Diferente dos outros cânceres invasivos, o triplo-negativo é considerado um dos mais agressivos, pois as células cancerígenas crescem e se multiplicam rapidamente, com maior chance de reaparecerem em outras partes do corpo, ocasionando a metástase. Trata-se de um subtipo heterogêneo que exige uma sequência de tratamento complexa e individualizada. Neste contexto, membros da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) uniram seus conhecimentos científicos e chegaram a um consenso em relação ao manejo e tratamento desse tipo da doença, que segue numa crescente no país. Com as recomendações constantes neste consenso, muitas pacientes serão beneficiadas, com menos cirurgias de retirada de mama, diminuição de óbitos, entre outros.
De acordo com o Dr. Ruffo Freitas Júnior, membro e ex-presidente da SBM, além de coordenador do estudo, o índice de casos com estágio avançado tem crescido significativamente neste período de pandemia, cuja a demanda ficou represada devido ao isolamento social. Diante disso, a SBM percebeu a necessidade de definir a melhor prática para o tratamento desses casos, considerando alguns aspectos, tais como: recursos tecnológicos atuais, novos medicamentos e, especialmente, a personalização do atendimento, ou seja, cada caso é um caso e o atendimento deve ser cada vez mais personalizado. “Isso significa dizer que foi feita uma ampla discussão e imersão no entendimento desses casos, tendo como base diversas pacientes com perfis distintos. O objetivo foi traçar um caminho coerente e o mais assertivo possível para potencializarmos o atendimento e sermos cada vez menos invasivos”, afirma o coordenador.
Segundo ele, o consenso entre os mastologistas/pesquisadores é uma conclusão de como as práticas, quando aplicadas, podem mudar o quadro da paciente. Dessa forma, definiram algumas recomendações, dentre elas, evitar a indicação irrestrita de mastectomia bilateral (retirada das mamas). O mastologista explica que, ao seguir essas recomendações haverá uma série de desdobramentos positivos, tais como, a diminuição da morbidade relacionada à cirurgia de dissecção de linfonodo axilar desnecessária (por exemplo, linfedema), redução da morbidade e dos custos financeiros relacionados à mastectomia, redução de reoperações e mastectomias por margens exíguas etc.
Dr. Ruffo aponta ainda que ficaram pontos de controvérsia remanescentes e que serão necessários novos estudos e informações para esclarecê-los. Entretanto, considera que, com o estudo, ficou claro que a quimioterapia neoadjuvante deve ser indicada para quase todos os casos de tumores triplo negativo (exceto cT1a-bN0). Foi consenso também de que, quando indicada, a imunoterapia com pembrolizumabe faz parte do padrão de atendimento. “No geral, o estudo nos trouxe diretrizes que trará benefícios diretos para a paciente. Essa é uma das premissas da Sociedade Brasileira de Mastologia, ou seja, elevar o conhecimento científico dos mastologistas, potencializando a especialidade e, acima de tudo, levando melhores soluções para as pacientes”, conclui.