Mabloc, uma startup independente de biotecnologia, liderada por cientistas brasileiros e norte-americanos, com sede na Escola de Medicina da Universidade George Washington, em Washington DC, já arrecadou mais de R$ 65 milhões para desenvolver tratamentos pioneiros e acessíveis que podem evitar futuras endemias e pandemias. Entre os trabalhos da Mabloc está a importante descoberta de um tratamento que evita o agravamento e a morte em pacientes com febre amarela. Os resultados da fase pré-clínica da pesquisa acabam de ser publicados na plataforma científica bioRxiv. O estudo ainda recebeu apoio do NIH, que financiou mais de R$ 15 milhões de reais para a condução dos esforços de pesquisa e desenvolvimento.
Apoiada pela Sthorm – startup de ciberativistas que tem como foco projetos de grande impacto mundial -, a Mabloc promove pesquisas para o desenvolvimento de anticorpos monoclonais de alta eficácia contra enfermidades como Covid-19, dengue, zika, influenza, além da febre amarela. Popularizado pelo uso em remédios de combate à doenças autoimunes, os anticorpos monoclonais são fabricados em laboratório a partir de células vivas.
Entre os fundadores da biotech está o brasileiro Esper Kallás, médico infectologista, pesquisador e professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP, e um dos responsáveis pela publicação dos resultados.
A febre amarela é considerada uma endemia, atualmente concentrada em países da África e das Américas do Sul e Central. Ela é provocada por um vírus transmitido por mosquitos e tem alta taxa de mortalidade, chegando a 50% entre os pacientes que evoluem para um quadro grave da doença. Isso acontece porque não existe, até hoje, nenhum tratamento específico e pacientes com quadro mais severo recebem apenas medicamentos para alívio de sintomas como dor e febre. O foco da Mabloc são doenças essas que afetam principalmente países em desenvolvimento e que, com seu potencial econômico reduzido, não conseguem obter recursos dos financiadores tradicionais de estudos científicos, como governos e grandes laboratórios farmacêuticos.
“Os anticorpos monoclonais têm se mostrado uma das armas mais promissoras para enfrentar as doenças infecciosas e enfermidades negligenciadas. Os testes com anticorpos contra o vírus da febre amarela mostraram que eles são capazes de evitar que pacientes evoluam para o quadro grave”, afirma o Dr. Esper Kallás.
Inovador financiamento alternativo
Rompendo o modelo tradicional em que os cientistas e as grandes indústrias farmacêuticas são financiadas por bancos e agências, os estudos da Mabloc são viabilizados de forma inovadora por métodos de financiamento alternativo. O objetivo é criar um tratamento eficaz e acessível para praticamente todas as pessoas do mundo, de países ricos, emergentes ou miseráveis.
“Pela primeira vez na história, estamos libertando a ciência da sua situação de refém dos bancos e fundos de investimento internacionais. Seus milhões aplicados em pesquisa e produção, ligados à indústria farmacêutica, visam o lucro. Eles não querem universalizar o acesso a medicamentos e salvar vidas. Nosso objetivo é expandir as ferramentas inovadoras que nós construímos e que já estão à disposição da ciência, financiando pesquisas para enfrentar ameaças como dengue, zika, febre amarela e Covid-19, para levar soluções poderosas a preços possíveis para o mundo inteiro”, comenta Pablo Lobo, sócio fundador da Sthorm, que administra as estratégias de financiamento descentralizado da biotech Mabloc.
Os métodos de financiamento alternativo serão reunidos pelo Viralcure, iniciativa da Sthorm para arrecadação de recursos destinados a projetos científicos por meio de tecnologias alinhadas à filosofia da Web3.0. O ecossistema ViralCure é uma ferramenta de financiamento alternativo à ciência que compreende a tecnologia DeFi, associada aos métodos DLT – Distributed Ledger Technologies – para estimular a pesquisa e o desenvolvimento científico.
A Sthorm também foi a responsável pela criação da campanha que arrecadou mais de R$ 30 milhões para o Hospital das Clínicas de São Paulo, realizada no início da pandemia Covid 19. Por meio da plataforma ViralCure, a startup recebeu doações para o HC que contribuíram para a abertura de novos leitos, a compra de respiradores, ambulâncias, equipamentos de proteção individual e a contratação de profissionais de saúde, ajudando a salvar milhares de vidas no auge da pandemia.
Ao lado de Esper Kallas, o time de especialistas da Mabloc conta com David Watkins, Professor de Patologia e Diretor de Pesquisa Translacional, na Universidade George Washington; Dennis Burton, um dos maiores especialistas do mundo em pesquisa de anticorpos monoclonais, e Michael J. Ricciardi, Diretor Associado de Pesquisa Translacional da Universidade George Washington.
“É extraordinário ver essa equipe de cientistas de altíssimo nível abraçando a ideia de financiamento alternativo, proposto e obtido por cypherpunks, como uma forma de baratear os custos dos tratamentos e disseminar seu uso entre populações vulneráveis”, diz Rafael Leal, membro do conselho do Grupo Santa, maior complexo hospitalar do centro-oeste, que, ao lado de seus irmãos, apoia e investe nas soluções pioneiras da biotech.