade de acompanhamento constante em consultas periódicas com o cardiologista pediátrico responsável, além da realização de exames de acompanhamento. É possível que haja necessidade futura de tratamento de alguma complicação relacionada à operação, mas costumam ser ocorrências pouco frequentes.

Redação

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