Entre os dias 4 e 6 de outubro, a Universidade Mansoura no Egito, uma das mais antigas e tradicionais do planeta, realizou o 8º Congresso do Centro de Oncologia. Em duas sessões especiais foram discutidas técnicas de cirurgia minimamente invasivas de diversas especialidades, com destaques para cirurgia laparoscópica e Robótica.
O professor do setor de uro-oncologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), médico do IAVC é responsável pelo setor de cirurgia robótica urológica no Hospital Brasil, rede D’Or, Dr. Marcos Tobias Machado, foi convidado para ministrar quatro palestras a respeito de suas pesquisas nessa área.
A primeira palestra discutiu os resultados da prostatectomia Robótica com preservação do espaço de Retzius no tratamento do câncer de próstata. “O que mais impressiona nessa técnica é o elevado índice de recuperação precoce da continência urinária, por volta de 90% em 30 dias”, explica. A perda de urina após a cirurgia é muito comum, mas com o tempo tende a se resolver se as estruturas importantes forem preservadas pelo cirurgião. “O controle urinário precoce é extremamente importante para os pacientes, pois permite a volta mais rápida ao trabalho, esportes e uma maior autoconfiança no tratamento”, afirma. Dr. Machado.
Em seu estudo comparando essa nova técnica com a Robótica convencional por via anterior, o Prof. Tobias não encontrou diferença no índice global de Continência urinária após 1 ano de seguimento. “Somos bastante orgulhosos de ter sido o primeiro time no Brasil a realizar essa cirurgia, e atualmente com mais de 100 casos já apresentamos os mesmos resultados do grupo de Milão e de Seoul, as maiores experiências do mundo com essa cirurgia”, explica. “Quando cirurgiões com grande renome internacional como Menon (Detroit), Eden (Londres) e Wicklung (Estocolmo) começam a fazer esta cirurgia, nos indica que essa técnica tem um grande potencial no tratamento do câncer da próstata”, completa.
A segunda apresentação foi sobre a nefrectomia parcial Robótica sem o clampeamento do pedículo renal. A técnica padrão realiza o clampeamento dos vasos renais, gerando uma temporária isquemia do rim. Estudos mais recentes têm mostrado que um tempo de isquemia menor que 25 min seria o ideal e, em casos com redução da função do rim cada minuto de clampeamento tem importância. Dr. Tobias Machado mostrou através de um estudo comparativo que a técnica sem clampeamento foi superior a técnica clássica com clampeamento em pacientes com tumores de maior complexidade.
“A explicação pra isso é bastante óbvia, uma vez que o tempo de isquemia sempre é maior em pacientes com tumores mais complexos. A isquemia zero, obtida nos pacientes sem clampeamento permitiu uma melhor recuperação precoce da função do rim remanescente quando o escore de complexidade foi alto. Apesar de ser uma técnica mais complexa, nosso time reproduziu resultados obtidos nos melhores centros do mundo como Cleveland Clinic e Universidade da Califórnia”, afirma Dr. Tobias Machado.
A terceira apresentação foi a respeito da cirurgia vídeo endoscópica inguinal (VEIL), uma cirurgia desenvolvida pelo especialista em 2005 que, atualmente, tem sido aceita pela comunidade urológica como opção técnica menos invasiva do que a cirurgia aberta. “Em 2005, nós apresentamos no Congresso Americano de Urologia, a primeira experiência bem-sucedida com VEIL em pacientes com câncer de pênis. Em 2006, publicamos o primeiro estudo comparativo no Journal of Urology. A partir daí outros centros em todo o mundo começaram a reproduzir os mesmos resultados que nós apresentamos”, explica o Dr., que tem viajado muito apresentando a experiência e ensinando cirurgiões de todo o mundo a realizar essa operação.
Os dados mais recentes da colaboração multicêntrica latino americana mostram os resultados oncológicos com mais de 10 anos equivalentes a cirurgia aberta, com redução significativa das complicações. “Neste ano tive a honra de ser convidado pra escrever o capítulo do Campbells Urology, o livro mais importante da especialidade, juntamente com o Prof. Rene Sotelo, cirurgião de grande prestígio em cirurgia laparoscopica e Robótica”, comenta Dr. Marcos Tobias Machado.
A última conferência foi a respeito da correção de fístula vesico retal através de técnica minimamente invasiva transanal. A referida fístula é um trajeto anormalmente causado por cirurgia que comunica o reto com a bexiga. O paciente passa a ter saída de urina pelo reto e infecções urinárias, com piora significativa da qualidade de vida. Normalmente a correção desse problema é realizado por grandes incisões ou áreas de dissecção, com significativa morbidade.
Dr. Marcos Tobias apresentou sua experiência inicial reparando estas fístulas com material de minilaparoscopia introduzidos pelo reto do paciente. “Os proctologistas vêm utilizando esse acesso já a algum tempo para resseção de alguns tumores do reto. Nosso time, juntamente com uma equipe na Espanha, fomos os primeiros a realizar essa cirurgia para correção de fistula urinária com sucesso”, explica. A técnica é bastante complexa e necessita de treinamento especial, mas eficiente quando bem indicada e realizada.
“A morbidade dessa operação é mínima, e considero isso importante num paciente que já está debilitado e fragilizado por uma complicação cirúrgica prévia”, afirma. Desta visita foi gerado um acordo de colaboração entre as universidades, no sentido de publicações através de protocolos conjuntos. Saleh Saleh é o pioneiro na África na realização de VEIL, com mais de 20 casos realizados em dois anos. “Penso que a colaboração com ele e com a Mansoura será importante para sedimentar e divulgar cada vez mais a técnica mundialmente”, conclui Dr. Marcos Tobias Machado.