Há pouco tempo, quando se rimava tecnologia e medicina, tanto a sociedade como algumas comunidades médicas torciam o nariz, como se o uso de ferramentas modernas pudesse comprometer a relação médico-paciente. E então veio a pandemia e recursos como a telemedicina – projeto que ainda engatinhava – tornou-se uma realidade necessária e eficaz. Mas a telemedicina é apenas uma das armas de um arsenal de possibilidades para tornar as práticas clínica e cirúrgica mais precisas, assegurando acesso a tratamentos mais assertivos.
É sobre os expedientes da indústria 4.0 a favor da medicina que especialistas irão debater na arena Inovação e Tecnologia, durante a programação do 43º Congresso de Cardiologia da SOCESP, que acontece em junho, em São Paulo. “A inteligência artificial (IA) não substitui os profissionais, mas apoia as decisões médicas graças ao processamento de uma quantidade elevada de dados, algo impossível de ser realizado por humanos”, diz a presidente do Congresso, Fernanda Colombo. “Além disso, a cardiologia é uma das especialidades que mais se beneficia com o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de equipamentos diagnósticos e aparatos para otimizar intervenções invasivas.”
Na grade da arena, palestras como ‘A área Cardiológica na Era do Cuidado Digital’; ‘Formação em Saúde Digital: onde estamos?’; ‘5G na Saúde’; ‘Transformando o modelo de cuidado através do telemonitoramento assistido’; ‘Impressão 3D do coração – Futuro em construção’ e ‘O Ecossistema das Healthtechs‘, entre outras.
Um dos temas de destaque da edição será a apresentação do cardiologista Roberto Botelho: O ChatGPT, a IA e seu impacto na cardiologia. Botelho é especialista em telemedicina e diretor do Instituto do Coração do Triângulo (Minas Gerais). Sua palestra irá esclarecer sobre a atuação do ChatGPT para o uso de cardiologistas. Lançada há pouco tempo (novembro de 2022), a plataforma já possui mais de 100 milhões de usuários. Trata-se de uma inteligência artificial que responde a perguntas de qualquer tipo em formato de texto, como em uma conversa on-line. “Porém, o próprio criador avisa que estão em fase de teste e que ainda vão evoluir para oferecer mais segurança”, alerta Botelho. “Apesar disso, pode ajudar sobremaneira nas pesquisas de temas médicos porque, diferente do Google, o ChatGPT não aponta sites, mas entrega respostas rápidas, o que contribui para elaborar relatórios, por exemplo. Mas ainda erra muito. Dessa forma é fundamental checar a validade e a qualidade da informação fornecida.”
O especialista ressalta que já há soluções análogas rodando nos Estados Unidos, utilizando a mesma tecnologia do ChatGPT, mas partindo de fontes conhecidas e seguras. “Um exemplo é Medical Brain, que já oferece capítulos de ginecologia, doenças infecciosas e cardiologia, entre outros, além de várias áreas do conhecimento da medicina, entregando respostas bem específicas porque consegue entender a queixa do paciente. Também visita prontuários, faz o diagnóstico e recomenda abordagens para aquele quadro.”
Segundo Botelho, com a inteligência artificial fazendo a parte técnica do trabalho – composição de tratamentos personalizados, lista de sintomas, hipóteses diagnósticas, tendência de doenças, histórico médico… – é possível que o profissional se concentre em segmentos que a tecnologia não alcança. “O médico precisa entender que com o emprego da IA ele vai ser mais eficiente, vai poder se dedicar mais ao paciente, fazer curadoria, filtrar dados. A IA é muito interessante e útil, mas é um desafio utilizá-la de maneira a otimizar o atendimento.”
Equipe técnica
A arena de inovação do congresso está sob a direção de um time que inclui o próprio coordenador do Projeto Inovação da SOCESP, o engenheiro Guilherme Rabello, que atua desde 2011 na área de saúde e é head de inovação do Instituto do Coração (InCor). A equipe também conta com o engenheiro José Luis Bruzadin, com sólida experiência em Desenvolvimento de Negócios de Tecnologia; Diandro Marinho Mota, diretor médico da healthtech brasileira Neomed e o responsável pela mentoria do time, Fábio Biscegli Jatene, professor titular de Cirurgia Cardiovascular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Para o coordenador Rabello, os médicos vivem um momento de redescoberta. “Está se abrindo um horizonte de oportunidades, com mais modalidades de serviços. E o melhor: com pacientes querendo consumir as novidades”, diz. “Esta nova saúde digital precisa ser implementada nas instituições e os cardiologistas podem ser agentes capacitadores da nova era.” Miguel Antonio Moretti, diretor de publicações da SOCESP concorda: “a utilização da inteligência artificial na cardiologia tem deixado a esfera teórica para se tornar uma realidade prática com diversas aplicações e a cada Congresso da SOCESP sentimos mais engajamento dos colegas em busca desta nova ordem na cardiologia.”