Compliance e auditoria em saúde: carreiras em alta e com futuro promissor para mulheres

Desde o início da pandemia do novo Coronavírus, em 2020, os programas de integridade ganharam mais espaço na mídia e, consequentemente, nas empresas ligadas à saúde, principalmente na saúde suplementar. Em paralelo a isso, o perfil profissional no Brasil vem mudando bastante ao longo dos anos. Com o tempo, pudemos ver uma maior participação das mulheres em cargos, até então, ocupados majoritariamente por homens. O segmento de compliance é um dos setores que vive essa transformação, em especial o de saúde. Por exemplo, os homens ainda são maioria entre os médicos em atividade no país, mas a diferença em relação às mulheres vem diminuindo ano a ano. Segundo o levantamento de Demografia Médica 2020, os homens representam 53,4% da população de médicos e as mulheres, 46,6%.Trinta anos atrás, em 1990, as mulheres eram apenas 30,8%. Com essa transformação, podemos esperar um aumento do ingresso de mais mulheres na área de gestão clínica, como profissionais de auditoria médica ou compliance em saúde, um setor ainda pouco divulgado, mas que está em alta e proporciona a opção do profissional trabalhar governança clínica e corporativa dentro de sua área de formação.

“No Brasil temos dificuldade de penetração feminina nos espaços. No setor de compliance em geral há mais mulheres, mas quando falamos no segmento de saúde ainda é um ambiente de maioria masculina, embora venha aumentando gradativamente a atuação de mulheres com gestão e governança clínica nos últimos anos”, explica a médica, gestora em saúde e professora universitária da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Camila Rodrigues de Almeida. Segundo ela, o nepotismo e as escolhas por homens em cargos de liderança ainda são comuns no mercado, mesmo quando as mulheres são reconhecidas pela dedicação e qualidade ao ocupar funções de destaque, como comprova a pesquisa divulgada em 2019 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que mostra um aumento nos lucros entre 5% e 20% nas companhias comandadas por mulheres. Mas, em contrapartida, outro levantamento, este divulgado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em 2020, mostra que apenas 7,2% dos membros dos conselhos das empresas são compostos por mulheres.

A médica de 46 anos atua na área de gestão em saúde desde os 24 e já ocupou cargos importantes no setor, como médica auditora, coordenadora geral e diretora-executiva hospitalar. Desde 2017 Rodrigues integra a equipe da True Auditora como diretora-técnica e é membro-fundadora da Associação Brasileira de Compliance em Saúde (Abracos). Segundo a profissional, as mulheres acabam se destacando mais na área por serem, em maioria, mais detalhistas e aplicadas, além de buscarem mais aperfeiçoamento e soluções para os problemas apresentados durante um programa de integridade.

Camila aconselha às mulheres interessadas em ingressar no setor de compliance ou auditoria em saúde a não se intimidarem com os dados sobre gênero. A carioca afirma que a receita para o sucesso é disciplina e persistência. Ela acrescenta que sempre gostou de desafios e por isso vivenciou muitas áreas dominadas por homens. A médica é uma das poucas mulheres especializadas em urologia no Brasil. “Eu escolhi ser urologista, estudei em uma sala cheia de homens e enfrentei muita resistência. No passado também fui uma das primeiras mulheres piloto de rali. Hoje eu sou triatleta e divido meu tempo entre os treinos, o trabalho na área de gestão, as aulas na universidade e os cuidados com os meus quatro filhos. Não existe limite para quem tem vontade de vencer e busca se colocar no mercado”, enfatiza.

De acordo o presidente da Abracos, Ademilson Costa dos Santos, um dos principais pontos trabalhados em culturas de compliance atualmente é a diversidade e igualdade de gênero em empresas. Segundo ele, companhias que buscam modernidade e desenvolvimento precisam trabalhar o incentivo ao protagonismo feminino em sua cultura interna. “Notamos um aumento da inserção desse tema nos últimos anos e apoiamos por completo. A Abracos incentiva projetos que fortaleçam a atuação feminina no mercado de compliance em saúde. Uma de nossas missões é promover um ambiente seguro e igualitário aos profissionais da área, de modo que incentivemos cada vez mais mulheres a ingressarem nesse setor que é promissor e determinante para o bom desempenho da saúde suplementar no Brasil”, enfatiza.

Redação

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